Trabalhando pela divulgação da música regional interiorana, Oswaldinho e Marisa Viana misturam viola, percussão artesanal, cancioneiro popular e causos do caboclo da roça em seus shows. Paulistas com influências das ‘coisas do mato’, como dizem, o duo compõe letras e músicas que retratam suas vivências, além das homenagens a grandes amigos violeiros.
Durante as apresentações, misturam-se viola, causos e percussão artesanal, tocada por Marisa
— Sou de Piraju, interior de São Paulo, e lá pelos meus 10 anos de idade comecei a aprender violão. Com uma forte ligação com a música da minha região e a MPB, participei de muitos festivais universitários, isso no comecinho dos anos 70 — conta Oswaldinho.
— E foi nesses eventos da universidade que conheci a Marisa, ela fazia biomédicas e eu engenharia civil. Em 1979 acabamos nos casando e seguindo na trilha da música juntos. Com o tempo fui adquirindo uma queda maior pela viola caipira, aquela tradicional de 10 cordas, e decidi me dedicar — continua.
— Sempre fui envolvida com a arte: fiz balé clássico e contemporâneo, pintura, violão, piano, flauta, e por volta dos 12 anos entrei para um teatro infantil e depois adulto. Isso acabou me levando para os festivais, tanto de música como de poesia, porque gosto muito de escrever — recorda Marisa.
Embora seja paulistana, Marisa teve muitos momentos de contato com as coisas da terra no sítio de seus avós.
— Isso está evidente no nosso disco autoral, “No Balanço da Rede”, um retrato do que vivemos na infância. Depois, viajando com o Oswaldinho pelo interior, me envolvi ainda mais com as coisas do mato, o som dos passarinhos, das cachoeiras, e isso me levou a confeccionar instrumentos com sementes de árvores, tampinhas, coisas que fui encontrando — conta.
— Com esses instrumentos nos apresentamos nos shows: ele faz as cordas, eu a percussão e cantamos juntos. Meu filho Daniel Viana, que também é músico, às vezes também participa. É algo muito harmonioso, tanto de vozes quanto de instrumentos. Surge um clima de mato mesmo, aquela coisa da pessoa se sentir em uma pracinha, com o som de um sino, um passarinho — continua.
— Mas não somos uma dupla grudada, e sim um duo. O Oswaldinho tem o seu trabalho solo, eu faço as minhas coisas. Tenho minhas composições, ele tem as dele, e temos as nossas em comum. Além disso, trabalho com outros artistas e faço um pouco de teatro infantil com minha percussão — explica.
Oswaldinho tem um repertório repleto de causos que conta no show ‘Causos e cantorias’.
— São causos quase verídicos (risos) que venho colecionando desde o tempo de moleque lá na minha terra. São coisas do caboclo da roça, causos de cidade do interior, quase de domínio público. As vezes conto um dizendo que é da cidade tal e alguém no meio do povo grita: ‘Não, esse é daqui. É do fulano’ — comenta Oswaldinho.
— Tenho perto de 200 a 300 causos e vou contando conforme o que lembrar na hora, nada programado. E tem as cantorias, essa musicalidade regional caipira brasileira. Fazemos também outros shows, por exemplo, ‘Viagem pelo Brasil Caboclo’, tocando nossas músicas e de outros autores: Renato Teixeira, Almir Sater, Tonico e Tinoco, e mais — continua.
Música regional contemporânea
— Considero nossa música contemporânea porque os arranjos são atuais. Não é aquele caipira de dupla antiga, tipo Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, e outros. Mas, apresentamos músicas do trabalho deles com a nossa linguagem. Também temos as instrumentais, por exemplo, Villa-Lobos na viola caipira, e outros clássicos — fala Oswaldinho.
— Nos anos 90 abrigamos um espaço cultural aqui em São Paulo, onde se apresentaram Xangai, Elomar, Dércio Marques, Zeca Baleiro, Renato Teixeira, Inezita Barroso, e outros artistas. Pudemos conviver com esse pessoal e isso nos influenciou, contribuindo de alguma forma para o trabalho que apresentamos hoje — continua.
— Temos a preocupação de divulgar a música brasileira de origem interiorana, trabalhando o cancioneiro tradicional com uma linguagem atual. Quem ouve nossos cds percebe que existe uma coisa de verdade, aquilo que realmente vivemos. É sempre fruto do que observamos, do mundo a nossa volta. Às vezes faço as letras e ele a música, depois trocamos, outras vezes fazemos tudo juntos — acrescenta Marisa.
O último disco do duo foi uma homenagem a Elpídio dos Santos, selecionado entre os três melhores trabalhos, no gênero, pelo Prêmio de Música Brasileira de 2010.
— Ele foi o compositor preferido das trilhas dos filmes do Mazzaropi. Fizemos um intenso trabalho de pesquisa, inclusive junto a sua família. No momento estamos fazendo shows de disco pelo circuito cultural paulistas, Sesis e Sescs. Além disso, estamos trabalhando outro autor, o João Pacífico, com quem tive o privilégio de conviver nos seus dez últimos anos de vida — conta Oswaldinho.
— Pude ter o prazer de levá-lo em vários shows que fiz. É um autor com característica bem regional mesmo, musicalidade simples, mas, uma poesia muito interessante. Estamos em estúdio com esse trabalho do João Pacífico, creio que lançaremos este ano — anuncia.
www.omviana.com.br é o contato do duo.