Para manobrar politicamente, a gerência FMI-PT tem o espaço do tamanho de todos os latifúndios deste país.
Na temporada de traições nacionais de setembro e outubro, por exemplo, surpreendentes números foram elevados sobre a bruma das metodologias tecnocráticas e metafísicas. Se é impossível sustentar que há aumento de emprego, a opção é dizer que caem as taxas de desemprego.
Desempregado, dizem, é o que, tendo “10 anos ou mais de idade” (!), procurou trabalho nos 30 dias antecedentes à última semana do mês da pesquisa realizada em cerca de 38 mil domicílios, por seis regiões metropolitanas. A taxa anunciada diz respeito ao porcentual de desempregados em relação à PEA (População Economicamente Ativa) e corresponde à soma dos que estavam trabalhando com aqueles que procuraram emprego.
A propósito, no período, a pessoa “que tenha procurado emprego entra na PEA”, diz textualmente o IBGE.
Mas, como pode haver “aumento de emprego e renda” se o sistema de exploração vem se desenvolvendo como nunca?
Vejamos: não é verdade que há mais de uma década os comerciários foram atingidos em cheio pela liberação do comércio aos domingos? É ou não do conhecimento público que o aumento de “vagas”, mesmo assim, temporárias — no comércio, na indústria etc. — tende a ocorrer nos últimos meses do ano, em razão do aumento na demanda de bens e serviços? É exagero dizer que a política imperialista retomou a extensa dilatação de cada jornada, que tem provocado seguidas perdas de garantias trabalhistas e promove a mais intensa exploração do trabalho, transformando essas relações ao nível em que viviam os trabalhadores do início do século 20? E nem por isso o desemprego diminui nos demais meses.
II
O incremento do desemprego estrutural é coisa que a própria imprensa — escudeira do imperialismo, do latifúndio e da burguesia rentista em nosso país — orgulhosamente anuncia como um vitorioso programa político-econômico no país, desde o tenebroso 1o de abril 1964, inclusive como forma de atrair capital estrangeiro, com asseguradas premiações na forma de juros crescentes e garantia de remessa de lucros à origem.
E ao estonteante aumento da jornada de trabalho, juntam-se as mais inacreditáveis perdas trabalhistas e políticas do proletariado em toda a história (de documentos ocultados) de nosso país. Antes da aprovação da reforma antitrabalhista que vem sendo articulada, há muito já se pratica a mais descarada sabotagem aos acordos coletivos, o monitoramento das federações sindicais sob a direção da CIOLs imperialista, assaltos aos já minguados salários, ao descanso semanal, às férias, ao 13o, recusa do registro em carteira, etc., tudo a pretexto do “livre entendimento entre patrões e empregados”.
O desemprego sob o capitalismo na sua fase mais degenerada, o imperialismo, é um dos instrumentos imprescindíveis para regular o mercado da força de trabalho, o que permite incrementar e intensificar a exploração da parte ocupada dos trabalhadores. Mas com que cinismo esses guardiães do putrefato regime de exploração do homem pelo homem tratam a questão do desemprego! Aprofundando o quadro de miséria ideológica da atual “administração”, a triste figura do operário-padrão do FMI anuncia o lançamento de um tal Pacote Cidadania.
Prove à luz da ciência social — toda essa hierarquia dos sacerdotes do oportunismo e do revisionismo, impostores das mais diversas espécies espalhados pelo planeta —, como e desde quando, um homem obrigado a vender sua força de trabalho e arrastado pela escravidão assalariada, lhe é concedida a condição de cidadão!
Os que desejam a independência nacional começam a entender que de nada serviria a esses vendilhões da pátria entregar ao imperialismo as empresas e minérios da maior importância estratégica, desnacionalizar o solo, o subsolo, o mar territorial e o espaço aéreo — como fazem incansavelmente, se lhes faltassem algo. Mas o quê? Ora, para que os entreguistas submetam toda a economia e a tecnologia, a política, o aparato de Estado e o sistema de governo aos interesses estrangeiros mais espúrios — eles têm que dispor de uma única e decisiva coisa — a possbilidade de levar às últimas consequências a exploração do trabalhador brasileiro.
Não há outra maneira no mundo de se obter valor, lucro, juros e a constante elevação de suas taxas, a não ser explorando o trabalho humano.
Portanto, não há como libertar o nosso país das garras do imperialismo sem que o povo trabalhador quebre os grilhões da exploração e instaure a sua verdadeira democracia e independência nacionais. Apenas consegue ser cidadão um homem que se liberta da sua condição de proletário.
Afinal, quem pode ser livre num país de escravos senão que os exploradores?