Quase trinta anos após a primeira "Conferência Nacional da Classe Trabalhadora" (Conclat), realizada em 1981, o sindicalismo de colaboração de classes realiza novas Conclats, mas o ingrediente principal continua a ser a motivação eleitoreira.
A primeira Conclat, realizada nos dias 21 a 23 de agosto de 1981, na Praia Grande (SP), culminou um processo de retomada do movimento sindical nacional, sob o impulso da grande onda de greves de 1978-1979. Mas já naquele momento as correntes oportunistas hegemonizavam o movimento sindical e o objetivo de unificação das lutas da classe operária contra o regime militar, contra o corporativismo e criação de uma central unitária foi frustrado.
O principal embate que se deu na Conclat foi em torno da estratégia defendida pelas correntes abrigadas no Partido dos Trabalhadores (PT), criado um ano antes, e o caminho proposto por aquelas forças que se agrupavam em torno da oposição tradicional (MDB). No fundo, esses dois blocos que se chocaram estavam impregnados do mesmo oportunismo, concentravam a luta exclusivamente no campo institucional e divergiam fundamentalmente quanto ao aspecto de como chegar à gerência do Estado: se desenvolvendo o partido novo, o PT, ou continuando a se agrupar com as forças tradicionais do MDB. Já as posições que defendiam um projeto revolucionário estavam bastante dispersas e atomizadas.
A diferença das Conclats realizadas em junho último, pelas centrais governistas por um lado e partidos e agrupamentos trotskistas por outro, é que no início dos anos 80 as correntes oportunistas estavam totalmente fora dos aparatos legislativos e executivos do Estado, então gerenciado pelos militares.
Apesar da enorme energia, decisão e esperanças dos milhares de ativistas sindicais e trabalhadores que participaram da Conclat, em 1981, o rumo da luta estava errado e impregnado de eleitoralismo e traição. Dela, saíram dois campos que foram se conformar na CUT e na CGT. A criação da CUT, sob a fraseologia ultra-radical que foi se empalidecendo segundo os interesses do projeto eleitoral do PT até amarelar-se por completo, consumou a divisão orgânica do movimento sindical brasileiro. O campo do reformismo sem máscara seguiu atrelado aos partidos tradicionais. Posteriores reagrupamentos partidários eleitoreiros levaram a novas conformações no campo sindical.
Na época, eram grandes as dificuldades para os militantes detectarem a traição dado a infinidade de disfarces e embromações com que o oportunismo se travestia, mas nos dias atuais é só verificar a prática dessas correntes para constatar que caiu por completo todo o véu de combatividade e de "novo sindicalismo" da CUT, anos a fio propalado por seus defensores, hoje encastelados no velho Estado reacionário juntinho com os adversários da época, os denominados pelegos da CGT e Força Sindical. Esses pelegos que não se vexam em elogiar o recente miserável reajuste de 7% para os aposentados, o salário mínimo de fome de R$ 510,00, etc., e mesmo com Luiz Inácio mantendo o famigerado fator previdenciário, atacando as greves e toda uma política antioperária eles, como parte integrante do gerenciamento de turno do velho Estado, seguem apoiando-o incondicionalmente.
Palcos do teatro da hipocrisia
O sindicalismo de colaboração de classes protagonizou dois eventos com a mesma pomposa denominação de Conclat. Um grupo utilizou o termo "Conferência Nacional da Classe Trabalhadora" para referir-se a uma assembleia realizada no Estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, no dia 1º de junho. O outro denominou como "Congresso da Classe Trabalhadora" a atividade pró-fundação de uma "nova" central, realizada na cidade de Santos/SP, nos dias 5 e 6 de junho.
Inicialmente programado pelas seis centrais reconhecidas e financiadas oficialmente pelo governo, o evento do Pacaembu teve o desfalque da UGT, que por influência do PPS e do DEM, ficou ausente da festa. Também as divergências político-partidárias-eleitoreiras dentro das centrais sindicais impediram que a Conclat, realizada no Estádio do Pacaembu, na capital paulista, se transformasse em um ato explícito pró-Dilma Rousseff, a pré-candidata do governo Lula à Presidência da República e contasse com o comparecimento da candidata e do pelego-mor Luiz Inácio.
Mesmo assim, nesse evento custeado pelo imposto sindical descontado do salário dos trabalhadores, a Força Sindical, CUT, CGTB, CTB e Nova Central pregaram a continuidade do gerenciamento oportunista de Luiz Inácio. Em seus discursos, a cúpula sindical governista alertou para um "retrocesso", em clara referência ao pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. O evento custou mais de R$ 800 mil e reuniu 15 mil pessoas, das 30 mil previstas, a grande maioria dirigentes sindicais que viajaram de avião ou ônibus fretados, com remuneração de diárias, hotéis e outras mordomias.
Em Santos, nas luxuosas instalações do Mendes Convention Center, outro palanque eleitoreiro também foi montado. Neste, o disfarce não era a aprovação de uma "Agenda da Classe Trabalhadora", que seria entregue aos presidenciáveis, mas sim a criação de mais uma "novíssima" central para ancorar os projetos eleitoreiros do PSTU e PSOL. Mas o dito congresso também acabou em fiasco, pois o fundo das divergências eleitoreiras levou parte das delegações a abandonarem o evento, não se consumando a unificação dos centristas conformados por essas correntes trotskistas.
Tanto o evento do Pacaembu quanto o de Santos primaram pela completa ausência de qualquer discussão ou propostas que pudessem contribuir com a luta dos trabalhadores por seus direitos imediatos. Quanto aos interesses maiores dos trabalhadores de destruição de toda exploração e do Estado opressor e pela conquista do poder, nada foi além do velho e surrado discurso da mendicância reformista. O que se viu à vontade foi a encenação de mais um capítulo da desgastada farsa eleitoral, e a vontade louca dos dirigentes sindicais oportunistas de continuarem a galgar cargos nesse putrefato e serviçal Estado burguês-latifundiário.
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* Gerson Lima é dirigente da Liga Operária, de Belo Horizonte