O vaqueiro que não sabia mentir foi o segundo espetáculo do grupo
Representante da essência do fazer teatral, com pesquisa cênica e compromisso com a comunidade, o grupo Cutucurim nasceu e vive em Angra dos Reis, região da Costa Verde do estado do Rio de Janeiro. Idealizador e responsável pelo importante festival de teatro de rua da localidade, que reuniu no mês passado mais de trinta coletivos de todo o país, o Cutucurim ajuda a manter vivo e fortalecer essa arte.
– Surgimos em 1987 já com o nome de Cutucurim, escolhido por significar ‘Águia Real’ em Tupi Guarani. Na ocasião, a ideia era que a águia poderia nos levar para vários voos, várias viagens, dentro do trabalho que nos propusemos a desenvolver. A intenção é fortalecer o teatro de rua daqui da região, com uma intensa pesquisa e construção de espetáculos, demonstrações, intervenções e oficinas – conta a atriz Márcia Brasil.
– Fazemos algumas apresentações em palcos, mas nossa raiz e nossa história é o teatro de rua. Com base nisso criamos, em 1990, o nosso encontro de teatro, reunindo grupos de outras localidades para trocarmos experiências e dar mais força ao movimento. Esse evento cresceu e na última edição reuniu coletivos do país inteiro, e até uma atração internacional, o ‘DC Arte’, de Bogotá, Colômbia – continua.
O XVI Encontro Nacional de Teatro de Rua de Angra dos Reis – ENTRAR aconteceu de 15 a 21 de outubro último, em Angra, encerrando na Vila do Abraão, na Ilha Grande.
Inspirado no auto de natal, o Auto do trabalhador conta a saga do povo brasileiro
– Temos o prazer de dizer que esse evento nasceu dentro do Cutucurim e foi mais um sucesso esse ano. Além desse, participamos de vários festivais nacionais e internacionais, mostras e eventos diversos, e ganhamos muitos prêmios. Ao longo desses anos muitas pessoas passaram pelo grupo, e atualmente somos seis componentes, sendo dois desde a fundação, que sou eu e o Mário dos Anjos – fala Márcia.
– Os outros são: Elaine Alves, João Vitor Novaes, Evelyn Ramos e Monique Eucário. Nosso trabalho é bem coletivo, os atores se dividem: um produz, o outro compõe, dividimos as oficinas, textos, adaptações, tudo. E costumamos convidar pessoas de fora para dirigir nossas peças, porque assim podemos conhecer outras linguagens – expõe.
– O que mais procuramos trabalhar e valorizar é a cultura popular, para que não seja esquecida ou morra. Isso é uma espécie de identidade do grupo. Assim, temos muita música, bastante folclore em nossos espetáculos. E depois das apresentações procuramos fazer um bate-papo com o público, buscando uma interação – continua.
Nessa caminhada, segundo Márcia, o Cutucurim já realizou vários espetáculos, a maioria de rua.
– Logo no início veio o Acorda Brasil que a TV está no ar, que ficou uns cinco anos em cartaz, ganhando prêmios. Depois veio outro bem marcante, O vaqueiro que não sabia mentir, que é um texto meu, com direção de Michele Cabral, uma atriz, produtora e doutora em teatro de rua lá do Maranhão – comenta.
Mostrando a realidade
– Tem também O patrão nosso, que fala sobre candidatos nas eleições do nosso país. É uma peça super engraçada, mas que passa uma mensagem para o povo, mostrando ‘o candidato’ disposto a tudo para conquistar votos. Ele vai às comunidades, visita todos os lugares, todo tipo de gente, exibe simpatia, tudo pelo seu interesse. Já O auto do trabalhador faz uma espécie de mistura do auto de natal com o Brasil, mostrando a vida de uma parte do povo brasileiro – relata Márcia.
– Contamos a história de José e Maria que saem do Nordeste em busca de uma vida melhor. Fogem da seca na esperança de ter seu filho aqui no sudeste, com promessas de emprego e tudo o mais. Mas quando chegam, logo o casal vê que não é nada disso. Maria vai enfrentar a fila do SUS, José vai se deparar com muitos problemas. Contudo, sempre com uma mensagem de esperança. Esse espetáculo tem muita música e foi muito premiado – conta.
O espetáculo mais recente do Cutucurim é O piolho e a caolha, a morte, e as 4 irmãs que não deveriam falar.
– Trabalhamos a linguagem do Câmara Cascudo nesse espetáculo. Agora estamos produzindo uma nova montagem, desta vez sobre Patativa do Assaré. A estreia está prevista para janeiro ou fevereiro. Estamos nesse processo de criação, que para nós é viável devido a um edital no qual fomos contemplados – fala Márcia.
– Paralelamente, estamos nos preparando para apresentar, agora em novembro, o O vaqueiro que não sabia mentir em três cidades, através do Circuito Estadual de Artes. Temos o nosso repertório e estamos sempre dispostos a apresentar qualquer peça nos lugares que nos convidam, em festivais, e todo tipo de evento. Estamos a todo vapor, com apresentações constantes – continua.
– Fazer teatro de rua aqui em Angra é bem interessante, bacana, porque apesar de ser conhecida como uma cidade turística, de veraneio, com muito movimento de pessoas, por incrível que pareça, é muito estável para a nossa arte. Digo que a cidade em si respira esse ar de teatro de rua, então qualquer manifestação que acontece na rua ou no teatro é bem recebida pelo povo daqui e, com certeza, pelos turistas também. As pessoas vão, prestigiam, participam – conclui.
Os sites www.grupocutucurim.blogspot.com e, www.encontrodeteatroderua.com são os contatos do grupo Cutucurim.