Continua a política de ataque sistemático e a tentativa de destruição por parte do governo dos direitos trabalhistas, que foram duramente conquistados ao longo de décadas de lutas do operariado brasileiro.
Além dos mais baixos salários do mundo, essa política objetiva reduzir mais ainda a remuneração e completar a retirada de todos os direitos, como a regulamentação da jornada de trabalho, férias, 13º salário, FGTS, etc. Usando o discurso do fortalecimento do contrato coletivo, livre negociação, aumento de competitividade, entre outros, o governo esforça-se, principalmente com a proximidade do período eleitoral, através de intensa propaganda, para assegurar que está tudo indo muito bem, que essa é a política correta. Não se fala do desemprego de 11.454 milhões, considerado o maior índice do mundo (jornal O Dia-29 de maio), da queda acentuada do PIB, desaceleramento da produção industrial consecutivo, a queda das importações sem aumento das exportações, juros de 18,5%,etc. Nesse quadro o sindicalismo amarelo faz de tudo para cumprir o seu papel, o 1º de maio e as recentes campanhas no ABC foram exemplo desse esforço. As centrais sindicais se esmeram e se desafiam para levar mais longe seu papel de cúmplices dessa política. Estão empenhadíssimos nisso. O ano eleitoral expõe a incrível atração pelo poder dessa tralha.
A Força Sindical, financiada diretamente pelos patrões, disputa em vantagem com a CUT às verbas do FAT, com a qual o governo vai sevando o oportunismo e compensando a conciliação dessa malta.Essas centrais colocam em primeiro lugar seus projetos de poder. Um mais claro e descarado, que se apóia na aliança com o ministro Dornelles e os empresários mais ligados ao capital internacional e ao projeto do governo.Outro com seu projeto oportunista de eleger Lula e aplicar a mesma política, mas de forma diferente, mais moderna, como afirmou Delfim Neto na revista Carta Capital "fazer diferente as mesmas coisas".Os acontecimentos recentes no ABC expressam essa realidade.
No 1º de maio, na força sindical, foram sorteados apartamentos, carros, dinheiro e prêmios diversos com a presença de padres, ministros, pagodes, "mulheres" etc, diante de uma multidão, principalmente de desempregados, a maioria havia passado o dia sem comer, inclusive foi noticiado que um dos ganhadores "desmaiou ao ser premiado". Isso tudo ocorreu em São Paulo, capital, onde metade da população economicamente ativa está desempregada.Pesquisa recente revelou que 51,2% responderam estar desempregados, procurando emprego, fazendo bico, etc.
Em São Bernardo, a CUT, após a campanha na Woksvagem, alardeia e faz propaganda da sua "vitória", com a "conquista do banco de horas". Isso, seguido do discurso da nova era do "movimento sindical propositivo", moderno e preparado para "uma participação crítica e criativa no novo poder".
Mas a opinião dos trabalhadores é outra:
Foi unânime entre os entrevistados a afirmação de que "pra nós isso de banco de horas não presta".
Como afirmam dois trabalhadores da estamparia, com mais de dez anos de fábrica: "a definição é totalmente da empresa e em nenhum momento atende ao trabalhador. Ela define tudo conforme os seus interesses, o trabalho no fim de semana, o aumento do numero de horas por dia, etc. Agora, de acordo com a empresa, estão compensando em horas a redução da produção de janeiro, fevereiro e março.E a gente não recebe essas horas trabalhadas a mais porque, segundo a empresa, vão para o banco de horas!".
"Vamos colaborar"
"E quando tem assembléia, jogam sempre alguma coisa junto, como oferecimento de participação nos lucros, adiantamentos, abonos, só pra enrolar a gente, e vai passando a proposta da empresa. Quando é de mobilização e greve, repetem uma porção de vezes que "o peão é responsável, o peão é que decide, que a responsabilidade de sustentar a greve é do peão", reclama o trabalhador.
Isso repetido muitas vezes é mais pra causar medo de fazer do que preparar a greve de fato. além de tentar isentar o sindicato no caso das demissões. Outro entrevistado observa: "a empresa ameaçou mandar 3.000 para a rua no início do ano, com essa ameaça, quando desempregou 700, o sindicato procurou dizer que fez o que era possível. È assim que vão levar a produção do Gol para Taubaté, onde pretendem gastar menos com os trabalhadores e deixar só 3.000 aqui, no total!".
Mais um operário se aproxima, entra na conversa e acrescenta: "se fracassar o projeto do Polo, em que a Wolks está apostando, será demissão geral, porque já estão encerrando a produção da Kombi, Santana, Quantum, etc…". Dois trabalhadores, terceirizados da manutenção hidráulica e elétrica, afirmam: "lá dentro corre muita conversa de demissão. Pra esse projeto do Polo, tem muito contrato temporário e além disso, já botaram uns 400 robôs na linha de produção.Veio até com a Adriane Galisteu pra fazer propaganda da moderna produção do Polo".
Um senhor que, com certeza está entre os mais antigos operários da fábrica, ponteador de solda, com mais de 25 anos como metalúrgico e 15 de Wolks, afirma: "O peão topa a luta contra isso tudo que tão fazendo aí, quer ir até o fim, mas não confia que vai dar certo. O sindicato chega botando medo e parece que tá mancomunado com a empresa, apresentando as propostas dela…Isso aqui já foi muito melhor de luta". "A fábrica mandou aqueles 700 embora e nada aconteceu. Naqueles dias mandou 1.500 ficarem em casa e depois demitiu 700, parecendo que era tudo preparado. Já tá a mesma conversa de novo". "Eu mesmo estou com a minha função bem diminuída por causa dos robôs. Daqui uns dias não tem mais serviço de solda".
Os mais velhos dizem: "tem que fazer greve e ir até o fim com a luta. A gente tá ameaçado mesmo! Se osindicato tivesse firmeza, o peão ia à luta e a coisa pra frente…"
Por aí se vê de que são capazes os expoentes do sindicalismo moderno, que afirmam que a "época de greves acabou". Esse é o novo sindicalismo de resultados.
Já na assembléia com os operários da Daimler Crysler de S. Bernardo do Campo, as centrais sindicais apresentaram um pacote de ilusões de classe aos presentes, que contemplava, em primeiro lugar, fazer um pedido ao FHC e em segundo, negociar com a matriz da montadora, na Alemanha, já que Marinho, diretor da Força Sindical, tem uma predileção toda especial de visitar a sede do Império. Luta, – que é bom, ora! – isso é coisa do passado. E, tome mais 700 no olho da rua.
Esse é o papel desempenhado pelas centrais sindicais, uns mais abertos no seu descaramento, outros mais sutís, procurando um discurso mais adequado aos "novos tempos" e "as novas exigências".A cumplicidade, a traição e o enfraquecimento da luta da classe.