O esmero dos velhos e novos demagogos em prol do embuste da "Copa do Mundo social" é gigantesco. Na África do Sul ainda segregacionista, ainda injusta, e ainda governada por lacaios das potências e, portanto, ainda semicolônia, o corrupto Jacob Zuma, gerente sul-africano, e o corrupto Josef Blatter, chefe da todo-poderosa e bilionária Federação Internacional de Futebol (Fifa), juntaram-se no show de abertura da Copa para insistir na ladainha de que começava ali uma festa do povo. Mais agigantado ainda, entretanto, é o ânimo das massas sul-africanas oprimidas para desmascarar a burguesia festeira de riso fácil.
À farsa dos "centros sociais" erguidos pela transnacional escravocrata de materiais esportivos Nike no bairro popular do Soweto, ao embuste da campanha "1 Goal", com a qual a Fifa tenta emplacar a cobrança genérica e inócua por educação para todas as crianças africanas como contraponto ao alto faturamento dos ricos na Copa, à falácia dos "benefícios sociais" que a Copa, dizem, trará para os povos da África em geral e para o povo sul-africano em particular, a tudo isso, as massas trabalhadoras respondem com mobilizações e retumbantes protestos contra as políticas de degradação das condições de vida e de exploração extremada da mão de obra local avalizadas pela gerência Zuma, e das quais tiram proveito os organizadores do evento, seus patrocinadores oficiais e as empreiteiras contratadas para erguer os estádios e fazer outras obras no país sede do campeonato mundial de futebol profissional.
Exemplo disso foi a manifestação de cerca de 400 operários realizada logo após a partida da Copa entre Alemanha e Austrália, na cidade de Durban no dia 13 de junho, em frente ao estádio Moses Mabhidas. A revolta dos trabalhadores explodiu porque, enquanto transnacionais como Visa, Adidas, Sony e Coca-Cola colocavam seus painéis publicitários no estádio, os operários que ergueram a arena esportiva tiveram seus pagamentos cortados em mais de um terço, de 250 rands por dia, o equivalente a míseros US$ 33, para ainda mais míseros 190 rands.
Os ‘embaixadores’ do Africom
Enquanto transcorre a lucrativa festa futebolística promovida pela Fifa, por uma dúzia de transnacionais e pelo governo oportunista da África do Sul, acirra-se a corrida imperialista em todo o continente africano, seja por meio dos chamados investimentos estrangeiros diretos, terreno onde a China revisionista vem ganhando espaço com uma massiva compra de terras junto às classes dominantes locais, seja pelo caminho da "ajuda humanitária", corolário politicamente correto que visa amenizar a truculência dos esforços pela partilha do mundo, ou ainda pela via clássica e cara mais evidente da ferocidade imperialista: o aumento da presença militar.
É neste cenário que o USA vem reforçando seus esforços de dominação na África por meio do seu chamado "Comando Norte-Americano para a África", o Africom. Trata-se de um destacamento do exército ianque alocado no continente africano para garantir os interesses dos monopólios do USA naquela tão castigada região do mundo, cujos povos vêm há séculos sendo penalizados pelos processos de colonização e recolonização por parte das potências. Os chefes militares do Africom chegam a ser chamados de "embaixadores".
No último dia 13 de junho, por exemplo, dia seguinte à abertura da Copa do Mundo, o chefe adjunto do Africom, o "embaixador" Tony Holmes, chegou a Cabo Verde, na costa oeste da África, a fim de "reforçar a cooperação" entre o USA e o arquipélago cabo-verdiano, onde já existe um Centro de Operações de Segurança Marítima (COSMAR) financiado pela Casa Branca.
Criado em outubro de 2007, o Africom se encontra sediado em Stuttgart, na Alemanha (país onde há o maior número de bases militares ianques fora do USA), contando com um efetivo de 1.300 funcionários civis e militares, mas seus comandantes estão procurando o melhor lugar para instalar um grande destacamento em solo africano, e os governos da Libéria e do Marrocos já se oferecem para receber as tropas do famigerado comando.