Os atores e agentes mais notórios do sistema de exploração do homem pelo homem quase sempre pareceram afinados no cumprimento dos seus respectivos papéis para o bom funcionamento das roldanas do capital, uns acobertando os outros sobre seus crimes de exploração, opressão, rapina, sabotagem e especulação, e todos esmerados na contrapropaganda das maravilhas do capitalismo. Agora, no momento em que a crise geral se aprofunda, na hora do salve-se quem puder, as empresas de análise de conjuntura e consultorias de mercado entram em rota de colisão com os monopólios e os Estados burgueses.
Isso porque, hoje, poucas informações são mais fiáveis do que as previsões catastróficas daqueles que têm compromissos a honrar com seus clientes, os “investidores”, mesmo que isso signifique expor o alto grau de apuros em que a burguesia e os cassineiros do mercado global estão metidos.
Um exemplo disso foi o levantamento feito pela agência de notícias do mercado financeiro Bloomberg com dados atualizados deste início de ano mostrando que as maiores economias capitalistas do planeta, ou seja, a dos países do G7 (USA, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá, os países mais ricos do mundo) e do chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, as economias capitalistas tidas como “emergentes”), têm, ao todo, US$ 7,6 trilhões em títulos de suas dívidas públicas com prazo de validade que expira em 2012.
Trata-se de uma bomba relógio prestes a explodir no seio do já moribundo capitalismo internacional, que agoniza há décadas em meio a uma duradoura crise geral de superprodução relativa, com os monopólios apodrecendo diante da contradição entre a saturação do mercado e a inexorável necessidade dos conglomerados transnacionais de manterem uma expansão contínua da produção de mercadorias.
Esta crise geral ora se manifesta de forma mais contundente na forma da chamada crise da dívida que assola os Estados burgueses da Europa, desde os mais submissos na divisão internacional do trabalho às nações onde vigora o chamado “capitalismo avançado”.
Brasil tem US$ 169 bilhões para pagar em 2012
Os primeiros agonizam porque não conseguem pagar as dívidas assumidas junto aos maiores bancos da Europa para financiar os seus respectivos capitalismos burocráticos locais, e os segundos se desesperam porque não conseguem receber os juros com que contavam para financiar os seus monopólios em crise, e também porque vêem suas próprias dívidas alcançarem dimensões estratosféricas e incontroláveis.
Um claro sinal de que em 2012 haverá um agravamento geral da chamada crise da dívida foi o rebaixamento da nota da dívida da França (que tem US$ 367 bilhões em títulos da sua dívida pública vencendo em 2012) no último dia 3 de janeiro pela agência de “classificação de risco” Standard & Poor’s, a mesma que em meados de 2011 rebaixou a nota da dívida externa do USA ante a iminência da “moratória das moratórias”, que acabou sendo adiada talvez para este ano graças a um acordão entre as facções políticas rivais Democratas e Republicanos.
A Standard & Poor’s é uma daquelas empresas de análise de conjuntura e consultoria que não podem mais ajudar os Estados e monopólios a mascararem a crise geral devido ao seu compromisso primordial com os “investidores”. No dia 3 de janeiro, a agência cortou as notas de confiança no pagamento das dívidas de outros oito países da União Europeia, incluindo Espanha, Itália e Portugal. A Grécia não tem mais o que descer na “classificação de risco” para os investidores no ranking de todas as agências especializadas.
A administração Sarkozy reagiu ao corte da nota da dívida soberana da França, que tinha a classificação máxima nesta estirpe de ranking, anunciando que vem por aí um novo “plano de austeridade” para castigar os franceses com mais e mais arrochos, a um nível antes só visto nas semicolônias do mundo, como o Brasil, que em 2012 tem nada menos do que US$ 169 bilhões para pagar a banqueiros internacionais.