Grande apreciador de Waldir Azevedo, o chorão Ausier Vinícius é o criador do Pedacinhos do Céu, espaço que promove encontro entre gerações de amigos do gênero, recebe visitas de artistas importantes, e é hoje uma referência do choro nas noites de Belo Horizonte. Mineiro de Peçanha, filho de um integrante da banda da cidade, o cavaquinista Ausier tem a música como algo muito presente em sua trajetória de vida, e se tornou um perito quando o assunto é Waldir, recebendo de Dona Olinda, sua viúva, a incumbência de responder sobre esse importante músico carioca.
— Pedacinhos do Céu é um bar que criei para homenagear o Waldir Azevedo, inclusive foi inaugurado, em 1996, por dona Olinda Azevedo, falecida no ano passado. Além da homenagem, a intenção era trocar informações, partituras, gravações, não só do Waldir, mas do choro em geral, e promover rodas. Tudo muito informal — conta Ausier.
— Porém, pouco tempo depois o Pedacinhos já tinha passado a fazer parte do calendário da cidade, uma referência nas noites, naturalmente foi tomando esse caráter de cultural aqui em Belo Horizonte, e tive que fazer algo mais profissional. Por isso criei o grupo da casa, do qual sou um dos integrantes, dando o mesmo nome, ficando o Pedacinhos espaço e o Pedacinhos grupo — explica.
— O bar é um lugar muito gostoso e familiar: tem criança que vai com os pais e tem mãe de amigo meu, de 90 anos, que frequenta também. Um ambiente simples e colonial, que tem palco, mesas e é decorado com caricaturas e fotos de artistas que estiveram aqui, como Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Zé da Velha, Armandinho, uma turma bem bacana — diz.
O Pedacinhos conjunto é um grupo de base, com violão de 7 cordas, bandolim, pandeiro e cavaquinho.
— E quem chegar dá uma canja conosco, o que acontece com músicos do Brasil inteiro que passam por aqui. Grandes craques, como Altamiro Carrilho, Ademilde Fonseca e grupo Época de Ouro. E tem o pessoal de fora: um bandolinista, um cavaquinista, e o grupo Tico-Tico, todos franceses que amam e tocam o choro. Acabamos fazendo um grande intercâmbio: mando partituras para lá, eles vêm aqui — comenta Ausier.
O nome vem da música Pedacinhos do Céu, uma composição que Waldir fez em homenagens as duas filhas: Miriam e Marli.
— No caso, as meninas eram os pedacinhos do céu para ele. Tanto que dona Olinda não gostava quando alguém dizia ‘Pedacinho do Céu’, se referindo à música, porque eram os pedacinhos. Mas Míriam faleceu aos dezenove anos, em um acidente de carro. Esse fato o afetou bastante — conta Ausier.
Devido à grande admiração pelo trabalho de Waldir Azevedo, Ausier se aprofundou nas informações sobre seu trabalho.
— Dona Olinda e sua filha Marli Azevedo me passaram muitas informações sobre ele, e outras consegui pesquisando. Me interessei e aprofundei tanto que dona Olinda dizia para quem queria saber informações sobre ele: ‘liga para o Ausier, que ele sabe tudo’. Ela foi uma pessoa muito importante na minha vida — declara Ausier, acrescentando que atualmente seu contato é com Marli.
Esforço e amor pela música
Ausier começou a aprender o cavaquinho com sete anos de idade, abrindo mão de tocar na banda da cidade.
— Meu avô era clarinetista da banda de música da minha cidade, Peçanha, Minas Gerais. Ele tentou me infiltrar na banda, tocando trompete, mas não me adaptei. Ele percebeu que meu negócio era instrumentos de cordas, e me deu um cavaquinho, que não é um instrumento usado nessas bandas. Uma pena, porque as bandas do interior são excelentes escolas de música — comenta.
— A princípio, o aprendizado era só uma brincadeira. Levava para a escola, ia aprendendo algumas coisinhas. Depois minha mãe, que morava em São Paulo, foi me visitar e me presenteou com um violão. Com ele passei a me apresentar em conjuntos de baile. Mas no interior é comum as pessoas se formarem e irem para a cidade grande trabalhar, acabando o conjunto — expõe.
— Como não podia parar de tocar, peguei novamente o cavaquinho e me juntei com o pessoal da seresta, a velha guarda da cidade. Foi nesse momento que peguei o primeiro disco do Waldir Azevedo, que imediatamente se tornou minha grande referência. Depois vim para Belo Horizonte e passei a tocar nas rodas que existiam na cidade, casa de amigos, enquanto trabalhava em um banco durante o dia — continua.
Mas a música batia forte em Ausier e ele não conseguiu fugir disso, conseguindo juntar a sobrevivência à sua aptidão.
— Certa vez um cliente do banco me falou: ‘Oh, acho que o seu negócio não é banco. Vá cuidar da sua música, seja músico’. Isso me marcou e foi aí que tive a ideia de abrir o Pedacinhos do Céu, para cuidar da minha música e ao mesmo tempo ganhar meu sustento. E acabei me tornando profissional — conta.
Além das apresentações na casa, Ausier Vinícius toca com outros artistas e leva o grupo para onde for convidado.
— E o bacana é que onde vou com o grupo, acabo de alguma forma levando a casa também. Agora estou tentando uma lei de incentivo para gravar meu primeiro disco, o projeto Pedacinhos do Céu 15 anos já foi aprovado, esperando capitalização — conclui.
Para contatar: www.pedacinhosdoceu.com.br e [email protected]