Nascido do encontro de uma turma de jovens estudantes da UNESP (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, SP, o grupo de circo e teatro de rua Rosa dos Ventos completa em abril quatorze anos de estrada. Apresentando acrobacias, palhaços, malabares ou falando da exploração do homem pelo homem através do cômico, a trupe tem a preocupação de elevar a consciência das pessoas com a intenção de provocar mudanças.

Grupo circense e teatral Rosa dos Ventos usa o cômico para falar dos problemas sociais
— Ninguém tinha envolvimento com circo e teatro, viemos para Presidente Prudente cursar educação física, geografia, etc.. Esse interesse surgiu mesmo ao acaso. Acabamos morando no alojamento da universidade e isso proporcionou que nos conhecêssemos e favoreceu os encontros e ensaios, que aconteciam paralelos às atividades acadêmicas — conta Fernando Ávila, um dos atuadores do grupo e também conhecido como palhaço 10 Prás 7.
— A faculdade deu uma espécie de fomento, uma oportunidade de ficarmos quatro anos apresentando, tentando, pensando, estruturando, e com bolsa, porque participávamos de um programa de auxílio ao estudante. Começamos fazendo pequenas apresentações de palhaços, clássicos de circo, até chegar ao nosso primeiro espetáculo Hoje tem espetáculo, nessa linha circense com palhaços, malabares, acrobacias etc — continua.
— No término da faculdade nos deparamos com um possível fim do grupo, porque tínhamos uma estrutura que não continuaria. Nesse momento decidimos seguir adiante, nos profissionalizar. Com isso surgiu nosso segundo espetáculo, Saltimbanques, com gags de circo, mas já voltadas para a rua e baseadas na nossa história — acrescenta.
Depois disso o grupo sentiu a necessidade de fazer espetáculo com história, e assim surgiu A farsa do advogado Pathelin.
— Já foi algo mais de teatro mesmo, uma dramaturgia com começo, meio e fim. O espetáculo fala da exploração do homem pelo homem, a realidade da vida, as relações humanas. Incluindo nisso, é claro, o palhaço e artifícios de circo, como: malabares, perna de pau, e outros que ajudam a contar a história. Temos uma relação muito boa com as pessoas na rua e procuramos levantar assuntos que acreditamos poder ajudá-las de alguma forma — declara Fernando.
— Como os espetáculos são feitos em uma roda, na rua, isso já dá uma espécie de interação natural com o público. Crianças e adultos se sentem à vontade para interagir, falar o que bem querem, dar sua opinião sobre tudo. Normalmente pegamos voluntários para participar de uma coisa ou outra — comenta.
— Meia hora antes de começar o espetáculo já estamos lá na rua, brincando com as pessoas. Além disso, buscando desmistificar qualquer coisa do ‘além’ que exista em relação ao artista na cabeça das pessoas, nos trocamos e nos maquiamos ali mesmo, na frente de todo mundo. Com isso as pessoas começam a conversar conosco, trocar ideias mesmo antes de ver ou saber mais sobre o espetáculo — fala.
Vivendo da arte
— Atualmente somos seis componentes, sendo três desde a fundação. Cada um é oriundo de uma cidade do interior de São Paulo e também da capital. E todos viemos para cá por conta dos estudos na UNESP e acabamos ficando. Em comum temos esse gosto pelo que fazemos, independente do quanto ganhamos — afirma Fernando Ávila.
— É muito difícil para muitas pessoas acreditarem que existam grupos de arte no interior vivendo disso, mas estamos conseguindo viver da arte, sem trabalhar em outra coisa paralelamente. É claro que isso é muito difícil, tanto aqui em Presidente Prudente como em São Paulo, muitas pessoas têm que fazer outro trabalho paralelo para poder sobreviver — constata.
— Na verdade é função do Estado garantir educação, saúde, assistência social e cultura também. Entendemos que o Estado tem que pagar, mas como não paga, as pessoas desenvolvem na raça mesmo os seus projetos. No nosso caso, participamos de editais e vendemos nossos espetáculos para eventos privados também, como festas de aniversário e outros — diz.
Segundo Fernando, o grupo encara o público de qualquer lugar como pessoas para conversar, brincar e interagir.
— Gostamos muito de nos apresentar em festas de aniversário de crianças, por exemplo, porque aprendemos muito com elas. Para nós uma festinha dessas e o palco giratório do SESC, de Porto Alegre, onde nos apresentamos, ou o festival Amazonas em Cena que fizemos, não tem muita diferença, porque fazemos nosso trabalho para as pessoas e elas estão em todos esses lugares — expõe.
— Acredito que conseguimos viver da arte por conta desse pensamento, que nos proporciona uma enorme circulação. Normalmente fazemos uma média de 80 espetáculos por ano. Quando paramos para analisar nossa trajetória com uma quantidade dessa de espetáculos, uma história de 14 anos, já tendo rodado por 180 cidades, constatamos que está bom — fala.
O grupo conseguiu um espaço para fazer de sede, dividindo-o com outros projetos de artes cênicas e música.
— Tem um monte de coisas acontecendo por lá, paralelo ao que nós fazemos. Mas não é um espaço no estilo centro cultural, e sim um lugar de concentração, onde temos computador, área para ensaio, coisas assim, e dividimos com outros companheiros. Lá fazemos nossa produção e trabalhamos tentando vender nossos espetáculos seja através de editais ou outra situação e também ensaiamos — conta Fernando.
— Fora isso, participamos do Aquarela, um projeto de assistência social de Presidente Prudente, dando aulas de circo todas as terças-feiras. É um projeto muito interessante com um retorno muito legal do ponto de vista da arte, além de também garantir alguma coisa para a nossa sobrevivência — comenta.
No momento o Rosa dos Ventos tem viajado com seus espetáculos pelo interior de São Paulo, capital e outras partes do país.
— Ao mesmo tempo estamos montando um novo espetáculo, que será no estilo do Saltimbanques. São coisas de circo, acrobacias cômicas e um monte de brincadeiras de circo tradicional, mas quadros feitos para rua. A novidade é que será muito musical — anuncia Fernando.
— Nosso processo é todo coletivo, todo mundo faz tudo, assim estamos às voltas com muitos ensaios e estudos de música, porque estamos precisando aprender a tocar para responder a essa necessidade. Somente um dos componentes do grupo é músico, então acredito que esse é um dos nossos grandes desafios agora — conclui.
(18) 9742-5994 e 9747-6867 é o contato do grupo.