Clichê na tela e na política

Clichê na tela e na política

O filme Avatar causou furor nos cinemas ao redor do mundo. Sem dúvida a gama de efeitos especiais e animações são fantásticas, principalmente para quem viu o filme em uma sala com terceira dimensão. No entanto, para por aí, a história nada mais é que uma Pocahontas “high teck”.


Weaver e Obama no dia da terra

No planeta fictício de Pandora, há colonizadores malvados e nativos perfeitamente integrados à natureza, que inclusive pedem desculpas aos animais que matam para servir-lhes de alimento. Como sempre, os heróis saem dos círculos imperialistas e defendem os fracos e oprimidos. Em Avatar um fuzileiro (Sam Worthington) que ficou aleijado em combate na Venezuela (Chávez que se cuide), troca de lado, se integra aos nativos e derrota os colonizadores, e uma cientista (Sigourney Weaver) segue o mesmo caminho. O filme obviamente não mostra as causas da opressão e da espoliação daquele povo. Os opressores são representados apenas como malfeitores que não respeitam a natureza.

No final, perfeitamente previsível, os malfeitores são expulsos e o fuzileiro se transforma definitivamente em um nativo. Como não poderia deixar de ser, em uma linguagem de clichê holliwoodiana, tudo indica que virão Avatar dois, três, etc..

O filme, como tantos outros da linha “ecologeira”, propagandeia a imoralidade da destruição indiscriminada da natureza mas sequer arranha suas causas: o sistema imperialista de dominação que precisa do lucro máximo no menor espaço de tempo possível.

Mal retornados de Pandora, o diretor do filme, James Cameron, a atriz Sigourney Weaver e o ator Joel David resolveram ressuscitar a dupla sertaneja Sting & Raoni e se integraram à campanha contra a construção da usina de Belo Monte. Depois de se reunirem com lideranças indígenas no Xingu, passarem por Brasília, Weaver “liderou” um protesto em frente à sede da missão brasileira na ONU. Na oportunidade a “caçadora de aliens” afirmou que “o governo brasileiro deveria ser líder em matéria ambiental”, e que no USA eles “estão se livrando das usinas hidrelétricas, que tanto devastaram o meio ambiente”. Mais uma vez a sua análise passa longe das verdadeiras causas da destruição.

Em sua saga verde, Weaver foi recebida por Obama na Casa Branca para participar de um evento ecológico para comemorar o Dia da Terra. Dado o sorriso abestalhado que exibiu na oportunidade, uma coisa, na melhor das hipóteses, foge a compreensão da intrépida viajante estrelar. É o fato de que nos países dominados pelo imperialismo se desenvolve um capitalismo burocrático, que seus governos são serviçais e que os maiores beneficiários da destruição da natureza, da sangria de recursos naturais e de toda a atividade econômica são os países imperialistas. Basta ver os móveis de aglomerado de péssima qualidade disponíveis nas lojas do Brasil. Onde será que vão parar o mogno e o ipê tirados da Amazônia?

Ademais, é sabido que a linha de defesa do meio ambiente de ONGs ianques e europeias se destina à manutenção de reservas e áreas “internacionais” que assegurem as matérias-primas orgânicas e minerais aos países imperialistas na medida de sua necessidade, e não da urgência dos povos das semicolônias. Por outro lado, os monopólios mais rapaces não se importam com nenhuma implicação ambiental, desde que assegurem o lucro máximo.

Belo Monte não é um caso diferente. Sua principal função é permitir a extração de alumínio para exportação. Seus beneficiários serão principalmente o capital burocrático e as transnacionais. Portanto, custo ambiental e social são coisas que não importam desde que gere lucro. Senão vejamos:

Está sendo propagandeada como a terceira maior usina hidroelétrica do mundo, mas na verdade será o terceiro maior lago de hidroelétrica do mundo, pois com a estação seca da Amazônia durante 4 meses a sua capacidade geradora será bastante reduzida, e dos 11 MW prometidos pelo governo, o provável é que fique em torno de 4,4MW nos meses de seca. O custo da energia será elevado, o governo estipulou um teto de R$ 83 por MWH, afugentando investidores como Odebrecht e Camargo Corrêa, que constituíam um consórcio. A resposta do governo foi rápida, tanto com verbas do Tesouro Nacional como de fundos de pensão, ou seja, dinheiro do contribuinte, para financiar os lucros da grande burguesia.

O custo da obra, inicialmente estimado em 4,5 bilhões, já chega a 19 bilhões e as empresas que participarão da obra já falam em 30 bilhões. Imaginemos quanto de fato irá custar…

Não obstante, cerca de 20 mil pessoas serão expulsas para favelas em Altamira ou para “amansar mato” para o latifúndio. De uma forma ou de outra serão uma reserva de mão de obra barata para os beneficiários da usina.

Dois consórcios disputam Belo Monte. Um composto pelas empresas Chesf, Queiroz Galvão, Gaia Energia e Participações, Galvão Engenharia, Mendes Energia, Serveng, J. Malucelli Construtora, Contern Construções e Cetenco Engenharia. O outro conta com Furnas, Eletrosul, Andrade Gutierrez Vale, Neoengenharia e Companhia Brasileira de Alumínio, sendo que a CSN, a Gerdau e a Alcoa manifestaram interesse em participar dos consórcios já que vão usufruir da energia.

Portanto, não se trata de defender ou não a construção desta ou daquela usina ou outra grande obra qualquer. A questão que se coloca é se essas obras atendem a um plano de desenvolvimento de um país independente.

A dupla dinâmica das ONGs

Em sua viagem ao Brasil em 1987, o cantor Sting, líder da banda de rock The Police, conheceu o cacique caiapó Raoni e se integrou à “defesa da floresta e das terras indígenas”. Como de costume, soltou muita fraseologia ecologeira, mas nada sobre as reais causas do problema. Em seu livro sobre o tema escreveu: “O homem ocidental está regredindo; esquecemos nosso verdadeiro potencial. Os índios do Xingu podem nos fazer relembrar o que realmente somos”. Nada mais infantil, ou demagógico, que a crença em uma utópica “volta às origens” no lugar de uma luta por um futuro luminoso.

As peripécias não pararam por aí. O cantor famoso levou o índio pagão para falar diretamente com o procurador de deus na face da terra, Sua “santidade” o papa. Depois de fazê-los esperar por horas, como o Frade Henrique de Coimbra, deu um rosário de plástico ao índio, faltaram os espelhinhos, e desapareceu. Raoni ficou irritadíssimo e Sting teve que segurá-lo porque ele parecia disposto a bater do papa.

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