Compondo e ensinando música instrumental

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Compondo e ensinando música instrumental

http://jornalzo.com.br/and/wp-content/uploads/https://anovademocracia.com.br/82/13-d.jpgClarinetista, saxofonista e compositor macaense, Zé Rangel trabalha com vários ritmos brasileiros, tendo uma preferência maior pelo choro. Cria da centenária Sociedade Musical Nova Aurora, onde atualmente leciona clarinete e criação musical, Zé enfrenta as dificuldades de se viver da música instrumental em Macaé, uma cidade que quanto mais enriquece por conta do petróleo explorado na região, mais empobrece culturalmente. Lutando contra isso, se prepara para lançar um disco e livro de partituras.

— Sou daqui mesmo de Macaé, interior do estado do Rio, e comecei a estudar música, ainda criança, na Instituição Musical Sociedade Nova Aurora. Essa instituição é muito tradicional na cidade e tem uma banda sinfônica. Meu bisavô, meu avô, alguns dos meus irmãos, além de outros membros da família, já passaram pela banda. Minha família é bem envolvida com música — conta Zé Rangel.

Zé diz que a Sociedade Musical Nova Aurora, fundada em 1873, trabalha para o bem da música instrumental, com uma escola gratuita e uma banda sinfônica mesclando jovens músicos e outros experientes.

Ela acredita que a arte é o cartão de visita de um país e que o interesse do jovem é muito importante, porque se uma criança ouve boa música e aprende a tocar algum instrumento, melhor se desenvolverá. A banda já formou muitos talentos macaenses, além de Zé Rangel. O mais famoso ex-aluno é Benedito Lacerda, um macaense ilustre, grande flautista, que foi parceiro de Pixinguinha e outros grandes músicos.

— Fizemos homenagem a ele aqui na escola. Em 2003, com Jean Carlos, na flauta transversa, Robert Saliba, no pandeiro, João Peixoto, no cavaquinho, e Maurício Moreira, no violão, participamos das comemorações do centenário de Benedito, tocando e ensinando teoria, prática e dando dicas técnicas aos alunos — conta.

Benedito é uma das mais importantes figuras do cenário do Choro. Menino muito pobre, aprendeu a tocar “de ouvido” com uma flauta improvisada, feita de taquara. Posteriormente, ingressou na Nova Aurora. Aos dezessete anos de idade, mudou-se com a família para a capital em busca de melhores oportunidades de trabalho para todos, conseguindo sobreviver da música.

Seu conjunto, Regional Benedito Lacerda, foi o primeiro dos muitos regionais da época mais importante do rádio brasileiro. Assim como Benedito, Zé Rangel teve que tentar a vida na capital, onde tocou com muitos artistas importantes.

— Após os vinte anos de idade comecei a levar a música a sério mesmo, encarando como profissão. Fui estudar intensamente com professores daqui mesmo, músicos maravilhosos. Depois, fui para o Rio de Janeiro estudar mais e trabalhar. Passei a frequentar as rodas de choro e samba que acontecem na cidade — lembra.

— Vi o ressurgimento da Lapa e participei do circuito musical que acontece por lá, tocando em várias casas. Apresentei-me com várias pessoas e grupos importantes. Como costumava tocar com grupos de choro, cheguei a ser conhecido como um chorão autêntico, mas, na verdade, não sou, porque componho e toco outros gêneros também. Contudo, amo o choro — esclarece.

Luta pela música de qualidade

Zé Rangel se apresentou no Rio Scenarium e Teatro Rival, e acompanhou por muito tempo o grupo vocal Toque de Arte (ver AND 47).

— Até outubro do ano passado, estava morando no Rio, depois vim para a minha cidade tentar trabalhar com música aqui. Orgulho-me de ser macaense, mas, me deparei com uma realidade muito triste: o espaço para a música instrumental está muito ruim. Quando saí daqui, existiam vários lugares para tocar. Eu, inclusive, me apresentei bastante no teatro de Macaé e em outros locais da cidade. Agora praticamente não existem mais espaços para nós — constata o músico.

E o intrigante, segundo Zé Rangel, é que Macaé se tornou uma cidade milionária, por conta do petróleo explorado na região, mas culturalmente aconteceu o contrário.

— A cidade empobreceu bastante nesse sentido. Hoje, o povo daqui está carente de espaços para a música de qualidade. Existe uma coisa de imediatismo por parte dos empresários daqui, que não querem investir na nossa música, fazendo com que Macaé ainda seja uma cidade interiorana, com um pensamento provinciano — lamenta Zé.

— A prefeitura não dá nenhum apoio, mas costuma gastar milhões para trazer bandas de axé, a intitulada música sertaneja, e outros modismos para se apresentar aqui. Creio que não seria difícil para eles promover, por exemplo, um festival de música instrumental, um evento de choro ou algo assim. A cidade tem muito potencial: bons músicos querendo tocar e um povo receptivo — Fala com firmeza.

— Estou, atualmente, com 43 anos de idade e entrei aqui na escola aos 7, uma vida inteira dedicada à música, e não consigo, muitas vezes, trabalhar. Mas é claro que muitas pessoas envolvidas com artes por aqui lutam para que isso mude — comenta o macaense.

Zé Rangel diz que, em algumas cidades em torno de Macaé vem acontecendo significativas melhoras.

— Ultimamente, tenho sido chamado para apresentação em Rio das Ostras e agora estou me preparando para tocar no Festival de Música Instrumental de Sana, que é um distrito daqui de Macaé. As oportunidades vão surgindo e continuo compondo. Tenho umas setenta composições, de vários estilos, e estou começando a gravar um disco, com uma mistura de alguns gêneros da nossa música — anuncia.

— Será só com músicas que tem nome de mulher. Reuni doze das várias que fiz como homenagem às mulheres que conheço. É algo que foi acontecendo naturalmente, sem nada programado. Também estou para lançar um livro de partituras, com o objetivo de documentá-las e ajudar algumas pessoas a tocar também — explica Zé.

— Aproveito para convidar a todos para dar um pulinho aqui em Macaé, conhecer a Sociedade Musical Nova Aurora e apoiar os artistas daqui — conclui.

Zé Rangel leciona clarinete e criação musical todas as segundas e quartas-feiras. Para contatar: [email protected]

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