Carioca criada em Minas Gerais, Aline Calixto, cantora e compositora, se destaca em meio à nova geração do samba. Professora de Geografia, Aline abandonou as salas de aula para cantar samba com artistas como Monarco e Martinho da Vila e agora viaja pelo país divulgando seu primeiro disco.
— Desde cedo tive uma convivência muito forte com a música, apesar de ser a única da família na profissão. Consta em meus boletins escolares que quando terminavam minhas atividades eu já subia nas mesas e começava a cantar. E era um problema porque desviava a atenção do resto da turma, que logo queria entrar na ‘onda’ também (risos). Mas naquela época eu não pensava que poderia dedicar minha vida à música — fala Aline.
—Minha primeira composição musical surgiu aos nove anos de idade. Mas eram ‘aquelas coisas de criança’ ainda, historinhas de passeios, e algo que marcou o momento. Porém, desde aquela época o samba tinha uma representação muito grande para mim, porque ouvia os clássicos com o meu pai— comenta.
Aline compôs seu primeiro samba em 2003, aos 22 anos de idade, com um parceiro amigo da faculdade.
— Na época eu estudava geografia em Viçosa, interior do estado, e com esse meu samba participei e venci um festival universitário. A partir daí não parei mais de compor. E paralelamente aos estudos desenvolvia umas rodas de samba no ‘Bar do Leão’, em Viçosa, na companhia de outros amigos da universidade — lembra com alegria.
— Fazíamos esse movimento todas as quintas-feiras, apresentando música inéditas e clássicos do samba. Todos os parceiros que chegavam por lá, já iam mostrando os seus trabalhos. Foi um espaço muito bacana e importantíssimo para mim, dentro da minha formação musical — acrescenta.
— Essas rodas acabaram tomando uma abrangência muito grande, porque na época não existiam esses movimentos de samba por lá, e acabamos criando uma verdadeira ‘cena musical de samba’ na cidade, e todas as quintas-feiras as pessoas iam até lá curtir. E a movimentação ia a noite toda — continua.
Em 2006 Aline percebeu que sua carreira de cantora estava ganhando corpo e exigia dedicação exclusiva. À época já trabalhava como professora de geografia, o que fez durante dois anos.
— Abandonei tudo e fui viver de música. Em 2007, de volta a Belo Horizonte, onde resido até hoje, participei de um projeto que considero um marco em minha carreira, que foi uma temporada com três grandes nomes do samba. O primeiro show foi com Nelson Sargento, o segundo com o Monarco, e o terceiro com o Luiz Carlos da Vila — relata.
A partir daí o público, de um modo geral, passou a prestar atenção no seu trabalho, que até então estava concentrado somente no interior.
— Não pararam mais os convites para shows e participações. Recebi propostas para projetos importantes de Belo Horizonte, como: ‘stereoteca’, ‘música independente’, ‘cantoras daqui’. Em 2008 participei e fui vencedora do Concurso ‘Novos bambas do velho samba’, no Rio de Janeiro, em uma das casas mais tradicionais da Lapa, o Carioca da Gema — conta.
— Como prêmio fiz uma temporada de três meses na casa, o que acabou rendendo um contrato com uma gravadora que resolveu produzir o meu primeiro CD. Considero que um disco é um registro muito importante para o artista, e um dos principais materiais de divulgação do seu trabalho — acrescenta.
Sambista do velho e bom samba
Aline se declara uma sambista de coração, amante do samba tradicional, e diz que ‘samba é samba em qualquer parte do país’.
— Digamos que maioria da minha produção de composição é samba. Não componho somente samba, mas ele é o carro chefe do meu trabalho, das minhas inspirações. Vejo-o como algo que não tem fronteiras, porque é samba em todos os estados brasileiros. Ele tem variações sim, de acordo com a vivência e com os valores culturais do povo de cada região, mas é, em sua essência, o nosso samba, a música do nosso povo brasileiro — explica Aline.
— O que acontece é que em determinadas regiões, ele se apropria de alguns elementos presentes na cultura local. Por exemplo, o samba do recôncavo baiano tem a presença forte da viola, que por ser um instrumento tradicional naquela região, acaba sendo utilizado ou o influenciando; já o samba mineiro tem a presença dos batuques, das percussões, e assim por diante. Mas gosto de ficar rotulando: samba baiano, samba carioca, samba paulista, samba mineiro, etc. — acrescenta.
Atualmente Aline está trabalhando ‘duro’ na divulgação do seu disco através da internet e de shows pelas capitais e interiores.
— Consegui o patrocínio para doze shows pelo Brasil, e vamos seguindo em frente, tralhando com muito afinco para chegar onde estamos almejando. No final de 2009 recebemos o prêmio de melhor CD do ano pela Associação Paulista de Críticos da Arte, e isso foi um incentivo muito grande para nós. Tenho uma banda que me acompanha desde o início da minha carreira, e sinto que vamos nos fortalecendo, crescendo juntos — fala.
— Este ano estou participando de projetos muito bacanas e igualmente importantes. Em um deles tenho a honra de dividir uma faixa com o Martinho da Vila no CD produzido por ele em homenagem ao Noel Rosa. Trabalhos assim mostram que o caminho pode ser difícil, mas o retorno nos impulsiona e mostra que estamos no caminho certo — conclui Aline, acrescentando que o CD de Martinho da Vila deverá ser lançado em breve.