Fotos: Ovídio Trejos
Dirigente da FARC EP
Para ninguém é segredo que uma das principais armas do imperialismo ianque em todo o planeta é o monopólio dos meios de comunicação, arma que tem por missão alienar as massas continuamente, fazendo acreditar a população mundial que o império ianque é o guardião da democracia e da liberdade no mundo.
Sim. Os poderosos meios de comunicação, servis ao império, são os encarregados de fazer passar como verdades, as mentiras e as mentiras como verdades, segundo o que convenha aos interesses dos seus amos ianques. Quem, capaz de pensar, não conhece esta realidade?
Sem ir muito longe, pode-se tomar como exemplo o ocorrido no Iraque, antes da invasão a esse país por forças mercenárias dirigidas e encabeçadas pelo USA. O governo legítimo de Saddam Husseim foi acusado pelo USA de manter armas de destruição em massa (armas que, aliás, o USA mantém nos seus arsenais de terror) e, portanto, segundo Bush o governo iraquiano era “um perigo” não só pára a segurança do USA, mas também para a “paz mundial”. Depois, a arma da contra-propaganda fez o restante preparando as esfarrapadas justificativas para a invasão, o terror, o genocídio e a rapina no Iraque como em tantos outros países.
Colômbia indefesa
Um dos tantos países onde a mentira dos fascistas ianques tem-se efetivado é a Colômbia.
Sim, Colômbia… ! Este país que por sua condição estratégico-geográfica no sul foi escolhido como laboratório de experiências bélicas pelos potentados ianques. Não se pode esquecer a doutrina Monroe (Lei do Garrote,1822-1898); Big Stick (Grande Cassetete, de 1933 a 1945); Boa Vizinhança, de 1945 a 1975, período que os historiadores burgueses denominam de Guerra Fria; e a quinta estratégia – de 1975 aos dias de hoje – também sob o nome de Direitos Humanos, Ambientalismo, ou a Nova Ordem e seu Governo Mundial, impostas aos países dessa mesma América proletária. Dessa última doutrina nasceriam a operação Condor e o plano Colômbia sucessivamente.
Essas ações sempre tiveram três elementos primordiais para a sua execução: contra-propaganda maciça, exportação de capital e armamentismo. Com esses elementos influenciam, subornam e fortalecem esses gerentes das colônias, nativos que vendem seu próprio povo e os submete à vontade imperialista à força de fogo, exploração e fome.
Para influenciar, o USA utiliza os grandes meios de controle ideológicos que lhe são servis incondicionais, além do seu Fundo Monetário Internacional, FMI, e Banco Mundial para que esses polvos imponham políticas econômicas que conduzirão os países vitimados ao saque e às terríveis crises de desigualdade social, portanto, à instabilidade econômica e política. O último elemento, são os meios necessários para submeter o povo por meio do terror e também fortalecer o cofre dos agiotas e do tesouro dos EUA com a venda das armas.
A venda de armas é um dos principais itens da economia de USA, já que esse país é o principal provedor de armas a nível mundial. Fomenta-se a anarquia para depois se apresentarem como os ‘salvadores’ da sociedade afetada, dispostos a intervir militarmente contra ‘o terrorismo’. Assim como o Iraque foi invadido e saqueado pelo USA com o sofisma de derrocar um “ditador porque era um perigo para USA e o mundo”, também a Colômbia tem sido invadida e saqueada em sua cultura construída em séculos de trabalho, em sua soberania, em seus recursos naturais.
O USA vai à miséria
Colômbia é um país rico em metais preciosos, principalmente ouro, platina, prata, carvão, esmeralda. Também tem imensas jazidas de petróleo. Como se isso fosse pouco, quase todo chão colombiano é agricultavel. Revela imensas florestas, muitos e os mais caudalosos rios da América Latina. E ainda que o imperialismo lhe tenha roubado o Panamá, sua localização estratégica é extremamente privilegiada ao dispor do Atlântico e do Pacífico, além de dividir sua vizinhança entre o Equador Venezuela, Peru e Brasil. Sua riqueza ictiológica (tem muito peixe) é de primordial importância e seu potencial para a indústria hidrelétrica é de um alcance incalculável.
Dirigente da FARC EP
Tudo isso roubam da Colômbia.
Agora, o Estado fascista ianque considera a Colômbia como propriedade sua. Não é à toa que três bases dos bandidos ianques operam regularmente, mais uma quarta está em vias de funcionamento e uma outra em projeto. Há mil marines na Colômbia – com expectativa de já chegarem outros 2 mil – como também assessores militares.
Quase tudo foi privatizado (desnacionalizado) e há um acordo no qual o país proíbe a si próprio de punir ianques, sob qualquer motivo.
A agressão à Colômbia
Com o advento do processamento da cocaína e seu posterior comércio, o processo de desestabilização praticado pelo USA é acelerado. Assim, o USA encontra um álibi para intervir da maneira mais descarada nos assuntos internos da Colômbia e introduzir, sem nenhum rodeio, assessores militares, marines, armas e os terroristas da CIA em maior quantidade em território colombiano.
A Colômbia tem sido satanizada como uma sociedade de bandidos. Mas o povo colombiano,como qualquer outro, é um povo trabalhador e honesto. Apenas uma minoria insignificante é composta pela classe dominante, além de uma casta de militares contra-revolucionários, dos que aprenderam o negócio das drogas deixado pelos ianques, dos vigaristas políticos e de um outro contingente também pequeno de criminosos que nada tem a ver com o negócio das drogas.
O povo da Colômbia tem que viver com o estigma da luta armada porque os dirigentes da lumpen-burguesia colombiana vivem hoje dos despojos de guerra, porque a paz não produz nenhuma utilidade para eles.
