População de Aysén bloqueia a entrada do povoado
Em Aysén, sul do Chile, após um mês de protestos populares radicalizados e enfrentamentos com as forças policiais, os supostos dirigentes do movimento aceitaram as propostas feitas pelo Estado chileno. Mas o povo, em especial os pescadores, continua vigilante e promete exigir o cumprimento das promessas.
O levante popular, iniciado em 07/02, começou após a reivindicação dos pescadores artesanais de aumento na cota de pesca e um salário mínimo regional que atendesse ao custo de vida local. Ao apelo dos pescadores, se somaram demandas por melhorias na saúde, educação e redução dos preços dos combustíveis.
O que os protestos em Aysén revelaram foi o histórico de abandono do governo chileno com essa fria e remota região do país. Além disso, demonstrou como o governo trata as reivindicações populares, lição aprendida durante o duro regime militar no país. Também mostrou que, em que pese a repressão, o povo chileno está preparado para lutar.
Manifestações de apoio a Aysén foram realizadas em todo o país e também no exterior.
Em 24 de março, o acordo entre os supostos dirigentes do movimento e o governo de turno foi selado. Os pescadores não participaram da reunião e retiraram-se da mesa de negociações, apesar de afirmarem que ainda apóiam o movimento. Na reunião, foi assinado um pré-acordo, no qual o governo assumiu, a sua maneira, algumas das demandas do movimento:
- À demanda de 20% de redução no preço dos combustíveis, o governo prometeu pagar 70% dos custos do transporte à região;
- À demanda de instalação de uma universidade pública e gratuita, o governo prometeu aumentar as bolsas e instalar uma sede universitária;
- À demanda do subsídio para a lenha, o governo prometeu criar uma espécie de bolsa miséria, em versão limitada. Os pescadores contestaram com veemência, pois o inverno na região dura 9 meses e a lenha é a principal combustível para a calefação e a cozinha.
- À demanda de um salário mínimo regional de acordo com o custo de vida local, que é 35% maior que no resto do país, o governo prometeu criar uma zona franca na região.
Ainda existem outras demandas que não foram negociadas, como o desprocessamento de 22 pessoas que participaram dos protestos. Para processá-los, o governo utilizou a Lei de egurança Nacional – a mesma desde Pinochet, e que atualmente é utilizada contra os mapuches que lutam por seus territórios.
Cronologia da revolta
25/03: Fim dos protestos
23/03: Início das mesas de negociação com o governo, em Santiago
19/03: A população de Aysén voltou a erguer barricadas e a fechar as entradas de acesso à comuna, impedindo a entrada da polícia. Cerca de 300 policiais estavam na região.
Em Coyahique, o povo tentou impedir a passagem de policiais que se dirigiam a Aysén, 20 pessoas foram presas e 12 ficaram feridas.
14 e 15/03: Carabineros (como são conhecidos os policiais no país) atacaram a cozinha coletiva; invadiram casas e retiraram os moradores, além de agredir generalizadamente à população.
15/03 : No povoado de Pedro Aguirre, próximo a Aysén, um ônibus foi queimado. A ação foi obra do povo que, revoltado após o rompimento das negociações, decidiu responder à postura do governo e à repressão policial. Quando o ônibus e o carro-pipa foram queimados, segundo informações da Rádio Bio-Bio, cerca de 3 mil pessoas – praticamente todo o povoado – estavam reunidas. Um helicóptero policial também foi alvo da ira popular.
15/03: Interrupção da mesa de negociação, iniciada dias antes, entre o movimento e o Estado chileno.