Camponeses da área Douradinho trabalham na construção da ponte
Os camponeses de Douradinho (município de Prata – MG), organizados sob a bandeira da Liga dos Camponeses Pobres, há pouco mais de um ano tomaram um latifúndio da região e realizaram o Corte Popular, que nada mais é que a entrega da terra aos camponeses sem esperar pela burocracia do INCRA. Surgia, assim, a Área Revolucionária Douradinho, com aproximadamente 50 famílias.
Mas tomar a terra é apenas a primeira parte de uma jornada mais prolongada que passa por resistir na terra, produzir e desenvolver novas relações de produção. Os desafios não são pequenos. Porém, mais uma vez, fica demonstrado que a organização é a base de tudo.
Das muitas questões a serem resolvidas na área, uma sobressaiu: a necessidade da construção de uma ponte sobre o rio que corta a área. As pessoas, até então, tinham que atravessar o rio num cabo de aço improvisado. Além disso, era extremamente difícil escoar a produção. Logo, era preciso uma ponte. Mas como construí-la? Seria necessário um técnico, um engenheiro? Nas assembleias populares, o assunto foi discutido e a decisão foi tomada: “Nós construiremos a ponte com nossos conhecimentos e nossa mão de obra! A prefeitura já demonstrou não estar interessada em nossos problemas. Se queremos a ponte, temos que fazê-la!”
Mas a desconfiança era grande. Como construir os pilares? Como jogar concreto no leito do rio? Aguentará a ponte o peso de um caminhão?
Seu Joaquim, um dos camponeses da área, usando sacos de areia para desviar o curso da água, começou a cavar os tubulões. Outros poucos se prontificaram a ajudá-lo. Cavaram, cavaram sem descanso, diante de olhares receosos. Foram usados tambores de 200 litros como fôrma. Somente quando os primeiro pilares começaram a aparecer acima da água, é que novos voluntários surgiram, aumentando a confiança de que todo aquele esforço não seria em vão.
Durante meses, o trabalho da ponte foi executado sempre aos fins de semana, pois cada camponês também tinha que cuidar da produção em seu lote. Há que se destacar a participação das companheiras do Movimento Feminino Popular, que durante todo esse tempo organizaram a alimentação coletiva para os homens.
Sobre o rio que antes separava, agora surge uma ponte que liga
Com a obra já bem encaminhada, vendo-se acuada pela audácia e disposição dos homens e mulheres, a prefeitura de Prata enviou ao local alguns funcionários e algumas toras de madeira. Os camponeses observaram a movimentação durante alguns dias e verificaram que os funcionários públicos estavam na verdade atrasando a obra. Foi quando decidiram usar a madeira e reassumir o controle da obra, dispensando a “boa vontade” do prefeito. As toras de madeira foram carregadas no braço, colocadas em seus devidos lugares. Chegava ao fim uma obra da engenharia popular. Com poucos conhecimentos teóricos, mas com muito vigor e organização, sobre o rio que antes separava, agora, surge uma ponte que liga.
Na festa de inauguração da ponte, pessoas de todas as redondezas vieram dar vivas à união do povo. Vieram inclusive companheiros de Campina Verde, aprender com o exemplo dos camponeses de Douradinho. Dois carros atravessaram de uma margem à outra. A prática é o critério da verdade: a obra estava perfeita! Foi cantado o hino Conquistar a Terra, sob uma salva de palmas e fogos. Também uma placa foi colocada no local, saudando a todos pela vitória.
Um dos camponeses que participou de todo o processo foi perguntado sobre qual era a lição que podia ser tirada daquela construção. Ele respondeu: “Nada é impossível para nós. Com a construção da ponte finalizada surgem novos desafios. Mas nosso ânimo agora é bem maior. Nosso próximo passo é construir um campo de futebol para as crianças e jovens. E alguém tem dúvida que vamos fazer?”