Crise mostra estrago que capitalismo causa na relação entre a cidade e o campo

Crise mostra estrago que capitalismo causa na relação entre a cidade e o campo

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Até alguns meses a China capitalista vinha sendo festejada como "a fábrica do mundo", o grande e principal cliente da indústria de base dos quatro continentes, a irrefreável força motriz do crescimento econômico global. Agora, o país não apenas sucumbiu à crise generalizada do modo capitalista de produção; a relação de interdependência entre as fábricas chinesas e o mercado financeiro ianque vem agravando a cada dia o estado da indústria e do mundo do trabalho, e pode ser o fator determinante que colocará todos os países no caminho de uma grande e terrível depressão.

Este entrelaçamento venenoso do mercado interno e do déficit externo controlados a partir de Washington com a política econômica e as reservas internacionais manejadas desde Pequim resultou em uma queda brusca da demanda por produtos Made in China, resultando no fechamento em massa das fábricas de sapatos, relógios, roupas e demais bens de consumo, desaceleração repentina da economia do país e cancelamento de novos projetos industriais e de infra-estrutura.

Segundo dados do Departamento Geral de Alfândega da China, o volume de exportações do país teve queda de 17,5% em janeiro de 2009, em comparação com janeiro de 2008. É o maior declínio das exportações chinesas em mais de dez anos. O declínio das importações na comparação entre os dois períodos foi ainda maior, 43,1%, e reflete a ociosidade dos bens de capital da China, tendo em vista que a maioria do que deixou de ser importado é de matérias-primas. Na China, como em muitos outros países, este é o pior cenário econômico desde a Segunda Guerra Mundial.

Este cenário se desdobra, por exemplo, no Brasil, onde a siderúrgica Vale, ex-Vale do Rio Doce, está vendendo muito menos aço para a China, uma vez que naquelas terras distantes o ritmo de construção de novas fábricas praticamente estagnou, a produção das que existe despencaram do alto de todo seu vigor, e a construção de pontes, estradas e ferrovias já não é feita com a rapidez que exigiria uma economia ainda em franca expansão. É certo que a política do patronato daqui ou dacolá é não deixar os prejuízos passarem do chão da fábrica e chegar às taxas de lucro dos acionistas, mas o fato é que, hoje, fechar portões em Xangai significa trabalhadores indo para a rua em Minas Gerais.

O que não se pode esquecer, no entanto, é que os irmãos operários chineses são os primeiros a sofrer com toda esta situação. Eles, em especial, merecem a solidariedade dos trabalhadores de todo o mundo, porque sua realidade tem elementos agravantes muito difíceis de serem superados no curto prazo. Por anos os capitalistas de todos os cantos, chineses ou não, mascararam a situação de extrema precariedade na qual vive o povo chinês, alardeando seu entusiasmo pelo esplendor dos sucessivos PIBs de dois dígitos. Escondem a exploração e a opressão que empresas e o governo de Pequim impõe às classes populares da China desde a restauração capitalista naquele país, na década de 70, porque os grandes monopólios internacionais de alguma forma passaram a depender em grande parte do suor do proletariado chinês.

Agora, quando as demissões nos distritos industriais da China vêm alcançando números recordes, um atrás do outro, e agravando ainda mais a situação das massas, as classes populares de países como o Brasil podem observar como são imensos os desafios a serem enfrentados por lá. Por outro lado, a crise vem levando a pressão sobre os trabalhadores chineses até o limite do insuportável, e é neste mesmo momento que se pode observar também um belo exemplo de ressurreição de espírito revolucionário histórico de um povo que não foge à luta, mesmo ela tendo que ser travada contra uma burguesia internacional sanguessuga e contra um regime eminentemente assassino.

A crise atual vem deixando à mostra como é da natureza dos capitalistas tentarem manejar as massas ao seu bel prazer, aprofundando as contradições entre as cidades e o campo, em vez de buscar a superação da diferença entre a classe operária e o campesinato a fim de alcançar a cooperação mútua, como visa o comunismo.

Uma recente pesquisa revelou que, na China, 15,3% dos 130 milhões de migrantes do campo que foram trabalhar nas cidades já foram mandados embora das fábricas que não têm mais para quem vender, e até o final deste ano 25 milhões de ex-camponeses devem perder os empregos nos distritos industriais, para o qual foram empurrados por um governo alegadamente "comunista", mas cuja incumbência real é chancelar o grande capital industrial, sempre sedento de mão-de-obra barata.

Para piorar a situação desta massa de trabalhadores migrantes, o norte agrário da China está enfrentando a pior seca dos últimos 50 anos, comprometendo as colheitas e o trabalho no campo no exato instante em que milhões de chineses descartados pelo capital industrial retornam para suas aldeias natais. E para quem pensa que a falta de água nas províncias de Heban e Shanxi é uma fatalidade incontornável, um castigo a mais reservado pela mãe natureza para os trabalhadores chineses ora em dificuldades extremas, é preciso mostrar que mesmo a falta de irrigação das lavouras é mais uma consequência das políticas capitalistas.

Foi em Honan que na época da Grande Revolução Cultural Proletária o povo chinês construiu o canal da Bandeira Vermelha, com seus 1.500 quilômetros navegáveis e 462 lagos e reservatórios. Pois este grande exemplo de solidariedade socialista vem sendo desperdiçado por décadas de políticas burguesas, que, apesar da máscara comunista, favorecem o patronato urbano quando a seca impõe a racionalização da distribuição de água.

Além de fazer a política da grande burguesia, o governo de Pequim tem ainda a função não menos importante para a burguesia de tentar botar rédeas curtas em um povo com uma longa tradição combativa. O Partido Comunista da China, há tempos aparelhado por fascistas, chegou mesmo a tentar subornar trabalhadores, oferecendo 60% do salário que era pago pelos patrões de determinadas fábricas em troca do fim dos protestos. A proposta indecente foi devidamente rechaçada pelos proletários dispostos a não fugir da luta contra a opressão e a precarização generalizada que a restauração capitalista impôs ao povo chinês.

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