O velho Estado nega, a justiça semifeudal criminaliza e condena. Bandos de pistoleiros, associados às forças oficiais de repressão, atuam livremente promovendo matanças e terror no campo e as celas das prisões nas áreas rurais vão ficando abarrotadas de camponeses perseguidos, torturados e esquecidos. Presos por lutar pela terra, presos por não encontrar meio de sobrevivência sob as mais cruéis e arcaicas relações de produção, presos por não se submeterem às "leis" do latifúndio, em condições sub-humanas, degradantes, revoltantes, sem direito à terra e à defesa. Basta percorrer as penitenciárias e cadeias públicas das regiões rurais para encontrar mãos calejadas e histórias parecidas. No Brasil existem centenas de camponeses presos políticos, a maioria de forma ilegal. É a política de criminalização da pobreza e da luta pela terra aplicada em todo o país.
Pernambuco
Fábio Paraíso da Luz (foto) foi preso há 8 meses no município de Lagoa dos Gatos, em Pernambuco, e condenado a 4 anos por porte ilegal de armas. Ele estava almoçando junto a outro companheiro da Liga dos Camponeses Pobres quando três policiais militares desceram da viatura com armas em punho para levantarem as mãos. PMs os revistaram e deram busca em toda a casa e nada encontraram, mas apareceram com um revólver acusando que a arma pertenceria a José Ricardo, dirigente da LCP. Para que o seu companheiro não fosse preso, Fábio, em um gesto de camaradagem e coragem, afirmou que aquela arma era sua.
Fábio é um jovem camponês, casado e com filhos. Desde muito participa da luta pela terra no estado de Pernambuco e por isso permanece preso. Os camponeses de Lagoa dos Gatos, Quipapá e de todo o nordeste, através da recém fundada Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste, mantém-se mobilizados denunciando a prisão política de Fábio e lutando por sua libertação.
Em São Joaquim do Monte, agreste do Pernambuco, os camponeses Aluciano Ferreira dos Santos, Paulo Cursino Alves e Severino Alves da Silva, permanecem presos desde o mês de março sob a acusação de homicídio, após as famílias acampadas no latifúndio Jabuticaba serem ameaçadas por bandos de pistoleiros fortemente armados e reagirem. Os três camponeses continuam detidos mesmo após os exames comprovarem que não havia traços de pólvora em suas mãos, descartando a possibilidade de haverem feito disparos.
O governo estadual iniciou uma campanha de desarmamento da população rural, dando a senha para as forças de repressão promoverem massacres de camponeses sem que eles possam reagir.
Pará
No estado do Pará, que é mantido sobre constante campanha de perseguição dos camponeses pobres em luta desde a deflagração da "Operação Paz no Campo" pelo governo Ana Júlia Carepa — PT, dezenas de camponeses e lideranças encontram-se detidos. Doze camponeses que participaram da tomada do latifúndio pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas foram presos, acusados de roubo na Rodovia PA-150 no município de Eldorado dos Carajás, no sudeste paraense, acusados de porte ilegal de armas.
O poder judiciário, carranca de proa do latifúndio na campanha de criminalização do movimento camponês, incrementa os ataques. A promotora da Vara Agrária de Castanhal na região nordeste do Pará, Ana Maria Magalhães Carvalho, encaminhou no último 5 de março à Procuradoria Geral do Estado o pedido de execução de todas as liminares de reintegração de posse de todos os latifúndios tomados em 30 áreas da região que abrange a Rodovia Belém-Brasília.
O Tribunal de Justiça do Pará aceitou recurso da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara e concedeu mandados de reintegração de posse para que o governo estadual desocupe as duas fazendas e tire de lá as famílias camponesas.
Recentemente, o governo do Pará constituiu uma força-tarefa composta por policiais militares, bombeiros e agentes de saúde pública que atua diretamente nas ações de repressão e reintegrações de posse. No mês de março, o governo de Ana Júlia Carepa divulgou o número de 111 ordens judiciais de reintegração de posse paralisadas e cobrou rapidez nos seus julgamentos. O jornalista Josias de Sousa, da Folha de São Paulo, divulgou em seu blog no dia 7 de março que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, telefonou para a governadora Ana Júlia e para o governador de Pernambuco Eduardo Campos pedindo que não meçam esforços na mobilização do aparato policial do estado contra as ações violentas do MST.