Respeitável leitor
Meu nome é Hasan Suba, sou o redator chefe da revista turca Kerbela, e neste momento que me dirijo a você me encontro em greve de fome, há 25 dias, em um pequeno parque de Bruxelas. Aqui farei jejum durante 50 dias e por agora me faltam mais de três semanas.
Por que, dirá você?
Porque os presos políticos de meu país se encontram em greve de fome há 1.180 dias alternados num encadeamento fatal de mutilações e mortes provocadas por carrascos em camisas brancas.
O Estado opressor que castiga a Turquia edificou cárceres do tipo F com o objetivo de impelir os presos políticos a renunciar à sua personalidade, a seus ideais e se submeterem ao Estado. E é precisamente por lutar contra o suplício imposto mediante o isolamento carcerário e a alteração sensorial que estes presos observam seu jejum até à morte, desde o dia 20 de outubro de 2000.
No dia 19 de dezembro de 2000, o exército turco interveio simultaneamente em 20 cárceres para pôr fim a essa resistência pacífica. O balanço desses ataques, realizados com o emprego de bombas químicas, resultou numa terrível matança nas prisões: 28 mortos, cerca de mil feridos e seis mulheres queimadas.
Estas atrocidades foram corroboradas pelas autópsias. Depois desse massacre, que nos faz recordar das práticas nazistas, os presos políticos foram deportados para os cárceres de tipo F. Desde então, do fundo de suas celas, em uma solidão absurda, mantêm inexoravelmente seus jejuns até o término do castigo: a morte.
Entrada em seu quarto ano, essa resistência à tortura pelo isolamento custou a vida de 107 detentos e seus parentes. Além de 500 presos que foram devolvidos inválidos como resultado das práticas de alimentação forçada. Essa resistência, hoje, é realizada por oito grevistas de fome, provenientes de dez grupos de voluntários. Estão em greve de fome há exatamente três meses e cai sobre eles um desenlace fatal.
Apesar desta matança, o Estado turco se nega a assumir qualquer compromisso com os presos, que pedem unicamente que se suspenda o regime de isolamento. Ignorando o problema, o Estado não faz mais que agravar a situação e se contenta em ignorá-los: impõe o obscurecimento total da informação para que estes presos morram em absoluto silêncio.
Eu estou em greve de fome agora para que cessem o isolamento da censura e o martírio aos presos políticos. Ponho, assim, minha saúde e minha vida em perigo, do mesmo modo que outros simpatizantes dos presos políticos que observam jejum com duração de 50 dias em Berlim, Londres e Viena.
Por favor, escute este grito de dor e ajude-nos a reproduzir a informação e difundir a realidade dos presos políticos na Turquia, por todos os meios da imprensa. Ponhamos fim às prisões tipo F.
Assim como você e os presos políticos que são sacrificados, eu quero a vida, mas quero vivê-la com dignidade. Agora, acontece que estou cansado de escutar os lamentos de agonia dos cárceres tipo F.
Espero que possa considerar minha petição e derrubar os “muros” da censura.
Atenciosamente o saúdo,
Hasan Suba
Redator chefe da revista de novo tipo Kerbela.
Janeiro de 2004
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