1Para um país crescer, e o Brasil não é exceção, proporcionando um lugar bom para todos viverem bem, há necessidade de conhecimento (saber); energia; água; tecnologia (saber-fazer); recursos naturais; transporte.
2A situação do mundo: há cinco séculos, a Europa Ocidental autodenominou-se de “civilizada” e deu-se o direito de explorar todas as partes do mundo. Já em 1780 não havia, praticamente, nenhuma costa do mundo por explorar.
3 Sem nenhuma preocupação ética, nem respeito pelos nativos, foram instalados representações, entrepostos comerciais e postos militares que garantiram uma dominação, implantando um sistema de comércio internacional cruel e explorador que vem se aperfeiçoando e firmando com o correr dos séculos.
4 Os países periféricos têm suas riquezas naturais — tudo o que usamos na vida diária vem da natureza — mas elas não revertem em seu benefício porque sistematicamente são retiradas e exportadas ou têm os preços muito aviltados.
Chegavam no Brasil, extraiam e levavam o pau-brasil. Colheram ouro, diamantes, pedras preciosas que eram enviadas para a Europa sem deixar praticamente nenhum benefício para os “produtores”.
Serra Leoa é um país muito pobre e tem diamantes!
Dá para aceitar ou entender? O que justificaria tal exploração?
Exportamos minérios de ferro a 7 dólares a tonelada. Isto é um décimo do preço da tonelada de banana! Na prática, se um brasileiro viaja por uma semana pelos EUA e gasta 4.500 dólares, o Brasil tem que vender 65 caminhões de minério para ter os dólares. É justo? Permaneceremos no século XXI sujeitos a tamanha exploração?
5 Muitos patriotas, civis, militares, estudantes, trabalhadores, perceberam que energia, água, recursos naturais, se deixados livremente, fora da mão do Estado, são apropriados pelas corporações transnacionais que explorarão tudo, deixando-nos, apenas, os buracos e a miséria.
6 Um secretário de Estado americano declarou: Os países ditos desenvolvidos (1º mundo) não poderão manter o seu atual padrão de vida se não usarem de todos os meios para dominar e controlar as fontes de matérias-primas não renováveis do planeta.
No Brasil executam este objetivo (os países hegemônicos — exploradores) usando cinco estratégias: ocupação econômica (quem domina a economia, domina o país); invasão cultural (destruir nossa unidade linguística); desmoralização das forças armadas e policiais (para diminuir a força e a liderança na defesa do país); desmantelamento dos sindicatos (para dificultar a mobilização popular em defesa da produção nacional); domínio dos meios de comunicação (para distrair a população, afastando-a do real conhecimento dos problemas, impedindo a divulgação do que não é do interesse das corporações transnacionais exploradoras).
7 Os países hegemônicos (exploradores) estruturaram suas economias com a obtenção de energia a partir de combustíveis fósseis (carvão-de-pedra, poluidor, e petróleo, que vai se esgotando). As empresas transnacionais de petróleo sempre negaram que houvesse petróleo no Brasil!
Oscar Cordeiro constatou a presença de óleo no poço de Lobato-BA, demonstrando que a sabotagem que havia não conseguia escondê-lo.
O cartel do petróleo passou a dizer que não havia recursos e capacidade dos brasileiros para explorá-lo. Queriam obter as concessões para explorar livremente o subsolo brasileiro.
Surgiu o maior movimento popular deste país: O Petróleo é Nosso! O Congresso, sob a liderança de Arthur Bernardes, derrotou emenda entreguista e Getúlio Vargas, em 3 de outubro de 1953, sancionou a Lei 2.004, que criou a Petrobrás.
E os brasileiros responderam ao cartel: Alguém já fez? Então faremos melhor! E fizeram!
8 A Petrobrás, com o monopólio estatal, passou a implantar a bandeira brasileira em toda a trajetória do petróleo: do poço ao posto. A Petrobrás é o maior atestado de competência e capacidade do brasileiro. Vejam:
- A Petrobrás investiu 80 bilhões no país em 40 anos, enquanto as multinacionais dos mais variados setores investiram US$ 72 bilhões em mais de 100 anos!
- Recolhe US$ 6,5 bilhões em impostos por ano, enquanto todo o sistema financeiro apenas 3 bilhões.
- Em 1954, produziu 2.100 barris/dia de petróleo. Hoje, 2003, produz 1,6 milhões barris/dia.
- No país em que negavam haver petróleo, a Petrobrás mostrou uma reserva de 1,5 milhões em 1953 e hoje, 20 bilhões de barris de reservas totais.
- Com universidades brasileiras, desenvolveu tecnologias com tal eficiência que chegou a ser a única empresa no mundo a dominar a tecnologia de pesquisa e produção do petróleo em águas profundas.
- Gás, gasolina e óleo diesel são produzidos e queimados. Os derivados petroquímicos são a base da produção de uma infinidade de artigos para o nosso uso (transformados). A Petrobrás desenvolveu centrais de matérias-primas no setor petroquímico.
