A segunda etapa do IV Congresso do Partido dos Trabalhadores, ao lado de confirmar o caráter empulhador do PT, revelou como a pugna entre as frações das classes dominantes se aninhou na cúpula da sigla. Aprovou propostas tal como a necessidade de uma lei de controle dos meios de comunicação no exclusivo sentido de marcar posição e arregimentar forças para fazer frente a Dilma, a qual foi imposta ao partido por Luiz Inácio no exclusivo objetivo de assegurar seu retorno em 2014.
Já em sua primeira fase, antes das eleições de 2010, ao aprovar uma série de propostas “reformistas” que, ao final, eram só “para inglês ver”, o congresso mirava acalmar a militância mais à esquerda, já que seus corifeus eram sabedores de que, pela aliança com o PMDB, no programa de Dilma não caberia tais propostas, nem mesmo por exibição demagógica.
Quanto às propostas que o PT tem aprovado em seus congressos, após ter se alçado ao gerenciamento do velho Estado, salvo os raros ingênuos ainda existentes em suas hostes, todos são sabedores de que nada disso é para valer. Basta fazer a comparação com o programa divulgado pela campanha de Dilma e, pior ainda, com sua prática atual, para ver que o que os cardeais petistas pretendiam era engabelar a militância e, principalmente, o eleitorado.
Ao aprovar a proposta de controle dos meios de comunicação e diante dos protestos do monopólio de imprensa, sua demagogia ficou desmascarada por declarações da candidata e pelo recolhimento do projeto elaborado pelo então ministro Franklin Martins, ao mesmo tempo em que despejavam milhões de reais nos cofres do monopólio dos meios de comunicação em suas campanhas midiáticas para iludir o eleitorado, através da repetição massiva de mentiras e falsas promessas como PAC, Minha Casa Minha Vida, Pré-sal, etc.
Demagogia e delírio reformista
Para quem acompanha minimamente a política oficial no país é difícil crer que as resoluções aprovadas no IV congresso petista, mesmo não passando do surrado lenga-lenga reformista burguês, sejam de um partido que gerencia um Estado burguês-latifundiário serviçal do imperialismo. Pois trata-se de um partido que não chegaria e nem se manteria na posição em que se encontra sem o beneplácito das classes dominantes brasileiras e do imperialismo.
O congresso faz um balanço extremamente positivo, como não poderia deixar de ser, do gerenciamento petista, apontando as excelências do “desenvolvimentismo”, de sua política externa e da relação com os movimentos sociais. Quanto a isso AND, em suas edições 70, 71 e 72 fez uma profunda análise dos oito anos do gerenciamento de Luiz Inácio, apontando o aprofundamento da dominação imperialista do país nos planos econômico, político e cultural, corporativização das massas empobrecidas, cooptação do movimento sindical, enfim, fascistização aberta do Estado. Na verdade, o oportunismo procura criar todo um conjunto de aparências para encobrir a verdadeira essência da realidade brasileira e, particularmente, de seu gerenciamento.
Vejamos algumas passagens da Resolução Política do 4º. Congresso do PT onde fica bem demonstrado o seu caráter empulhador:
“O Partido dos Trabalhadores realiza seu 4º Congresso oito meses depois da posse da companheira Dilma Rousseff, que vem cumprindo duas missões fundamentais e vinculadas entre si: as de dar continuidade e aprofundar as mudanças iniciadas no governo Lula, em direção a um Brasil mais democrático, mais igualitário, mais soberano e mais integrado à América Latina.”
“Para atingir estes objetivos, é preciso enfrentar e superar obstáculos muito difíceis, entre os quais se destacam os impactos deletérios da crise internacional do capitalismo neoliberal; a influência do pensamento conservador nos meios de comunicação; a corrupção que degenera o sistema político brasileiro; a regressividade do sistema tributário e seus impactos nas políticas públicas; a influência que a especulação financeira segue tendo sobre a economia nacional.”
“A resolução de tais desafios econômicos e sociais está ligada a novos avanços na democracia, entre os quais se destacam a reforma política, a democratização dos meios de comunicação, mudanças na natureza do Estado, e a necessidade de um sistema eficiente de defesa nacional.”
Ora, os que fazem a direção petista, pelo menos em um momento de sua vida política, tiveram oportunidade de estudar e conhecer o que é o Estado numa semicolônia com as características do Brasil e de que suas apodrecidas classes dominantes, subservientes ao imperialismo, são incapazes de abrir mão de seus privilégios. Assim, ao chafurdar no pântano eleitoral com suas alianças sem princípios e seus governos de coalizão e pela sua ideologia reformista-burguesa, oportunista mesmo, o PT não pôde e nem poderá romper o círculo de fogo da dominação do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo. Pelo contrário, essa gente está montada na maquinaria apodrecida do velho Estado, reproduzindo e aprofundando toda a prática perniciosa das classes dominantes. Sendo que agora contam com a participação e colaboração da canalha oportunista do PSB, PCdoB e outros restolhos mais.
Salvo mudanças cosméticas, envoltas em uma massiva carga de propaganda, nada de mais efetivo o povo pode esperar do oportunismo, cujo projeto já dá sinais de esboroamento. As greves nos setores operários, na educação, na saúde, os protestos anticorrupção e as manifestações populares por melhores condições de vida, afora a luta pela terra que segue de forma decidida apesar de toda a capitulação da direção do MST, são evidências do esgotamento do capital empulhador petista no gerenciamento do capitalismo burocrático asfixiado pela crise mundial do imperialismo. A ampliação e radicalização destes movimentos farão, cada vez mais, afirmar esta tendência.
Feroz rinha de grupos
Contudo, o que de fato está encoberta pela encenação reformista e pela demagogia militante é que a agremiação petista vive uma feroz rinha. E não se trata de luta entre reformistas e conservadores, mas sim entre grupos que representam hoje poderosos interesses de diferentes frações da grande burguesia local e estrangeira, bem como dos latifundiários.
Foi o que marcou a segunda fase do seu IV Congresso. Aproveitando o descontentamento com as nomeações de Dilma para diferentes escalões da administração do Estado, as forças fiéis a José Dirceu e que denotam consolidar o domínio da máquina petista, utilizaram o evento para armar grande palanque e holofotes para o chefe. Para o que, aliás, a matéria de Veja só veio mesmo a calhar, pois possibilitou o que mais Dirceu precisa e quer: sua defesa política e moral protagonizando eventos de tal importância do partido.
O congresso não só o consagrou como chefe político da organização como constrangeu Dilma e Luiz Inácio a participarem do ato em seu desagravo. Nada poderia sair melhor se fosse por encomenda. E este foi o principal acontecimento do congresso e marca uma nova situação da agremiação, a da luta cada vez mais renhida entre grandes grupos de poder, então entrincheirados na cúpula do PT, encabeçados por Luiz Inácio e José Dirceu.
Em torno de Dilma, por força das circunstâncias e encorajado pelos monopólios de comunicações, tende a se conformar, ainda que inicialmente vinculado de certa forma a Luiz Inácio, novo grupo de poder a partir do palácio e círculos de diferentes partidos da base de sustentação governista.