Além disto, seus amos (os magnatas ianques) sempre mantêm viva a chama da guerra, fazendo da anarquia a base da economia que eles dirigem. Quem, entre os manda-chuvas no USA e a classe dominante colombiana que apóia o imperialismo, tem moral para reclamar da guerra? Não são eles os responsáveis por ela?
Por isso as guerrilhas dirigidas pelo povo são qualificadas como terroristas pelo imperialismo ianque, pelas classes reacionárias colombianas e frações oportunistas.
Eles sabem que a paz só será possível quando o USA for expulso do país, quando o povo construir o seu Poder e a sociedade honrada da Colômbia dirigir seu próprio destino.
Não é o povo colombiano quem promove a guerra. Mas a única forma de sobreviver é fazer a guerra justa contra aquele que produz a fome (o imperialismo, o latifúndio, a grande burguesia nativa), a injustiça, a ignorância, o autoritarismo, o terrorismo de estado, o tráfico com o terrorismo paramilitar, além da corrupção generalizada. O povo colombiano luta contra toda a forma de exploração do trabalho, contra o colonialismo e o feudalismo. Então, luta contra a repressão imperialista que agride não só a Colômbia, mas todos os povos da América Latina e do mundo.
É contra isso que lutam as organizações guerrilheiras mais consequentes, embora tenham divergências entre elas.
A guerra do povo colombiano é pela defesa da mais ampla democracia, pela construção de um verdadeiro sistema de estado e de governo democrático fundado nos direitos do povo… pela soberania nacional, pela defesa dos recursos naturais do país… pelo direito à vida.
Foram os mórmons
A Colômbia tem sido satanizada pelo aparato propagandista do USA como “o empório do cultivo de coca e o processamento da cocaína”. Os fascistas ianques proclamam-se vítimas do tráfico e acusam a Colômbia de ser o agressor. Mas os que manipulam a informação ocultam a responsabilidade histórica e a origem do tráfico ao povo da Colômbia mas também ao do restante do mundo que são vitimas do flagelo da cocaína.
A historia do tráfico “proveniente da Colômbia” tem início quando, em 1964, um grupo de ianques mórmons chega á selva de Caqueta, na Colômbia, e com a tolerância das autoridades dessas longínquas e selvagens terras inauguram o que chamaram a Igreja de Cristo em Colômbia. O conto de “ensinar a palavra de Deus” aos indígenas e colonos, e ajudar-lhes com técnicas avançadas de produção agrícola, foi só uma fachada que ocultou por vários anos as atividades criminosas daqueles mórmons.
A sede dos criminosos gringos era denominada de chacra la Cocha, um complexo cocaleiro que contava com pistas de pouso em plena selva e estava dotada com modernos sistemas de iluminação infravermelha para aterrissagem e decolagem noturna. Dali, eram transportadas toneladas de cocaína para os mercados ianques e europeus sem que ninguém dissesse nada, e o governo dos USA menos ainda.
Mais de 80% do produto desse negócio criminoso ia para o norte da América e na Colômbia ficava menos de 15 %, de tal maneira que, muito pelo contrário, os dólares que permaneciam dos mórmons não representavam nenhuma dor de cabeça para o governo ianque.
Quinze anos durou a felicidade dos mórmons traficantes, até que um homem chamado Evelio Buitrago Salazar, el Pacificador, acidentalmente descobre as verdadeiras atividades da organização criminosa.
Não pode punir ianques
O que seguiu foi, talvez, mais desprezível que as atividades ali descobertas, porque el Pacificador, que até então pertencia à Interpol e estava cumprindo missão encomendada pelo presidente da República (Julio César Turbay Ayala), interrompeu a missão e regressou a Bogotá. Dirigindo-se a seus superiores, informou-lhes do descobrimento mas, como se tratavam de cidadãos ianques, os superiores mandaram um informe detalhado ao presidente colombiano que encarregou o Pacificador de viajar a Washington e se apresentar diretamente ao chefe da Interpol, expondo ali a situação.
Evelio Buitrago Salazar fez o ordenado e em Washington seus superiores o mandaram para o Departamento de Estado. Dias depois, regressou a Bogotá com um oficio dirigido diretamente ao presidente colombiano.
Após a entrevista com o presidente Turbay el Pacificador foi designado para dirigir a operação de desmantelamento da organização criminal de La cocha, mas advertido pelo próprio presidente que não poderia deter ninguém, evitando que se formasse um escândalo ao nível internacional, em razão de um acordo com o governo do USA. Enfim, deter os gringos significava uma ameaça para as relações entre os dois países, impunidade que deveria ser assegurada para evitar “consequências danosas” para as relações entre Colômbia e USA.
Mais de 200 ianques foram avisados do operativo contra La cocha, como forma de colocá-los a salvo do Pacificador.
Os criminosos em sua precipitada fuga não chegaram a desfazer-se dos livros contábeis da organização, nem dos livros da relação do pessoal que habitava La cocha e outros sítios, inclusive colombianos e ianques, livros que Evelio Buitrago guardou para si até que os confiou a um amigo que os conserva até hoje.
Pouco tempo depois, o Pacificador foi assassinado com rajadas de metralhadora disparadas de um carro por um homem que o Estado colombiano nunca se interessou identificar. O assassinato de Evelio permaneceu impune e as atividades criminosas dos mórmons na Colômbia só deixaram males para o país e para a juventude mundial, dando origem ao maior monumento à impunidade, porque governantes covardes, ajoelhados diante do poder estrangeiro, assim preferiram.
Ovídio Trejos Saenz — médico e escritor, é membro do Congreso Bolivariano de los Pueblos — seccional Manaus