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O tribunal que julgou e condenou o genocida e corrupto "el Chino" Alberto Fujimori a 25 anos de cadeia foi parcial ao não inserir no contexto do julgamento o conjunto dos crimes do sanguinário ditador. O tribunal ateve-se aos massacres de Barrios Altos e de La Cantuta, crimes praticados através do "Grupo Colina", que funcionava como comando de "operações encobertas", no conceito ianque de guerra contra-revolucionária, e operava sob ordens diretas do general Nicolás Hermosa.
Nenhuma palavra sobre os outros inumeráveis assassinatos praticados por esse grupo paramilitar e outras chacinas perpetradas diretamente por comandos militares das genocidas forças armadas peruanas. Em maio de 1992, por ordem de Fujimori, 50 prisioneiros políticos foram assassinados no presídio Miguel Castro Castro. Os sobreviventes foram brutalmente torturados e transferidos para presídios longínquos, aprofundando seu isolamento e aniquilamento. Tal política foi aplicada durante todo o período da gerência Fujimori, agravada ainda pela instituição da prisão perpétua, dos juízes sem rosto e dos tribunais militares para julgar civis. Some-se a isso os massacres de camponeses, a criação de grupos paramilitares no campo para combater o Partido Comunista do Peru — PCP, a política de fome a que foi submetida toda a população, a formação de um império do tráfico de drogas dentro do Estado, etc.
A condenação de Fujimori, portanto, apenas resvalou nos crimes de lesa-humanidade do Estado peruano à época de sua gerência. A sua crosta podre nem chegou a ser arranhada e tudo indica que ficará barato assim mesmo, uma vez que todos os esforços estão sendo feitos para que não respingue nada sobre a imagem já enlameada de Alan García, gerente semicolonial peruano de 1985 a 1990. Pesa sobre a biografia de García um dos maiores massacres de prisioneiros de guerra da história, quando em 1986 determinou o assassinato 254 filhos do povo peruano nos presídios de El Frontón, El Callao e Lurigancho, efetuado por um comando conjunto das Forças Armadas genocidas do Peru.
Claro, todos esses crimes foram cometidos pelo velho Estado peruano contra as massas em luta e todas as atrocidades foram aplaudidas de pé pelas classes dominantes. Agora, esse mesmo Estado reacionário encena um julgamento no qual condena uma triste figura como único responsável pelos crimes praticados em nome do imperialismo, do latifúndio e da grande burguesia peruana.
Tribunais dominados
Organizações "humanitárias" como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW), classificaram como "exemplar" a sentença de 25 anos de prisão imposta ao ex-presidente peruano. Frisaram ainda que é o primeiro caso de presidente eleito "democraticamente" a ser condenado por crimes dessa natureza.
Maria McFarland, a observadora da HRW, comemorou a condenação e exaltou a atuação da justiça do velho Estado no julgamento, avalizando mais uma vez sua conduta genocida: "Há poucos anos os tribunais eram dominados pelo próprio Fujimori, e hoje um deles envia uma mensagem importante sobre o papel da Justiça num Governo democrático e que protege os direitos humanos".
O que estes organismos burgueses fingem não enxergar é que os tribunais também têm caráter de classe, assim como o Estado. A condenação de Fujimori atende ainda a dois objetivos: livra-se de um sujeito que já não atende aos interesses do imperialismo, um cadáver político, e limpa a cara do Estado, deixando-o impune e cometendo ainda mais crimes contra o povo.
É o que segue sendo posto em prática na região de "emergência" do Vale dos rios Ene e Apurimac (VRAE), pelo Exército peruano, com comando direto de militares ianques que desembarcaram no meio da selva peruana com sua estratégia de contra-insurgência, visando deter o crescimento das ações da Guerra Popular dirigida pelo PCP, que retomou as ações armadas e tem infligido graves perdas às forças vivas das Forças Armadas peruanas.
Monopólios raivosos
A chamada imprensa fujimorista, aquela que durante os dez anos de sua gerência foi cevada com rios de dinheiro do erário público, saiu, de forma raivosa e peçonhenta, em defesa do contumaz assassino.
O Jornal Expreso destila seu veneno pela boca de um dirigente do APRA, atualmente no poder, Javier Valle Riestra, ex-primeiro ministro do gerenciamento Fujimorista. Seguramente Valle Riestra fala pelo seu partido e por Alan García, comprovando assim o conluio entre os dois genocidas. Ele pede aos juízes que voltem atrás e anulem a sentença contra o chacal Fujimori.
A mesma imprensa deu todo o espaço para a filha do genocida. A deputada Keiko Fujimori, numa entrevista coletiva afirmou que a condenação de seu pai equivalia à condenação de um chefe terrorista. "Para uma pessoa de 70 anos, uma condenação de 25 anos equivale a uma condenação à prisão perpétua como a que recebeu o terrorista Guzmán", disse ela, referindo-se a Abimael Guzmán, o Presidente Gonzalo, dirigente do PCP que encontra-se preso e incomunicável desde 1992.
Los Magníficos
Rosana Bond, em seu livro Peru: do império dos incas ao império da cocaína, apresenta um impressionante relato tanto dos crimes de Alan García como, principalmente, da tróica Alberto Fujimori, Vladimiro Montesinos e Nicolás Hermosa, que sob o pretexto de combater a guerrilha do Partido Comunista do Peru, montou um império da cocaína.
Rosana afirma que o Grupo Colina foi montado com o objetivo específico de realizar operações especiais. O esquadrão da morte foi criado em 1991 e desativado, hipoteticamente, em 1993, após denúncias do general Rodolfo Robles. Em 1995 todos os assassinos foram anistiados e tudo indica que seguiram executando os mesmos crimes.
O Colina, também autodenominado "Los Magníficos", praticou, entre seus inumeráveis e terríveis crimes, os massacres de Barrios Altos e de La Cantuta. Em Barrios Altos o esquadrão da morte invadiu uma festa e matou ou feriu 20 pessoas, inclusive uma criança, todos acusados de serem terroristas. Em 18 de julho de 1992, sob o mesmo pretexto, invadiram a Universidade Nacional de Educação Enrique Guzmán y Valle (conhecida como La Cantuta) e sequestraram um professor e nove estudantes que, após serem barbaramente torturados, foram esquartejados, queimados e tiveram seus restos mortais ocultados até 1993, quando as valas foram descobertas.
As inúmeras ações de terror praticadas pelo Grupo Colina foram investigadas e meticulosamente relatadas no livro do jornalista peruano Ricardo Uceda Muerte en el Pentagonito a partir dos impressionantes relatos de um dos membros do próprio grupo, o sub-oficial e agente do Serviço de Informação do Exército Jesús Sosa.