- Por produzir petróleo no Brasil e reduzir importação, a Petrobrás economizou para o país US$ 284 bilhões.
- Num país agrícola como o nosso desenvolveu a produção de fertilizantes — nítricos, fosfóricos e potássicos (N.P.K) — para que dezenas de empresas brasileiras pudessem utilizá-los, para obter os adubos adequados a cada tipo de plantação.
- Entre 1980 e 1990 construiu os navios de sua frota nos estaleiros brasileiros, alcançando cerca de 80 navios com tonelagem bruta de 6 milhões.
- Com referência ao meio ambiente, o projeto Tamar, com o Ibama, é um exemplo maravilhoso, buscando a preservação da tartaruga marinha.
- É impressionante o volume de empregos e a criação de tecnologias, proporcionado pela Petrobrás, estimulando as empresas nacionais para serem suas fornecedoras de equipamentos — estima-se em 5 mil. Isto representa enorme economia de divisas e melhoria das condições de vida dos brasileiros.
- Nossas empresas, também, foram muito beneficiadas pela atuação da Interbrás que estimulava a venda dos nossos produtos em contrapartida à compra de petróleo.
9 É do presidente Arthur Bernardes o pronunciamento, feito na época da criação da Petrobrás, no auge da campanha O Petróleo é Nosso!
“Já tive o ensejo de dizer, desta tribuna da câmara, que uma das tarefas mais árduas para o político no Brasil é defender as riquezas naturais do país. Estrangeiros se mancomunaram contra elas e conseguem, não raro, aliciar nacionais para trair a sua pátria.”
Para conseguir a exploração do nosso petróleo, desmantelando a Petrobrás, o cartel internacional do petróleo está usando as estratégias abaixo, com estranha conivência de quem deveria defender a Petrobrás:
- mudar a legislação brasileira para permitir aos estrangeiros a exploração do nosso subsolo (água, minérios, petróleo);
- internacionalizar a Petrobrás, tirando-a do seu objetivo de ser nacional, voltada para os interesses do Brasil, com importante compromisso social com a nação e o povo brasileiro;
- transformar a Petrobrás em uma empresa com objetivos financeiros para, exclusivamente, dar lucros (para quem?), retirando-a da sua ação precípua para o desenvolvimento nacional;
- tirar a alma brasileira da Petrobrás, fragmentando a empresa em unidades de negócio, impondo chefes para os negócios lucrativos e cheios de comissões, desenvolvendo uma competitividade interna predatória;
- terceirização dos funcionários. Em vez do melhor sistema empregatício do mundo, o do concurso público em que o empregado insere toda a sua vida no contexto da existência da empresa, a locação feita por intermédio de gigolôs de mão-de-obra exploradores (feitores de uma escravatura “modernizada”);
- funcionário concursado, estável, ganhando o suficiente para alimentar seus filhos (sempre deveria ser assim) tende a ter dedicação, empenho e amor ao seu trabalho. Se tem aposentadoria tranquila garantida pela empresa, não irá atender aos acenos de transnacionais nem será joguete para os grandes lucros das empresas de seguro.
A terceirização combate a alma brasileira na Petrobrás dificultando uma persistente política da empresa dentro do interesse nacional. Alerta!
As empresas de seguro não querem o seu bem, querem sugar de você todo o lucro em benefício de minoria: - o terceirizado, pela instabilidade, é dócil às diretrizes das consultorias estrangeiras;
- diminuir a grande credibilidade que a Petrobrás tem junto à população brasileira. Por isto omitem os seus feitos e divulgam, com exagerada intensidade, os acidentes;
- transformar a diretoria, retirando funcionários de carreira e colocando pessoas ligadas ao sistema financeiro com suas alianças com o cartel internacional do petróleo;
- dividir a formidável e competente estrutura da Petrobrás em unidades de negócio para privatizá-las sem a população brasileira perceber, passando-as para as mãos do cartel internacional;
- criar uma estratégia de internacionalização (tentaram até mudar o nome). Com isto, visam passar as compras, as construções de navios e plataformas para o exterior. Isto já paralisou indústrias nacionais e acarreta aumento das dívidas brasileiras. Eram 5 mil empresas nacionais fornecedoras para a Petrobrás. Hoje, por incrível que pareça, não passam de cinco.
Não perdemos competência!
Tirar do nada e colocar a Petrobrás no nível que atingiu foi tarefa muito dura e difícil.
É um crime não preservarmos as conquistas.
10 Com o petróleo só há duas alternativas: ou está nas mãos do Estado e vai gerar riquezas que beneficiarão o país, ou fica na mão do cartel internacional do petróleo, o que representa sair a riqueza e ficar buraco e miséria.
Rui Nogueira é médico e escritor. Autor de Servos da Moeda, Nação do Sol, Amazônia, Império das Águas e Petrobrás, Orgulho de ser Brasileira.