Choque de Paes: A ‘ordem’ é desaparecer com os pobres

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Choque de Paes: A ‘ordem’ é desaparecer com os pobres

Nas ruas do Rio de Janeiro segue vigorando o choque de ordem fascista de Eduardo Paes, com suas ações truculentas. Trabalhadores pobres têm suas casas reduzidas a pó, enquanto outros milhares são impedidos de trabalhar. Em junho, a Guarda Municipal iniciou a fase de testes das novas armas "não-letais" compradas por Eduardo Paes para incrementar a repressão.

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Guardas municipais testam as novas armas

Aparelhando torturadores

No dia 25 de maio, foram exibidas as novas armas que serão usadas pela Guarda Municipal no "laboratório de combate aos pequenos delitos", como classificou Eduardo Paes. O que inclui trabalhar sem patrão, dormir na rua, ou morar em focos da especulação imobiliária. São pistolas e lançadores de balas de borracha com alcance de 50 metros, pistolas Taser de descargas elétricas e frascos de spray de pimenta.

O presidente da Comissão de Segurança da OAB-RJ, advogado José Carlos Tortima, alega que o uso dessas armas pela Guarda Municipal é inconstitucional.

— O artigo 144 da Constituição Federal define os órgãos que podem atuar na segurança pública e a Guarda Municipal não está lá. As guardas municipais são apenas para segurança patrimonial. Eles não podem revistar ou prender suspeitos. Apenas podem prender em flagrante, como qualquer cidadão — elucida o advogado, que intera — o equipamento pode ser fatal para um cardíaco que receba o choque ou o alérgico atingido pelo spray de pimenta. A bala de borracha, dependendo de onde atingir a pessoa, também pode matar ou causar danos irreversíveis — alerta.

Trabalhadores roubados

Durante partida realizada no Maracanã no dia 23 de maio, agentes da prefeitura realizaram uma operação nos arredores do estádio para reprimir camelôs, moradores de rua e guardadores de carro. O saldo total de mercadorias roubadas dos trabalhadores foi de 160 latas de cerveja, um carrinho, 18 latas de refrigerantes, 14 garrafas de água mineral, duas mochilas e sete energéticos.

No dia 28 de maio, uma operação do "choque de ordem" conjunta com a Secretaria Municipal de Obras, Guarda Municipal, Light, Subprefeitura da Zona Sul e Polícias Civil e Militar, foi à Rocinha e derrubou 48 barracas metálicas usadas como local de trabalho por dezenas de camelôs. Além disso, 644 DVDs, 26 chaveiros, 11 bolsas, três bonecos, um amplificador, um aparelho de DVD e um rádio foram roubados dos trabalhadores.

Na manhã do dia 18 de maio na Central do Brasil, camelôs foram duramente reprimidos por agentes da prefeitura que realizaram o "choque de ordem" na região. Barracas, materiais eletrônicos, DVDs, alimentos e roupas foram roubados dos trabalhadores por guardas municipais que participavam da operação.

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Manifestação contra “Choque…” na Central do Brasil

E assim como os vendedores ambulantes, a população de rua continua sendo perseguida. No dia 29 de maio, 49 pessoas foram recolhidas das ruas do Catete e do Flamengo, 45 adultos, quatro crianças, uma delas um bebê de colo. Estimativas da própria prefeitura calculam que de janeiro a 15 de maio 730 crianças e cerca de 2.400 adultos foram recolhidos nas operações.

Demolições continuam

Como AND publicou em sua última edição, as demolições têm sido outra dor de cabeça para quem mora em bairros pobres como a Rocinha, o Terreirão (Recreio dos bandeirantes), o Chapéu Mangueira, entre outros.

Na manhã do dia 19 de maio, agentes da prefeitura, na companhia de PMs e policiais civis, foram à favela Rio das Pedras, zona oeste da cidade, e demoliram dois prédios, cada um com cinco andares e dez apartamentos, quase todos ocupados por famílias.

Até agora já foram 148 ações de demolição desde o início do "choque de ordem", 83 somente na região do Pontal, próximo ao Recreio dos Bandeirantes. Muitos moradores estão perdendo seus imóveis e outros lutam para não ter o mesmo destino. Dentre os trabalhadores que moram no bairro e já foram notificados está Flávia Machado. Ela conta que a qualquer momento a liminar que mantém a posse do apartamento pode ser caçada, permitindo sua remoção.

— Um belo dia eu acordo às 5h da manhã e vejo um homem com uma arma na laje de um prédio em frente, juntamente com dois guardas municipais. Eu perguntei o que estava acontecendo e ele disse "isso aqui é o choque de ordem e nós vamos demolir tudo". Quando cheguei na rua, me depararei com uma operação de guerra. Mais de 100 pessoas e muitos carros. Polícia Civil, Militar, Guarda Municipal, prefeitura e outros órgãos. Parecia a ditadura militar. Também estavam o secretário de Ordem Pública, o subprefeito da Barra e vários outros engravatados andando atrás deles, todos com ternos que devem valer o preço da minha geladeira. Pessoas que certamente nunca moraram numa casa humilde. Estão dizendo que meu prédio é irregular, mas essa região toda é irregular. E aí como é que faz? Vai tirar todo mundo? Disseram que a prefeitura não ia dar casa para ninguém e que eu fosse morar com a minha mãe, ou senão em um abrigo público — relata Flávia, muito angustiada.

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Comércio é demolido no Pontal

Elizabete Vieira, de 73 anos, no dia 30 de abril teve seu apartamento na Rua 2W 443, no Pontal, destruído por agentes da prefeitura. Ela conta que não pôde nem tirar todos os seus pertences antes da demolição.

— Botaram parte dos meus móveis na calçada e o restante foi destruído. Mas o que mais doeu foi terem sumido com as fotos dos meus sete filhos ainda pequenos. Às vezes eu vasculho os escombros, na esperança de resgatar as imagens. Sinto-me humilhada. Tinha consciência de que só havia documento de posse do terreno. Mas lutaria pela regularização depois. Não precisavam destruí-lo — lamenta a senhora.

E o povo resiste

Já nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, além dos muros e da unidade "pacificadora" da PM, comerciantes foram notificados pela prefeitura e estão prestes a ter seu local de trabalho destruído.

Um dos moradores que lideram a resistência contra o "choque de ordem" e outras medidas fascistas das gerências de turno, é o vigilante André Luiz de 32 anos.

— A maioria das pessoas que moram nesses morros da zona Sul, vive do mercado informal, principalmente da praia. O nordestino, quando vem pro Rio de Janeiro, sabe que não tem emprego, mas ele sabe que tem trabalho. E se a Prefeitura está sufocando o trabalho informal, o nordestino vai preferir ficar perto da família a passar fome no Rio de Janeiro. O "choque de ordem" chegou aqui e disse que a maior parte do comércio do morro foi construído em logradouro público, ou seja, calçada. Mas o que é calçada no morro, se nós somos vistos pelo Estado como invasores? Existem pessoas que têm um comércio aqui há 15 anos. A gente exige que as barracas fiquem onde estão. É inadmissível que eles derrubem tudo sem direito a defesa, nem ao menos indenização. Então, juntamente com a defensoria pública, o núcleo de terras, nós estamos tentando fazer o registro de posse, pra que tudo que as pessoas gastaram com aquele imóvel seja ressarcido — conta André.

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