Ao longo da história da República as classes dominantes brasileiras estiveram empenhadas em vários projetos para o país. Dada a condição semicolonial, os projetos que implicavam em maior autonomia foram detonados diretamente pelo imperialismo ianque (veja-se os casos de Getúlio, em 54, e Jango, em 64). No máximo o império admitia sócios menores para atuarem como prepostos de seus interesses. Este tipo de relação prevaleceu, embora com algumas contradições, na ditadura de Getúlio, na administração JK e no gerenciamento militar.
A burguesia burocrática, engendrada pelo imperialismo, sempre acalentou o sonho do “Brasil grande potência” e buscava, sempre que possível, dar um rumo desenvolvimentista à economia. Mas se acovardava diante da menor ameaça do império. Por isto nunca pôde ostentar um projeto nacional.
Ela não tinha um projeto nacional, mas tinha intenções.
Hoje, com a chegada do oportunismo petista ao gerenciamento do Estado, com o seu apoio, e a adoção radical das determinações do FMI e do Banco Mundial, esta burguesia manifesta seu desencanto na frase do vice José Alencar: “Nosso discurso de campanha ainda não chegou ao poder”.
As classes dominantes perderam o domínio sobre o que fazer, estão à deriva. Como não têm projeto nacional e, nem mais, intenções, aprofundam a sua covarde submissão entregando o país à sanha das máfias internacionais. Estas, por sua vez, sabem como inflar o ego do vaidoso gerente e, assim, ampliarem mais ainda a derrama.
Enquanto isso os camponeses ensinam como governar; como organizar os recursos disponíveis em favor da satisfação de suas necessidades; como coletiva e democraticamente decidir os rumos de sua luta — seja pela terra, seja pela produção, ou pela aquisição de novos conhecimentos. Estes têm, juntamente com a classe operária e a imensa maioria do povo, um projeto para o Brasil.
Como a gravidez, em seu início desenvolve-se sem ser notado, mas já traz consigo as principais características do que será quando crescer.