A revista Veja, na edição de seis de abril, tornou a acusar Foz do Iguaçu como “reduto do terrorismo“. Com a manchete “A rede do Terror no Brasil“, requenta velhas intrigas articuladas pelo pentágono e, mais especificamente, pelo Comando Sul do Exército do USA. Fazendo grande alarde apresenta como “Exclusivo: documentos da CIA, FBI e PF mostram como age a rede do terror islâmico no Brasil” e transforma as intrigas em provas ao afirmar que “A Polícia Federal tem provas de que a Al Qaeda e outras quatro organizações extremistas usam o país para divulgar propaganda, planejar atentados, financiar operações e aliciar militantes“.
As patranhas do Comando Sul
Não é de hoje que o Comando Sul do Exército do USA tenta criar factoides com a finalidade de justificar a sua ingerência na região da tríplice fronteira. Sua intenção é montar bases militares na região para, a partir daí, fazer o que eles chamam de defesa avançada.
As pressões sobre os três países são tantas que as polícias são obrigadas a manter sob constante investigação a vida dos moradores de origem árabe. Foi acidentalmente que o jornalista Aluísio Palmar, encarregado pelos parentes de desaparecidos políticos de efetuar uma pesquisa nos arquivos da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, encontrou no meio de toda uma papelada documentos que comprovavam o rastreamento da vida de todos os migrantes árabes no município, datados a partir de 1983. Esta denúncia foi feita pelo jornalista ao site A Fronteira, de Foz do Iguaçu. Palmar não tem dúvida de que neste caso a atuação da Polícia Federal e do SNI (Serviço Nacional de Informação) estavam a serviço da CIA, para a qual os documentos foram transferidos.
Indignação de toda a Cidade
A provocação da revista Veja causou grande indignação, principalmente pelo fato de que os acusados são pessoas totalmente integradas na vida econômica e social, como é o caso de Sael Atari, um dos mais atacados por Veja, que reside em Foz do Iguaçu desde 1990. É casado com a brasileira Leila Atari, com quem tem três filhas. Atari é comerciante têxtil na cidade.
No dia 17 de abril, um grande ato público foi realizado na sede da Sociedade Islâmica, que contou com a presença de mais de oitocentas pessoas. Esta grande manifestação estimulou as lideranças árabes da região a cobrar o posicionamento das “autoridades” sobre o episódio. Cobrada, a câmara de vereadores aprovou moção de apoio e solidariedade à Sael Atari, extensivos à comunidade árabe.
Do governador, as lideranças cobraram um posicionamento também pela sua descendência árabe: “Estamos sendo colocados como bandidos nestas páginas. Esse senhor foi fotografado na frente de nossa mesquita, lugar sagrado e roteiro turístico da cidade“, disse o guia religioso da Sociedade Cultural Islâmica, Dr. em Filosofia, Mohsen Al-Hassani, apontando para a foto de Atari.
No dia 26 de abril, árabes, brasileiros e paraguaios estiveram com a secretária de Estado da Justiça e da Cidadania, Maria Tereza Uille Gomes. Al Hassani disse: “não estamos pedindo perdão, porque não somos culpados”.
Gomes disse ser necessária a defesa da comunidade dentro do respeito e diversidade defendida pelos direitos humanos. O guia religioso da Sociedade Beneficente Islâmica, xeque Mohamed Khalil disse que as acusações da revista Veja “não ofende a comunidade árabe, mas todo os moradores do Brasil“.