Editorial – Duas éticas

Editorial – Duas éticas

O povo trabalhador não existe. Vá lá que seja apenas impressão, talvez exista. Mas, diante dele, que ninguém se perturbe ou lhe dirija a palavra.

Ao camponês e ao índio, é dever dos missionários — não importa a corrente do cristianismo — evangelizá-los, aos jagunços matá-los, aos cartórios registrar suas terras em nome do honesto latifundiário ou do investidor estrangeiro que vem nos ajudar.

O operário não necessita de emprego, mas de trabalho, vale dizer. Vagas, só na cadeia. Nenhuma falta mais lhe fazem as garantias trabalhistas e previdenciárias — porque, todos sabem, a situação anda difícil. Paguem-no 300 ilusórios. Há quem se disponha a trabalhar por menos. Ao proprietário de um pequeno meio de produção, no campo ou na cidade, ele que trate de baratear custos e apoiar as corporações monopolistas. Afinal, vem sendo ajudado com os salários que baixam. O aumento constante de impostos lhe fará bem, enquanto que o sistema tributário deve se tornar mais atuante, tanto no imposto vertical quanto no horizontal onde todos acabam. Que os empobrecidos não reclamem da política creditícia. Pouco importa a sua semelhança com o sistema de aviamento. Os aposentados, por exemplo, têm crédito à vontade, sendo a restituição do empréstimo acrescido de juros aos bancos tão imediata que antes do ancião abastecer o seu estômago já efetuou pagamentos — é natural.

Quanto às taxas internas de juros, elas têm se elevado constantemente de forma educativa, para dar mais responsabilidade ao povo e honrar os compromissos de refinanciamento permanente da dívida externa.

Já as universidades são coisas do primeiro mundo, não para os países do terceiro. Basta escola do terceiro grau, com humanismo terceira via. Assim mesmo, tudo bem pago. Autorizam-se MBAs, mestrado, doutorado, PHDs. Mas pesquisar, só o que a metrópole mandar.

O colonizador pode ficar com as florestas. Aliás, com o solo, o subsolo, o espaço aéreo, com a água e a com a carne humana. O ianque, principalmente, é o que pode administrar tudo isso porque, afinal, tem tecnologia.

A arte e a literatura devem ser a do realismo latifundiário e imperialista. Isso é o que precisa ser mantido nas rádios, TVs, teatros. O resto é coisa do passado.

Ah, cuidado com o povo pobre. Ele é perigoso, é verdade. Quando um dia chegar ao poder, ele vai nos obrigar a trabalhar. Vai proibir a mais-valia, o lucro máximo, o monopólio privado, a pornografia, livros de auto-ajuda, latifúndio, especulação financeira, a cocaína, outros "hábitos", a venda do país, a dívida externa, o imperialismo… Será um desastre.

II

Enquanto falam de ética e levam a mão à boca numa moção de censura aos seus colegas acusados a cada novo escândalo, deputados aprovam, entre outras coisas — por "acordo de lideranças", como em 7 de julho, o projeto de Lei 4776/2005 —, a entrega da floresta amazônica, parte do território nacional, nas formas de arrendamento com prazo de validade que podem chegar a 60 anos.

As classes dominantes e decadentes querem prescrever, de maneira fundamentalista: isso é do bem, aquilo é do mal, porque isso lhes interessa e aquilo afeta os seus interesses. Quem pensa e age contra os seus interesses é do mal. Mas elas, que são minoria e levam às últimas consequências a exploração das massas trabalhadoras arrastando o país à miséria, tudo o que fazem é do bem.

A "administração" FMI-PT, retira todos os direitos do povo e entrega a nação à rapina do imperialismo. Por que a moral dominante dos parlamentares não alcança coisas desse tipo? Para eles, é falta de ética revelar determinadas manobras de conhecimento restrito. Seria falta de decoro. Não corresponderia à prática usual protocolar e aos seus métodos de chancelaria agir contra as corporações estrangeiras, contra o latifúndio; contra a exploração do homem pelo homem e a entrega do país ao imperialismo.

Para o povo trabalhador, isso não passa de vigarice política. Quem se alia ao sistema, se propõe a administrá-lo — a exemplo do cartel oportunista que (também) dirige o PT —, obrigatória e necessariamente será corrupto. Não há outra forma de manter partidos eleitoreiros e o que eles têm a coragem de chamar de administração pública, ou seja, a prática de desviar o trabalho de milhões de funcionários públicos, juntamente com fabulosas quantias de dinheiro público e perverter toda a estrutura das políticas sociais básicas — que até há pouco chamavam de políticas públicas.

A ética é a Ciência, a teoria da moral e da moralidade. É sistema de conhecimento que estuda as leis objetivas do desenvolvimento das necessidades sociais humanas, em condições históricas concretas. A origem e as fontes das normas morais são materiais; em última instância está determinada pelo regime econômico, social e possui um caráter histórico.

Decadentes, os representantes do capital financeiro, rentista, improdutivo, parasita, não aceitam a ética como ciência. Ainda bem, porque a ética se transformou de categoria abstrata de comportamento social em ciência a partir do surgimento das revoluções proletárias, enriquecida com os aportes científicos das experiências das massas para a construção de uma nova sociedade. A luta pela libertação do trabalho, pela independência das nações e pela constituição de repúblicas democráticas de novo tipo não se fazem sem uma nova moral. E a moral do povo trabalhador é imbativel.

 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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