Em sua edição de dezembro AND publicou um relato sobre como o imperialismo estava naquele momento se esmerando para abater o Wikileaks, o site de uma organização internacional dedicada a revelar documentos secretos da administração do USA, com direito a uma ofensiva de intimidação contra seu fundador, o australiano Julian Assange. Dizíamos que o Wikileaks estava prestes a tornar públicos centenas de milhares de documentos revelando segredos inconfessáveis da “diplomacia” ianque.
Entre os documentos das representações civis do USA pelo mundo divulgados pelo Wikileaks chama a atenção sobretudo um cabo diplomático (nome dado aos despachos emitidos por cônsules e embaixadores) enviado pelo adido de Washington em Berlim, Philip Murphy, que dá conta da presença de armas nucleares ianques na Europa, mais especificamente na Alemanha, Holanda, Bélgica e Turquia.
Em seu despacho, Murray explicita que existiram negociações para a retirada das bombas atômicas do USA do solo europeu, uma vez que as armas são de curto alcance (500km a 600km) e os chefes da Europa do capital não cogitam que seu território seja novamente palco de conflitos imperialistas, querendo empurrar os fronts sobretudo para o Oriente Médio e a Ásia. Mas a administração ianque se recusou a fazê-lo. Segundo a organização Natural Resources Defence Council, o USA tem cerca de 480 armas nucleares na Europa, a maioria delas instaladas na Alemanha.
Diante da confirmação de algo do qual há muito já se suspeitava, mas não era admitido, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Anders Fogh Rasmussen, disse que as “armas táticas nucleares” do USA engatilhadas na Europa são “parte essencial da dissuasão nuclear” da Otan.
Os embaixadores-espiões do USA
Uma outra importante revelação feita no lote de documentos diplomáticos ianques revelados pelo Wikileaks foi a de que a secretária de Estado de Obama, Hillary Clinton, bem como sua antecessora, a da administração Bush, Condoleezza Rice, requisitaram aos embaixadores sob suas ordens nas Nações Unidas que coletassem informações biográficas e biométricas — incluindo amostras de DNA e impressões digitais — de altos funcionários da ONU.
A devassa na diplomacia ianque revelou ainda outras tantas missões designadas para os embaixadores-espiões do USA. Um desses casos aconteceu em 2008, ainda sob a administração Bush, quando Washington solicitou a seus embaixadores no Paraguai que investigassem cidadãos muçulmanos na região da tríplice fronteira do país com o Brasil e a Argentina.
O artifício de empossar espiões como cônsules, embaixadores e demais funcionários de suas representações diplomáticas pelo mundo encontra paralelo no fato de que os chefes militares do Africom, o “Comando Norte-Americano para a África”, chegam a ser chamados de “embaixadores” quando aparecem fardados pelos países do continente para empurrar goela abaixo daqueles povos castigados pela espoliação imperialista os novos interesses dos monopólios do USA.
No dia 6 de novembro o Wikileaks divulgou uma lista de lugares do mundo caros ao imperialismo ianque, considerados estratégicos para a “segurança econômica” e a “segurança nacional” do USA. A lista foi elaborada com informações enviadas pelas representações diplomáticas e militares a serviço de Washington pelo mundo. Figuram nela cabos de comunicação submarinos com conexões em Fortaleza e no Rio de Janeiro, além de minas de minério de ferro, manganês e nióbio em Minas Gerais e em Goiás.
Por essas e outras vai-se apertando o cerco ao Wikileaks. No início de dezembro o site foi retirado do ar por ciber-mercenários contratados por Obama, foi expulso do servidor que o hospedava na internet e a conta pela qual recebia doações foi cancelada pela maior empresa do mundo de pagamentos online. O Wikileaks já tem mais de 200 endereços virtuais diferentes para o caso de ser atacado outras vezes, e seu fundador, Assange, foi preso no dia 7 de dezembro acusado de crime sexual por uma mulher que colabora para sites da internet financiados pela Usaid, agência ianque de ingerência e sabotagem internacional ligada ao Departamento de Estado do USA. Assange foi “libertado” sob fiança por um tribunal inglês, mas usa uma tornozeleira eletrônica e foi obrigado a entregar seu passaporte.