Editorial – Nesse primeiro ano

Editorial – Nesse primeiro ano

Não houve qualquer engano. Nem radicalismos.

Já no primeiro número, AND sustentava ser o Estado brasileiro uma ditadura da oligarquia latifundiária aliada a uma burguesia monopolista improdutiva, sob o controle do imperialismo, notadamente ianque. Explicava que as eleições servem para sustentar, e não mudar, tanto o caráter do Estado quanto o sistema de governo. Para o conteúdo pouco importa o censo eleitoral, exceto como reafirmação da dominação dos exploradores.

Quando o gerenciamento militar no Brasil (1964/1988) foi substituído por um outro, essa troca jamais significou a chegada do povo trabalhador ao poder, mas a sofisticada continuação e o aprofundamento da exploração dos camponeses e proletários, porque as mesmas classes que dirigiam – e seguem dirigindo – o nosso país, mantêm em suas mãos todo sistema do capital opressor e decadente.

Quem não tem o Estado não dispõe do poder. Quem não tem poder come as sobras, ou não come nem mesmo o que produziu.

Ao surgir, AND antecipou que a eleição seria uma farsa, que os candidatos manobravam ao sabor do oportunismo eleitoreiro e firmavam tenebrosos acordos, inclusive com Cardoso.

Dos quatro, foi eleito o "operário"; um outro se tornou ministro; o terceiro tinha o governo estadual garantido; o quarto foi considerado inocente – tanto quanto o seu antigo chefe. Sem qualquer arrependimento, os partidos do oportunismo eleitoreiro entraram em forma e aprovaram um Fórum Privilegiado, favorecendo o antecessor que permanece solto.

II

Por esquerda se entende pessoa, partido, movimento, pensamento e prática dos que travam os mais duros combates pela independência nacional e emancipação das classes oprimidas.

Mas quem é a direita nesse país, se essa "frente" se autodenomina esquerda?!

O governo de unidade popular tem menos autonomia em relação ao imperialismo que uma prefeitura falida diante da administração federal; é tão popular que faz a alegria dos latifundiários e do capital especulativo, nacional e estrangeiro.

O salário real dos trabalhadores vem se tornando o menor dos últimos tempos e as garantias trabalhistas são arrastadas à condição dos primeiros dias do século XX, quando simplesmente não existiam.

Como o antecessor, o atual governo anuncia o fim da Era Vargas, mas promove o que de pior existiu naquele período. O sindicalismo amarelo, para não afundar em meio às contradições insolúveis, sob as ordens da Ciosl, acerta entre os comparsas corporativistas o esquartejamento do Fundo de Pensões. Os partidos do oportunismo e do revisionismo, juntamente com as sessões trotskistas e as king ONGs – obedientes à ventriloquia das internacionais imperialistas – desembrulham discursos encomendados e compõem desastradas estratégias, a exemplo do que acontece nos demais países da América Latina.

As agências reguladoras privadas comprimem o mínimo em R$ 240 e elevam os demais preços, enquanto o governo finge estar irritado. Impostos, novos e antigos, são consagrados nessa administração.

O que pode fazer o governo aos seis meses de existência?, perguntam os obscuros tecnocratas do plantel "frente popular", confundindo mandato político com longevidade humana – apesar do governo do atual modelo estar beirando os 40 anos, já que nasceu em abril de 1964.

O latifúndio contrata mercenários para apoiar o grande massacre ao movimento camponês. Os rapazes do acordo eleitoreiro nem pensam em se opor – evidente. Da mesma forma, nada pode fazer a atual "alternância" senão oferecer ao povo (além do continuísmo e discursos carregados de futilidades) projetos de impacto. Mas o próprio Fome Zero surge natimorto, enquanto uma parte da frente se faz passar por ruidosa oposição – da área parlamentar à imprensa que pretende "unir as esquerdas" -, apressada em chegar a determinados espaços que gente digna, todavia, se recusa a ocupar. Agora, as corporações estrangeiras se limitam a auferir lucros das empresas por elas desnacionalizadas, obrigando os cofres públicos a "investir" e saldar suas dívidas. O Primeiro Emprego explora os jovens com o mínimo de R$ 240, sendo R$ 200 pagos pelo governo – elevando o prestígio dos acadêmicos petistas, que podem arrotar mais erudição sempre que complicarem suas exposições sobre mais-valia. A Frente recolhe o acordo de Alcântara sem proibir ao USA manter definitivamente qualquer base militar no Brasil, nem mesmo ameaça rever um único acordo lesivo aos interesses nacionais.

Não houve qualquer engano. Nem radicalismos.

Acrescentamos: o povo não se deixou ludibriar. Ele oferece oportunidades enquanto se fortalece lutando. Mas em algum momento, próximo, o povo estará apto a disputar o poder e já nenhuma outra força terá oportunidades.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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