Crise geral se escancara em 2011

Crise geral se escancara em 2011

Uma revisão dos fatos e desdobramentos da crise geral do imperialismo em 2011 deixa às claras e confirma alguns aspectos desta crise bastante ressaltados por A Nova Democracia ao longo do ano que terminou. São eles:

Um rastilho de pólvora entre paióis

A crise geral de superprodução relativa na qual os monopólios estão chafurdados há décadas se agravou formidavelmente nos últimos anos, e um dos maiores sintomas deste agravamento é que parece estar diminuindo o intervalo de tempo entre as manifestações mais localizadas dessa crise, aquelas que à primeira vista são problemas nacionais, acossando um país de cada vez, por assim dizer.

É da natureza da crise que ela se manifeste de maneira mais crítica ora neste país, ora naquele, em formas mais específicas como “crise de crédito” ou “crise da dívida”, e 2011 mostrou que os paióis estão indo pelos ares de forma mais acelerada.

O ano de 2011 começou com o Estado grego e o Estado português atolados na absoluta incapacidade de pagar os juros das dívidas estratosféricas contraídas junto aos bancos da França e da Alemanha e, num intervalo de 12 meses, terminou com países como Inglaterra, Itália e França – nações do antigo G8, grupo dos oito países mais ricos do mundo -, e outros como a Bélgica anunciando “pacotes de austeridade” para, a custa do trabalhador, tentar evitar que suas finanças (as dos Estados burgueses) vão pelo mesmo caminho.

Tudo isso sem falar no tamanho da bomba relógio da dívida do USA.

Não há salvação para os Estados

Em 2008 e 2009 os países imperialistas e outros Estados do mundo mobilizaram montantes astronômicos (em dinheiro público) para salvar alguns dos maiores bancos do planeta, que entraram em bancarrota na sequência da chamada “crise dos subprime” no USA. Era a crise de crédito que golpeou o capitalismo no USA e na Europa bem onde os monopólios vão buscar os recursos para o financiamento de sua expansão: no capital bancário. Naquela feita, os Estados salvaram os bancos, e agora os Estados agonizam porque aquele socorro comprometeu a sua já combalida “liquidez”, como os economistas gostam de dizer.

No fim de novembro de 2011 o jornal britânico The Guardian publicou um levantamento sobre o tamanho em euro das dívidas públicas dos países mais encrencados da zona do euro, mais o Japão e o USA. A Grécia, por exemplo, terminou 2011 devendo cerca de 400 bilhões de euros*. A Itália, dois trilhões. A Espanha, quase dois trilhões. A França, mais de quatro trilhões, mais ou menos o mesmo montante devido pela Alemanha. A Grã-Bretanha, nada menos do que 7,3 trilhões de euros. O USA, estratosféricos 10,9 trilhões.

França e Grã-Bretanha (dois dos países imperialistas que mobilizaram os maiores recursos para salvar seus bancos) já dão sinais de que, apesar de terem terminado o ano de 2011 com baixo risco de descumprimento das suas obrigações financeiras internacionais, podem não chegar ao final de 2012 na mesma situação. O mesmo vale para o USA, epicentro da crise, que em agosto de 2011 aprovou na última hora um acordo entre democratas e republicanos para elevação do teto legal da dívida, o que só postergou para 2012 o “calote dos calotes”, cujos efeitos se espalharão de forma devastadora por todo o sistema financeiro internacional.

No dia 5 de dezembro a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, que em agosto de 2011 rebaixou a nota que mede a confiança no pagamento da dívida externa ianque, anunciou que colocara em perspectiva negativa as notas das dívidas soberanas de todos os países na zona do euro, à exceção do Chipre e da Grécia, que já têm nota mínima, incluindo a Alemanha, que até aquele dia gozava de um status de “solidez” em meio à falência generalizada dos Estados burgueses da União Europeia.

Bolsas só sobem quando o povo sofre

E é no âmbito do sistema financeiro internacional — este eufemismo para a grande gangue de banqueiros, cassineiros em geral e financistas, especializada em deteriorar as riquezas geradas pelo proletariado de todo o mundo mediante à especulação e à farra dos juros — que a real natureza da crise se manifesta de maneira mais clara.

Senão, vejamos: em meio à “volatilidade”, ou seja, ao sobe e desce dos índices que medem as perdas e ganhos de valor de mercado das empresas listadas nas bolsas de valores de todo o mundo, em 2011, os mercados de ações só operaram em alta quando este ou aquele governo anuncia medidas antipovo, que costumam ser apresentadas pelos chefes políticos e pelo monopólio dos meios de comunicação como “medidas de ajuste”.

Ao longo de 2011 as bolsas de Nova Iorque e Frankfurt, Berlim e Paris, Tóquio e Milão amargaram quedas profundas, em algumas praças só recuperadas mediante o anúncio interno ou externo de cortes de salários, privatizações, demissões e cortes nos orçamentos para os serviços públicos.

No dia 1º de dezembro a Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa, registrava perdas acumuladas de 17,93% em 2011. Só no primeiro semestre do ano que terminou, as empresas brasileiras listadas na Bovespa perderam um total de R$ 262,8 bilhões em valor de mercado, o equivalente a mais do que uma Vale, companhia “brasileira” avaliada em cerca de R$ 250 bilhões, e que, em função da crise geral, já anunciou redução de 11% nos investimentos previstos para 2012.

Cai a máscara da ‘democracia’ burguesa

Em 2011, o mundo “rico”, da “democracia parlamentar avançada”, dos sufrágios, das festas da democracia, este mundo não se fez de rogado em suspender eleições por tempo indeterminado e nomear governos encabeçados por funcionários do sistema financeiro internacional quando a crise impôs medidas drásticas para “acalmar os mercados” e salvaguardar os interesses dos bancos e monopólios das potências.

Assim se fez, já no apagar das luzes de 2011, primeiro na Grécia, onde Georges Papandreou foi defenestrado para dar lugar a Lucas Papademos, que foi vice-presidente do Banco Central Europeu, que ora ajuda a oprimir o povo grego, e ex-funcionário do Federal Reserve, o Banco Central do USA; depois, na Itália, onde Silvio Berlusconi deu lugar a Mario Monti, entusiasta de um “governo econômico para a Europa” escolhido a dedo pelo FMI.

O USA é o epicentro da crise

A crise geral de superprodução relativa do capital monopolista roda, roda e roda o mundo assumindo formas específicas com a “crise da dívida” que assolou a Europa em 2011 e ameaça implodir a União Europeia e sua moeda única em 2012. Mas o seu epicentro é o USA, maior potência imperialista do mundo, maior economia capitalista do planeta, origem da maior parte dos grandes monopólios internacionais e que têm como credores principais da sua dívida estratosférica e impagável a China e o Japão (os dois maiores detentores de títulos da dívida ianque), além das potências imperialistas europeias, Alemanha, França e Reino Unido.

Por isso, talvez, o principal acontecimento de 2011 referente à crise geral do capitalismo tenha sido o fato de o USA, em agosto, ter chegado às bordas do colapso, com a salvação vindo na última hora com o acordo entre democratas e republicanos para a elevação do teto legal da dívida ianque.

Um colapso apenas adiado para até quando durarem as manobras para subir o teto do endividamento do USA e enquanto o imperialismo ianque conseguir manter o dólar como moeda comum nas transações internacionais.

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*Em 14 de dezembro, a cotação do Euro era de R$ 2,43.

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