Para cerca de 3000 famílias que ocuparam uma área de 27 alqueires, no Parque Oeste Industrial, região Sudoeste de Goiânia, é um sonho real. A ocupação teve início no dia 05/05/2004, hoje 2.862 lotes ocupados e 1,7 mil já têm construções de alvenaria de 1 a 3 cômodos. A área, localizada a 15 minutos do centro da capital, servia à especulação imobiliária, além de ser local de desova de cadáveres e desmanche de carros roubados. Os proprietários do terreno, Anália Severino Ferreira e Antônio Severino de Aguiar, devem cerca de 3 milhões de reais de IPTU aos cofres públicos.
Os moradores do Setor Sonho Real (é assim que o setor é chamado pelos moradores) são, em sua maioria, operários da construção civil, empregadas domésticas, aposentados e desempregados. São pessoas que, acima de tudo, acreditam que construir um mundo mais justo é possível. Mas, eles sabem que a construção desse mundo depende só deles.
Diante da inércia do Estado burguês-latifundiário, o povo mais uma vez toma o destino em suas próprias mãos, fincando suas barracas de lona em meio à poeira e lama e com muita coragem e determinação, enfrentando a repressão policial e as mentiras da grande mídia.
A desocupação da área já foi adiada por três vezes. Estado e Município tiram o corpo fora, alegando que não são partes no processo, que a ocupação é uma questão jurídica e não social. Enquanto isso, os diversos políticos envolvidos com a ocupação fazem das ruas empoeiradas do setor um palco para as campanhas eleitorais fora de época. Nas assembléias, o microfone é disputado por lideranças das associações de moradores e vereadores, como Elias Vaz (PSOL) e Maurício Beraldo (PSDB). O povo não tem voz nas assembléias, mas não é preciso ir longe para ouvir dos moradores que eles não confiam nas promessas eleitorais.
A polícia se prepara para gastar 1 milhão de reais com o despejo das famílias, prometida para o dia 31/01/2005. O esquema repressivo, montado com apoio logístico, contará com 3 mil soldados, 100 veículos de carga, 300 ônibus, 50 ambulâncias (com UTI) e um hospital de grande porte. A população também se prepara para resistir. Os moradores afirmam que não sairão da área, e estão dispostos a lutar até o fim pelo chão que é deles por direito. Eles têm pouco medo da morte, pois a vida nas condições em que vivem não vale nada ou muito pouco.
Nas palavras de um morador: "Podem até nos expulsar do nosso chão, mas primeiro o cerrado vai ver uma tsunami, uma tsunami do sangue de cada morador. Quem sabe assim o presidente não olha para os pobres do seu país?"