Daniel Gonzaga: filho e neto de peixe

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Daniel Gonzaga: filho e neto de peixe

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Cantor e compositor de música brasileira, Daniel Gonzaga é dono de uma forte personalidade e estilo que aparecem em suas composições e interpretações. Filho de Gonzaguinha e neto de Luis Gonzaga, sempre esteve envolvido com música. Hoje, sem se preocupar nem um pouco com o poder do monopólio dos meios de comunicação, que não valoriza a boa música brasileira, ele segue com mais de dez anos de carreira, cinco CDs gravados e muitas apresentações no Brasil e no exterior.

http://jornalzo.com.br/and/wp-content/uploads/https://anovademocracia.com.br/45/23.jpgDaniel começou a cantar ainda criança, fazendo coros infantis para o pai, para Chico Anísio e outros artistas. Aos 15 anos já tinha uma banda e tocava violão/teclado em festas. Aos 21 gravou seu primeiro disco,  este ano, o quinto.

Sem se preocupar com rótulos  depreciativos costumeiramente aplicados aos filhos de grandes nomes da música, quando resolvem cantar,  em seu primeiro disco Daniel gravou duas músicas do pai; uma outra no segundo; algumas do avô no terceiro; fez um quarto somente com composições próprias, e o quinto, com composições de Gonzaguinha.

— Não me atrapalha em nada cantar músicas do meu pai e do meu avô, porque além do hábito de observar  muito (risos) tenho também o de querer mostrar minha própria personalidade em tudo que faço. Esse disco é um apanhado sobre o que penso da obra do meu pai, através das composições que escolhi. Mas não gosto de dizer que é homenagem, porque essa palavra me leva para algo 'baboso'. Também não é um tributo — explica.

Mas apesar de cantar as músicas do pai, em uma espécie de nova leitura, Daniel diz que sua preferência mesmo é compor as suas próprias canções.

— Prefiro compor, porque gosto do processo de criação, produção e elaboração do disco. Fora um projeto que tenho de gravar um disco só de Adoniran Barbosa, meus próximos CDs deverão ser novamente com canções minhas — diz informalmente.

Para compor, ele se inspira no cotidiano do povo, dos trabalhadores do Brasil, que  tentam, na labuta,  defender o pão de cada dia e suas idéias.

Estamos vivendo uma época
de convergência de mídia
muito importante,
onde cada vez mais o autor
é dono do seu trabalho

— Algo me toca a ponto de querer observar sobre. Componho músicas que observam a realidade, da vida, que retrata o brasileiro que todos somos, que batalha todos os dias, defendendo seu salário, com falta de condições, enquanto uma parcela muito pequena pode ser considerada rica — diz.

Daniel compõe música e letra, normalmente sozinho, tendo poucos parceiros.

— Já trabalhei com o Bena Lobo, Nelson Sargento e alguns amigos pessoais. Mas gosto de compor a letra e a música, porque assim posso criar um quadro único, uma espécie de imagem cinematográfica que surge na minha cabeça — comenta.

Influências

Daniel diz que as influências  de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha foram bem marcadas por laços de família, e que só mais tarde, já adulto, pôde realmente apreciar a grandeza da obra dos dois.

— Eu ouvia o Gonzagão e o Gonzaguinha tocando dentro de casa, quase o tempo todo, porque minha criação foi bem "pai, filho e avô". Algumas épocas eu gostava e outras não. Costumo dizer que do meu avô eu gosto muito da parte rítmica, e do meu pai a poesia, o lado social mais engajado. Gosto de fazer essa mistura dos dois, dos ritmos nordestinos, do baião, do maracatu, do xote, mas se eu disser que é somente isso, que sou uma mistura do meu pai e do meu avô, estarei sendo leviano com a minha própria história. Então é muito gostoso tê-los e sabê-los no meio de outros tão importantes — lembra Daniel.

Invasão da música comercial

Daniel observa que não só o rádio, a televisão, os jornais e revistas têm grande poder de comunicação no momento atual: a Internet tem sido um veículo forte, ajudando a divulgar a música brasileira, pois é a própria pessoa que determina o que quer, procurando na rede, "baixando" a música de sua preferência. Mas falta muito para a Internet ser verdadeiramente popular, pois a grande maioria da população ainda não tem acesso a ela.

Além disso, um grande número de artistas têm gravado de forma independente ou em gravadoras como a Kuarup, Biscoito Fino e outras que não se incluem dentro do mercado da música comercial, descartável, fácil de vender.

— Estamos vivendo uma época de convergência de mídia muito importante, onde cada vez mais o autor é dono do seu trabalho. Ele se organiza em pequenos editores que fazem esse recolhimento fugindo das grandes multinacionais do disco — observa.

— A produção dos descartáveis é um círculo vicioso terrível, que mata a   indústria. As vendas de CDs caíram muito este ano, e prossegue com as  formas alternativas do mercado. E a ordem é furar esse bloqueio que existe hoje, desse mercado que se consome. E vejo no país um grande número, principalmente de jovens — e isso é muito bom —, fazendo música e a divulgando para pequenos grupos fieis àquela música — acrescenta.

Segundo Daniel, atualmente muitas pessoas já não se ligam exclusivamente à principal rede de televisão do país. Quando o consumidor assim procede quanto à música, às formas de arte, faz muito mais do que simplesmente adquirir um bem.

— Ele passa a exercer a escolha e ajudar para novas criações, tornando-se cada vez mais dono do mercado. Assim o modelo de mercado da música descartável começa a ruir, dando lugar a  um novo. E estamos vivendo essa troca de casca momentânea: enquanto o mercado oficial, da música descartável, vai degringolando, o não-oficial se fortalece, com as vendas pela internet, a venda de disco em shows, as produções independentes — compara.

Daniel gravou seu disco atual de forma independente e a gravadora  Biscoito Fino o licenciou e está distribuindo. Também vende seus trabalhos nos shows pelo país e exterior, acompanhado, desde 2004, da banda: Cássio na bateria, Pedro e João Gaspar na guitarra, bandolim, cavaquinho, Klebinho no sopro, sax e flauta, e Marcos na percussão.

— Chegamos recentemente de Portugal. Deveremos retornar no segundo semestre. Estivemos em Brasília e São Paulo e vamos  para Vitória, Recife e Rio. Estamos acertando Belo Horizonte e  a Região Norte. Há um mercado paralelo muito forte. É só chamar,  que vamos — afirma com alegria.

— Não podemos parar. Já tenho 35 canções novas e estou selecionando quais pretendo gravar para o próximo disco. Acho importante também abastecer o meu site com músicas novas — finaliza Daniel, convidando a todos para visitar seu site, www.danielgonzaga.com.br

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