A nossa cidadania depende diretamente da nossa capacidade de indignação. Esta, por sua vez, só se concretiza a partir do exercício permanente da perplexidade.”
A única coisa que não podemos perder nunca é nossa capacidade de indignar. É isso que impulsiona as mudanças”.
Helena Greco
Nos verdes e idealistas anos da juventude, nos idos de 1977, tivemos o prazer de conhecer na luta pelas liberdades democráticas e pela anistia a Dona Helena Greco. Já com sessenta e um anos de idade, aquela senhora de cabelos brancos nos transmitia determinação, senso de justiça e coragem.
Ela deixou sua marca na luta contra o regime militar fascista e apesar de participar da construção do PT e ser eleita vereadora, “sempre criticou e combateu o burocratismo, o autoritarismo e o direitismo que hoje prosperam sem limites no partido que ajudou a construir…” como bem lembrou sua filha Heloisa, a Bizoca.
Bizoca recordava também em um histórico escrito em 2008 que “para ela, os pontos programáticos da luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita continuam valendo: a erradicação da tortura; o esclarecimento circunstanciado dos crimes da ditadura militar; a localização dos restos mortais dos desaparecidos políticos; a nomeação, responsabilização e punição dos torturadores e assassinos de presos políticos, bem como daqueles que perpetram os mesmos crimes nos dias de hoje.
Tornou-se referência de luta contra a tortura, que continua a ser uma das instituições mais sólidas no Brasil – junto com a Rede Globo e o latifúndio – e contra a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, o encarceramento em massa e o genocídio da nossa juventude negra.”
E nessa mesma rememoração Bizoca destacava que a Dona Helena então “do alto de seus noventa e dois anos de idade incompletos ela continua se reivindicando – com muito orgulho – “feminista radical e militante socialista de extrema esquerda”.
Na merecida homenagem em sua memória, seus 95 anos de muitas lutas, no velório do cemitério do Parque da Colina, em Belo Horizonte, tivemos a satisfação de reencontrar velhos militantes de lutas e também o dissabor de ombrear com aqueles que hoje traem os ideais proclamados no final dos anos 70 e mostram a face da colaboração de classes e da afinidade com os torturadores e com os exploradores do nosso povo.
Os dois caminhos que para os jovens que então se incorporavam na luta tinham uma linha tênue de demarcação, deslindaram posições e hoje aparecem como campos totalmente opostos e antagônicos. Não merecem homenagear a Grande Guerreira que foi a Dona Helena, esses que hoje se refestelam no velho Estado reacionário, traem as causas populares, atuam junto com os antigos torturadores, contribuem com a repressão e a superexploração dos trabalhadores.
Dona Helena e todos aqueles que conservam o espírito jovem e idealista, a luta continua! A luta por uma verdadeira e nova democracia no país, o respeito aos direitos do povo, a punição de todos torturadores e a demarcação inconciliável com todos oportunistas e traidores.