Chacina na Cidade de Deus é guerra contra o povo

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Chacina na Cidade de Deus é guerra contra o povo

Durante a segunda quinzena de novembro, a Cidade de Deus (CDD), favela localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi marcada pelo absurdo crime de execução e esquartejamento de pelo menos sete homens cometido pelos aparatos de repressão genocida do velho Estado. A chacina aconteceu após uma invasão da comunidade pelas tropas da PM nos dias 18 e 19 de novembro, ocasião em que ocorreu a queda de um helicóptero do Batalhão de Choque da PM – sem causas determinadas até o fechamento desta edição –, desencadeando uma odiosa operação de guerra contra a população. As agressões se iniciaram já na noite de 19 de novembro, quando até mesmo os policiais dos 18º e 31° Batalhões da PM que estavam de folga foram convocados para tomar parte na operação que resultou na bárbara chacina.

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Aparato repressivo do velho Estado promove massacre contra o povo pobre e negro na CDD

Os corpos dos sete moradores foram encontrados sem os seus pertences em uma mata da favela. Segundo moradores e parentes, alguns estavam nus e decapitados, outros, com membros decepados, com claros sinais de execução: vítimas baleadas na nunca e esfaqueadas. Foram cruelmente assassinados:  Leonardo Camilo da Silva (30 anos), Marlon César Jesus de Araújo (22 anos), Renan da Silva Monteiro (20 anos), Leonardo Martins Silva Júnior (que completaria 21 anos no dia 23/11), Rogério Alberto de Carvalho Júnior (34 anos), Robert Souza dos Anjos (24 anos) e Enzo João Beija da Silva (17 anos).

Os familiares denunciaram o crime bárbaro: “Encontrei meu esposo com a perna decepada, quatro facadas e dois tiros na nuca”, relatou à Agência Brasil Viviane Gonçalves, que era casada e tinha uma filha com Rogério Alberto de Carvalho Júnior. Outros relatos dos familiares concedidos ao monopólio de imprensa reafirmam a ação genocida da polícia: “O BOPE entrou pela mata e executou todos eles. Não interessa o que eles faziam, mas não podiam ter morrido desse jeito”, afirmou o pai de Leonardo Martins. “Se eles estavam trocando tiro com a polícia, então cadê as armas? Isso é mentira. Eles foram executados”, garantiu a mãe do jovem Marlon de Araújo.

Familiares denunciam ainda que, antes de serem mortos, as vítimas tiveram seus pertences roubados pelos policiais, conforme relato da esposa de Rogério Alberto de Carvalho Júnior a veículos do monopólio de imprensa: “Eles (policiais) levaram tudo: celular, relógio, anel, cordão, documentos, tênis, tudo”.

No dia 23 de novembro, páginas da internet denunciaram a postagem da página do facebook “Orgulho de ser Policial” em que é exibida uma selfie dos PMs comemorando a chacina. Na imagem aparecem 8 policiais e, entre eles, um jovem algemado e de cabeça baixa, que, segundo a denúncia, foi reconhecido pela família como sendo uma das vítimas. A postagem ainda apresenta os dados de “18 mortos e 14 feridos a bala, dois em estado grave no Lourenço Jorge”(em referência ao hospital municipal localizado na Barra da Tijuca), números estes bem superiores aos oficiais apresentados pelas forças de repressão.

Nos dias que se seguiram, dando continuidade à campanha de cerco e aniquilamento contra o povo, a comunidade foi ocupada pela Polícia Civil numa operação com 400 policiais, por tempo indeterminado. Além disso, uma série de outras incursões foi levada a cabo, se estendendo inclusive à favela da Maré, na Zona Norte do Rio, com pelo menos mais quatro mortes. Essas invasões e megaoperações policiais tiveram a participação das tropas de choque da PM, do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e da Polícia Civil, contando também com o aval do judiciário por meio da juíza Angélica dos Santos Costa, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, que autorizou a invasão das casas de moradores pelos agentes da polícia fascista.

A tia do jovem Enzo João teve a casa destruída pelos PMs e afirmou:  “Eles não estão respeitando ninguém. Entram arrombando a porta, quebram nossos móveis, comem o que tem na geladeira. Mas fazer o quê? É a minha palavra contra a deles”, em declaração publicada no site de notícias UOL.

O ministro da Justiça do gerenciamento Temer/PMDB, Alexandre Moraes, em sua sanha fascista por incrementar ainda mais o aparato repressivo mobilizado contra o povo, disponibilizou mais 500 soldados da Força Nacional de Segurança – já cedidos desde a última semana para repressão às manifestações contra as medidas antipovo do gerenciamento estadual.

No dia 24 de novembro, moradores da CDD percorreram as ruas do bairro em manifestação, erguendo faixas e cartazes contra a violência policial e as invasões e arrombamentos arbitrários de residências legitimados judicialmente.

O monopólio de imprensa, por sua vez, cumprindo o vil papel de criar a opinião pública favorável à legitimação de todo tipo de crimes e arbitrariedades contra o povo, tem dirigido seus holofotes na já costumeira campanha de exaltação das “forças de segurança pública” e na criminalização do povo, se apressando em condenar qualquer esboço de atitude de resistência dos moradores. Ora, se barricadas são frequentemente erguidas para dificultar a invasão das forças de repressão na comunidade, acaso não ocorre que a ação genocida destas são motivos razoáveis para tal?

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Manifestação de moradores da Cidade de Deus

Esse avanço da violência contra as massas populares nas favelas se dá no exato momento em que o gerenciamento estadual passa por uma grave crise econômica e fiscal, valendo-se de pacotaços antipovo – a exemplo do gerenciamento federal – como saída para aumentar as receitas do estado e preservar as condições de regalia das classes dominantes.

O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) manifestou, em nota publicada no blog da entidade, repúdio veemente à chacina. Reproduzimos a seguir alguns trechos dessa nota intitulada Rio de Janeiro – Genocídio e execuções na cidade de deus:

“A execução dos 7 jovens na Cidade de Deus (…) é só mais uma amostra do modus operandi da polícia militar após o falecimento de algum membro de sua corporação. Independente de fazerem parte ou não da venda do varejo de drogas, de terem ou não passagem pelo sistema penitenciário, nada justifica a tortura e execução sumária sem direito a defesa que esses jovens foram submetidos. Tais práticas, que aliás são consideradas crimes de guerra, são recorrentes em ações das polícias militares e seus batalhões especiais – leia-se grupos de extermínio oficiais – nas favelas e periferias do país. (…)

Ainda que os porta-vozes dos agentes da repressão e o monopólio da imprensa tentem ludibriar a população (…), o depoimento dos familiares e moradores da região é muito conciso ao relatar que o corpo dos jovens foram encontrados com tiros na nuca, marcas de facadas e deitados de bruços com as mãos atrás da cabeça, em clara posição de rendição. Segundo os moradores da região, ainda há a suspeita que o número de mortos seja maior.

Convocamos a todas as entidades democráticas e progressistas a repudiar veemente mais uma execução de jovens pobres e negros na cidade do Rio de Janeiro, na verdade mais um genocídio perpetrado pelos agentes da repressão a soldo desse Estado burguês-latifundiário que, como serviçal do imperialismo, aplica a política de extermínio como ‘Guerra de Baixa Intensidade’ contra o povo pobre e sua juventude. Nos solidarizamos com os familiares e amigos das vítimas e defendemos seus direito de se organizar para lutar contra a repressão policial e em defesa da vida de seus filhos e filhas.

Abaixo o genocídio da juventude pobre e negra!

Chega de chacina, polícia assassina!”.

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