Pela manhã, já o governo espanhol apontava o ETA (Euskadi ta Askatasuma — Pátria Basca e Liberdade) como autor do atentado. A três dias das eleições, a acusação ao ETA trazia a vantagem de ocultar o governo como co-participante da destruição do Iraque (país que não havia agredido o USA, muito menos a Espanha) e as ingerências de Aznar em outros países. Além do mais, fortalecia a direita nas eleições e a repressão.
Quanto mais o franquista José Maria Aznar, primeiro-ministro, acusou o ETA e promoveu humilhações, prisões e torturas de bascos, tanto mais cresceu a ira popular. À noite, ainda no dia 11, já as redes monopolísticas de comunicação sob a direção do USA, orquestravam suas campanhas de intrigas e difamações. Elas preferiram acusar a Al-Qaeda, que servia melhor à metrópole, onde Bush perde feio, e ajudaria Blair, autômato bastante danificado.
As TVs deram rédeas aos histéricos mensageiros coloniais e hospedeiros das desgraças da humanidade, que fociferaram, praguejaram, insultaram a inteligência e a sensibilidade humanas. Embebedaram-se no sangue das vítimas, banharam-se no calvário dos oprimidos, deliciaram-se com os gritos de dor, com o desespero e a visão aterradora da guerra que seus patrões amados movem contra os povos do mundo inteiro.
No dia 13 multidões encheram as ruas da Espanha exigindo que Aznar revelasse os verdadeiros autores do genocídio, dos quais, acusavam, ele se tornou sócio — cenas que a rede mundial de intrigas evitou comentar. A divulgação do desmoralizado vídeo em que aparecia um porta-voz militar da Al Qaeda reivindicando a autoria do atentado não conseguiu mais que animar o povo e engrossar as multidões nas ruas.
Um desarranjo temporário fez anunciar que divergências entre as políticas de repressão opõem a Europa ao USA. Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Holanda, e, agora, Polônia, querem revisão na política de agressão. Sacos plásticos recheados de ianques e comparsas revelam que é perigoso oprimir outros povos, prática que pode trazer a guerra para casa — mas não em forma de atentados. É que definitivamente o sentimento antiimperialista cresce em todo o mundo, o que inclui as potências.
II
Saiu fortalecida a disputa entre Mariano Rafoy, do PP (Partido Popular), fascista e José Luiz Rodriguez Zapatero, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), mas o povo espanhol não esquece. O PSOE no poder defendeu a integração da Espanha à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando a denunciava na oposição. O PSOE cortou investimentos públicos essenciais, impôs a lei de demissões, até que o desemprego alcançasse os mais altos níveis na União Européia, afora os escândalos diversos na administração de Felipe Gonzáles.
Zapatero, eleito, confirmou: vai retirar o contingente espanhol do Iraque em junho, entre outras tantas promessas, mas pode negociar. E anunciam que ele é tão bom quanto Chávez, Luiz Inácio e Kirchner.
A Europa está farta de “Vote no ladrão, não vote no fascista”, a exemplo da vergonhosa campanha de Chirac no último pleito da França, como se os grandes ladrões não fossem fascistas.
Não foi a reeleição do fascismo que o povo espanhol evitou, foi o golpe de Estado e novas matanças.
O imperialismo não pode voltar atrás. Precisa da pilhagem como as nações necessitam ser livres. É ele o terrorista, o que acusa serem iguais o terrorismo e as lutas de libertação nacional.
A corrente imperialista que tinha o nome de nazismo incendiou o parlamento alemão, arrasou Guernica (na Espanha) com seus bombardeiros, massacrou populações civis nas campanhas punitivas etc. A todos esses genocídios atribuia responsabilidade às vítimas, às quais chamava de terroristas, principalmente aos membros da resistência na Europa. Pior, as potências capitalistas, até 1942, reproduziam as intrigas nazistas.
Hoje a rede mundial do “consenso” silencia sobre o terrorismo imperialista, as chantagens, as pressões que exerce contra qualquer setor da população oprimida, em todos os países. Lógico, porque o fascismo é a forma de administração do capital financeiro, abertamente terrorista, com o fim de esmagar a resistência no mundo, ao que tudo reduz à rapina, ao genocídio e à escravidão dos povos.
O povo da Espanha e do mundo inteiro não se deixou enganar. Voltará às ruas contra a guerra imperialista. Serão as massas oprimidas que destruirão o imperialismo e todos os seus auxiliares oportunistas, na linha de frente e na sua própria retaguarda.