Como é a crise para quem vive no USA

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Como é a crise para quem vive no USA

http://jornalzo.com.br/and/wp-content/uploads/https://anovademocracia.com.br/52/22.jpgQuando eu e minha esposa resolvemos vir para os USA viver algum tempo ao lado da nossa filha, marido e netos, não imaginávamos ficar tanto tempo como os quase quatro anos em que aqui estamos. Já decidimos que está mais do que na hora de voltarmos ao nosso querido Brasil.

Tenho 74 anos, sou um velho jornalista (mal) aposentado, e por não resistir ao hábito de escrever resolvi criar aqui nos USA uma coluna jornalística, à qual dei o pretensioso título de "Visão Crítica Internacional", que obviamente nenhum jornal da região aceitaria publicar.

É um informativo crítico, sem periodicidade definida e enviada por e-mail para um grupo de pessoas interessadas pelo que ocorre à nossa volta. O principal objetivo é a informação e análise que não estejam presas ao verdadeiro terror midiático que é exercido pela chamada "grande imprensa", que na verdade nada mais é que um monopólio a serviço dos interesses imperialistas.

Este trabalho tem como meta manter contato com alguns amigos e conhecidos, tanto do Brasil como daqui e, principalmente, com meus netos e sobrinhos, não só para que desde cedo conheçam meu posicionamento político, mas também alimentar a esperança que alguns deles se empolguem pelo jornalismo, da mesma maneira que consegui com pelo menos três dos meus seis filhos. O resultado tem se mostrado excelente.

Nesses últimos anos, mais do que um desejo, eu tinha a convicção de que o imperialismo estava com seus dias contados. Mas tinha igualmente a quase certeza de que eu não estaria mais vivo, não só para ver, como para estar tão perto do cenário do "gran finale" de um sistema que já nasceu condenado ao fracasso, porque tem suas bases assentadas na exploração do homem pelo homem.

Sei que esta crise não será a derradeira, mas é importante estar vivenciando o maior abalo dessa estrutura doente e deteriorada já registrado na história.

Embora vivendo durante esse tempo numa região distante das metrópoles, onde se dão com maior intensidade as consequências sociais da derrocada do capitalismo (desemprego em massa, perda da moradia, a falta de assistência médica, colapso do sistema educacional e até fome), aqui no noroeste do país a população começa agora a sentir a dura convivência com a recessão, algo inusitado para ela.

Aqui o clima de farwest
parece que perenizou-se,
afetando corações e mentes
de forma lamentável.

Crescem as queixas, assim como cresce a fila da sopa nas instituições de caridade.

Os catastróficos oito anos de Bush precipitaram os acontecimentos, preocupando as classes dominantes que, frente a irreversível realidade da crise, convenceu a alienada classe média gringa que Barack Obama era uma esperança de contornar o desastre e recolocar o país de volta aos áureos dias de fartura e liderança internacional, conseguidos através do saque dos povos do mundo e da agressão militar.

Mas já era tarde, porque a "bolha financeira" dos títulos imobiliários estourou, toda a economia veio abaixo, com reflexo direto nos demais países, expondo ao vivo a grande mentira do mercado de capitais e do sistema como um todo, que transformou as cobiçadas ações de Wall Street numa montoeira de papel pintado sem quase valor algum.

Um exemplo marcante de como geralmente agem os grandes conglomerados na ânsia de auferir fabulosos lucros através de uma arquitetura financeira fraudulenta foi o comportamento da AIG, que foi ao seu tempo a maior companhia seguradora do mundo.

Como num passe de mágica uma seguradora transformou-se da noite para o dia numa instituição financeira que tratou de repassar os famosos "títulos podres" do mercado imobiliário ianque, contaminando a cúmplice rede bancária e financeira de quase todo o mundo.

Com prejuízos incessantes e intermináveis, o governo apressou-se a injetar fabulosas quantias na AIG, sem consultar o contribuinte se este queria investir numa empresa "micada".

Somente no último trimestre a AIG perdeu 62 bilhões de dólares (ou 460 mil por minuto) na conta dos financistas. Durante a alocação dos ditos recursos pelo governo (hoje transformado em dono de 80% do capital da AIG) no valor de 173 bilhões de dólares, aconteceram fatos que mostram perfeitamente o caráter desonesto dos dirigentes de uma empresa que é o retrato da essência do sistema capitalista na sua fase superior e mais degenerada.

Um desses fatos foi o pagamento de bônus aos seus executivos num valor de 450 milhões de dólares que foi (provavelmente ainda está) sendo realizado na medida do recebimento dos referidos recursos. Um verdadeiro assalto aos cofres públicos, que provocou massivos protestos em todo o país.

Mais um (mau) exemplo de como funciona a economia capitalista foi dado através da decisão dos países do G-20, reunidos recentemente, que decidiram fazer uma vaquinha entre si para reerguer os famigerados FMI e Banco Mundial, que afundaram e foram fazer companhia aos grandes conglomerados capitalistas, atingidos pela crise que eles mesmos provocaram.

Um cálculo comparativo aponta que os bilhões de dólares que serão aportados ao FMI e Banco Mundial, inclusive por países explorados pelo imperialismo (como o Brasil) dariam para matar a fome no mundo por 50 anos!

Cúmplices do capital, agora aquelas instituições voltam a se arrogar como indispensáveis ao desenvolvimento das regiões mais pobres, quando na verdade até hoje só foram agentes do atraso e da rapina econômica.

Quanto ao Iraque, morando nos USA infelizmente pude confirmar o endeusamento que se faz das armas e das guerras. Aqui o clima de farwest parece que perenizou-se, afetando corações e mentes de forma lamentável.

Os USA assinaram um acordo para a retirada de seu exército do Iraque até 2011. São 146 mil soldados e outros tantos mercenários, que irão finalmente embora, depois de uma sangrenta ocupação que praticamente destruiu o país.

O imperialismo dizia que a invasão e consequente ocupação seriam uma solução rápida e barata. Mas os cálculos estavam redondamente errados e nada saiu como os invasores previam, devido à brava resistência do povo iraquiano.

Quando cheguei aqui me indignava com a lavagem cerebral e os resultados das tais pesquisas de opinião, que mostravam o "apoio da população" à guerra.

Hoje o quadro é outro, ninguém mais tem coragem de botar a cara a tapa e defender a permanência no Iraque. Mas e o Afeganistão? Não é preciso ser nenhum gênio para saber, desde já, que outra surra nos imperialistas está a caminho.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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