Câmara de vereadores de Redenção lotada pelos camponeses
que novamente denunciaram operação "Paz no Campo"
Redenção, Pará – No dia 15 de maio último foi realizada a segunda Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará (Alepa) sobre a chamada "Operação Paz no Campo" ordenada pela governadora Ana Júlia Carepa do PT, no dia 19 de novembro passado, que atacou, prendeu e torturou barbaramente os camponeses pobres que tomaram a fazenda Forkilha. [veja mais em AND 40, fevereiro de 2008: Audiência pública desmascara "Operação Paz no Campo"].
Esta segunda audiência aconteceu na Câmara de Vereadores de Redenção e contou com a presença de cerca de 450 camponeses das regiões de Santa Maria das Barreiras, Conceição do Araguaia, Redenção, Cumaru do Norte entre outros municípios do sul do Pará, que lotaram o salão principal e os corredores da Câmara de Veradores, onde fixaram suas faixas pedindo justiça e terra, e onde levantaram a bandeira da Liga de Camponeses Pobres.
Compuseram a mesa, o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alepa, deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA) — autor dos pedidos das audiências para apurar as denúncias de tortura contra os camponeses —, a deputada Tetê Santos (PSDB/PA) — também membro da CDH —, o vice-prefeito de Conceição do Araguaia; a representante da Secretaria de Justiça do Estado do Pará, Antônia Rego das Neves; o advogado da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), Rivelino Zapellon; o defensor público que acompanhou todos os depoimentos dos camponeses agredidos e torturados , o representante do Sinsep/PA, Geneval Rodrigues do Nascimento; o representante do Sindicato dos professores estaduais, José Rodrigues; a presidente do Cebraspo, Raquel Scarlatelli; o representante do senador José Nery (Psol/PA), Ribamar Ribeiro Júnior e o representante do Núcleo de Advogados do Povo — NAP, Felipe Nicolau.
Em nome dos camponeses presentes, falou o coordenador da Liga dos Camponeses Pobres, Luiz Lopes. Estiveram presentes também à audiência, os representantes da polícia militar e da polícia civil do PA.
Os camponeses subiram à tribuna da casa para reiterar todas as denúncias de torturas praticadas pela polícia que eles já haviam feito anteriormente. Eles falaram das perseguições e das ameaças contínuas de pistoleiros e policiais sem se intimidarem com a presença dos representantes das polícias militar e civil e do latifúndio que ocupavam várias dependências da câmara.
Muitos camponeses, mesmo afirmando ter a consciência de que poderiam sofrer represálias por estarem ali, denunciaram os policias torturadores, citaram apelidos e características particulares dos agressores, criticaram a omissão das autoridades do estado e a conivência da própria polícia. Em muitos momentos da audiência eles gritavam: "A Forkilha é nossa!".
A presidente do Cebraspo manifestou sua irrestrita solidariedade aos camponeses pobres em luta pela terra e repudiou as prisões arbitrárias, às perseguições e torturas praticadas contra aqueles que ocuparam a fazenda Forkilha, denunciando a repressão crescente do Estado contra o movimento camponês em toda a região diante dos interesses dos latifundiários e do capital financeiro em manter o monopólio da terra e a exploração das riquezas imensuráveis da Amazônia.
Ao apresentar o resultado do inquérito policial, o representante da PM causou grande indignação e revolta no plenário e na mesa. A conclusão deste inquérito é de que, pasmem, não aconteceu nada na Forkilha, nada do que os camponeses denunciaram ocorreu porque nada foi comprovado que comprometa a ação da polícia. Disse que o policial identificado como "Caveira" não foi encontrado apesar de todas as diligências da polícia. Apesar de todos os reiterados e contundentes depoimentos, disse ele, "não existem provas contra a polícia".
O defensor público comunicou que havia um problema com o inquérito porque nos exames de corpo-de-delito feitos, havia apenas a assinatura de um, quando a lei exige a assinatura de dois médicos legistas. O representante do NAP por sua vez acusou a cumplicidade da polícia por aceitar o laudo de apenas um legista que, mais grave ainda, é irmão do latifundiário grileiro Jairo Andrade.