Corrupção acima de qualquer suspeita

Corrupção acima de qualquer suspeita

 Enquanto muitos brasileiros, atentos, acompanham pelo monopólio dos meios de comunicação as atrações do grande circo armado em torno da corrupção congênita do Estado brasileiro, os mesmos deputados e senadores encarregados de “investigar” a bandalheira se fecham, altas horas da noite, em acordos para formalizar a entrega do território nacional às corporações transnacionais. 

Foi o que aconteceu no dia 7 de julho último, quando, na calada da noite, deputados aprovaram, em regime de urgência, o projeto de lei que concede florestas públicas a empresas privadas. Enviado originalmente ao Congresso por Cardoso, o projeto não suportou as pressões de algumas instituições como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e foi retirado. Já na atual gerência ambientalista FMI-PT, ele retorna com o eufemístico nome de Gestão de florestas públicas para produção sustentável.

O projeto prevê a concessão de florestas públicas nacionais, estaduais e municipais a partir do estabelecimento de licitações, sendo permitida a participação de consórcio de empresas para a exploração de recursos “madeireiros e não-madeireiros”, em prazos que podem alcançar 60 anos. Em depoimento à AND, o engenheiro agrônomo Flávio Garcia se mostrou indignado com a lei que, na prática, entrega o território nacional às empresas estrangeiras:

— A lei da concessão de florestas foi aprovada por um acordo de lideranças à meia noite. Acordo do PT — porque a Marina Silva vem mostrando interesse nisso, junto com as madeireiras asiáticas e o governo americano (USAID). Acordaram isso para dividir e entregar enormes glebas da floresta para a exploração por grandes empresas.

O projeto entrou na câmara em 16 de fevereiro desse ano e foi aprovado no começo de junho. Foi um dos trâmites mais rápidos na história do Congresso Nacional. Um desrespeito à Amazônia inteira.

São os mesmos interesses da Vale do Rio Doce que estão por trás disso: pegar a madeira como um todo para botar o preço que eles quiserem, porque ela não existe mais, só aqui. É uma jogada inacreditável, um acinte à soberania nacional e ao destino da Amazônia.

O governador do Acre e o senador Tião Viana são os maiores interessados.

Estão criando reservas florestais dos municípios. O projeto prevê que o poder concedente é da União, dos estados e municípios. Você imagina, os prefeitos, sem recurso nenhum, vão vender todas as florestas.

Fora aquela parte em que há a hipoteca da floresta. O artigo 29, do Decreto que passou, permite a hipoteca da floresta. As empresas que ganham a licitação podem dar os produtos como garantia de financiamento, e os produtos são as madeiras.

Petrobrás, particípio passado

Semelhante desnacionalização já foi feita sem alarde com a Petrobras, proclamada aos quatro ventos como “empresa nacional” que se orgulha de ser brasileira.

O engenheiro Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, já revelou em várias entrevistas à AND o processo contínuo de desnacionalização da empresa. Na oportunidade, novas informações configuram a Petrobrás como empresa que vem sendo literalmente vendida, desde 2000, quando suas ações começaram a ser comercializadas na bolsa de valores de Wall Street, no USA.

O pretenso controle do Estado sobre o capital da empresa se torna uma falácia quando se revela que as ações preferenciais (que pagam maior dividendo) estão nas mãos de grandes acionistas ianques. Sendo o Estado brasileiro um servidor do capital estrangeiro, o controle estatal se reverte aos interesses imperialistas.

Segundo Fernando Siqueira

— Das ações, 32% estão nas mãos do governo. Dentro disso estão 50% de ações ordinárias — com direito a voto —, o que, teoricamente, lhe dá o controle sobre o capital da Petrobrás; 8% com o BNDES, que, com o Mantega na presidência, não dá nem para dizer que é governo; 10,5% são ações privadas nas mãos de brasileiros, que são testas de ferro do capital transnacional e; 39,5% com os bancos internacionais.

Os maiores acionistas da Petrobrás são os bancos de Wall Street, o Citibank, Morgan & Stanley, Bilbao Viscaya.

A grande maioria das ações vendidas é composta de preferenciais, que tem maior dividendo. Quando a Petrobrás dá 17 bilhões de lucro, 50% disso vai para o USA. Isso é sangrar a economia brasileira para remeter para o USA.

Como esse governo está emitindo cada vez mais ações preferenciais, o percentual de 32 % tende a cair, até ficar a um terço do total.

Não satisfeitos em vender a Petrobrás, os administradores semicoloniais, há algum tempo, vêm leiloando as reservas brasileiras de petróleo. Claro, a própria Petrobrás poderia comprar as reservas que ela própria prospectou, só que competindo em iguais condições com o capital monopolista internacional.

Essa alienação do patrimônio nacional encontra respaldo no desejo imperialista transformado na lei 9478/97 pela maior casa homologatória do Brasil, o Congresso Nacional. Tal lei quebrou o monopólio estatal do petróleo, fazendo das empresas que exploram o petróleo suas proprietárias. Quando a apreciação da lei chegou ao Supremo Tribunal Federal, a derrota por oito a dois não surpreendeu, a não ser pelos argumentos usados para a quebra do monopólio. A evidência dos famosos “homens da mala preta” nos corredores do STF fazem crer que algo mais aconteceu no submundo. Diz Fernando:

— Nós pegamos a gravação da sessão do Supremo e enviamos ao Fábio Konder Comparato, que escreveu uma série de artigos na Folha de São Paulo, totalmente indignado, inclusive levantando a hipótese que pode ter havido mensalão nessa história. Que era bom investigar as contas do Procurador Geral da República, do Advogado Geral da União e dos ministros do Supremo, que aliás, não sei porque, têm um privilégio de estar acima da lei. Ninguém toca neles; são homens acima de qualquer suspeita.

Eles que deveriam ser os guardiães da Constituição, usam dois pesos e duas medidas. Várias pessoas têm o sigilo bancário quebrado, mas os ministros do Supremo são intocáveis. Eu acredito que se fizer um levantamento, vamos ter surpresas nessas contas bancárias. O voto deles foi absolutamente absurdo, inconsistente.

São votos que deveriam ser investigados porque ratificaram a quebra do monopólio e deram validade a um artigo absolutamente inconstitucional, reconhecido por todos os juristas sérios.

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