Editorial – O berreiro antipovo da reação

Editorial – O berreiro antipovo da reação

Sábado, 21 de fevereiro, São Joaquim do Monte, agreste pernambucano. Quatro pistoleiros são justiçados pelos camponeses acampados nos latifúndios Jabuticaba e Consulta, após chegarem fortemente armados e agredirem alguns dos acampados. Três camponeses, Aluciano Ferreira dos Santos, Paulo Cursino Alves e Severino Alves da Silva, estão presos acusados de terem matado os pistoleiros.

As provas de que eles eram pistoleiros a soldo do latifundiário estão lá, fotos tiradas pelos camponeses que mostram os assassinos de aluguel portando armas pesadas ostensivamente. Mas as forças empenhadas em criminalizar toda a luta pela terra e eliminar o movimento camponês não querem saber das provas. O monopólio dos meios de comunicação deu nomes e sobrenomes dos "seguranças" mortos, entrevistou suas famílias como se eles fossem honrados trabalhadores. Editoriais dos principais jornais do País vomitaram todo seu ódio ao povo, clamando pela extinção do movimento camponês, que ameaça as "instituições democráticas" (leia-se propriedade privada dos meios de produção). O operário-padrão do FMI, aproveitando o episódio para uma vez mais bajular a direita assanhada, clamou pela punição dos camponeses presos.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, a instância máxima do judiciário brasileiro, Sr. Gilmar Mendes, convocou a imprensa para declarar a ilegalidade de supostos recursos federais passados a organizações ligadas ao MST pelo governo, que estaria financiando a "anarquia" no campo, uma vez que os camponeses é que seriam os "provocadores da violência". Esta declaração seria engraçada se não fosse trágica a situação de milhões de camponeses que padecem as piores condições de trabalho em terras nas quais foram abandonados a título de "assentamento".

É mais terrível ainda quando se recorda que o Sr. Ministro desabou de sua residência em um sábado, há poucos meses, para expedir um habeas corpus para Daniel Dantas, condenado pela própria "justiça" e contra o qual sobejam provas de feitos criminosos de variada ordem.

Tudo isso, atos e palavras, sempre em nome do "Estado democrático de direito", em defesa das "instituições democráticas" e visando deixar claro ao povo a quem se deve servir. O Estado, que sempre fechou os olhos frente aos mais abomináveis crimes de pistolagem do latifúndio, estimulou e praticou massacres contra os camponeses, agora vem através do chefe do judiciário criminalizar trabalhadores que agiram em legítima defesa de suas famílias e suas terras.

Mas por que o Sr. Gilmar não pronunciou nunca nenhuma palavra de condenação ao Estado que já promoveu inúmeros massacres de camponeses pobres durante seus quase dois séculos de existência? Por que nenhuma palavra de condenação aos latifundiários que há décadas recrutam, armam e mantêm pistoleiros, bandos paramilitares sob a fachada de seguranças para aterrorizar e assassinar camponeses que se atrevam a desafiá-los?

No período de um ano — entre novembro de 2007 e novembro de 2008 — 11 camponeses (esses sim, trabalhadores honrados) foram assassinados no Pará, todos executados por grupo de extermínio por terem participado da tomada da Fazenda Forkilha, reprimida pela criminosa operação "Paz no Campo", comandada por Ana Júlia Carepa — PT e desencadeada por pressão da malta latifundiária. Centenas de camponeses estão encarcerados pelo Brasil pelo simples fato de lutarem por um pedaço de terra. E ainda há quem tenha o descaramento de acusar os camponeses de criminosos.

Por certo que as classes dominantes e seus porta-vozes desejam que as massas — empurradas a cada dia para a maior miséria e, consequentemente, em algum momento para a revolução — sigam sendo vítimas dos mais torpes crimes e violências sem revidar, sem defender seus filhos e conquistas, que a violência seja uma mão única praticada sempre contra o povo. Mas, do ponto de vista do povo (entendido como as classes revolucionárias), a autodefesa é mais que um direito, é um dever nas atuais circunstâncias, principalmente quando de todos os lados desaba a maior repressão e perseguição aos pobres em nosso país.

A direção oportunista do MST, por exemplo, ainda que timidamente tenha apoiado os camponeses de São Joaquim do Monte, não explicou porque as famílias estavam acampadas já há 9 anos, em beiras de estradas e dentro de alguns latifúndios sem usufruir da terra. Também não titubeou em lançar aos leões a figura de uma de suas lideranças históricas, José Rainha, que comandou algumas ocupações no Pontal do Paranapanema em fevereiro.

Acontece que nem todo o aparato estatal reforçado ainda pelas organizações oportunistas e revisionistas consegue deter a fúria das massas que se lançam cada vez mais na luta pela manutenção e conquistas de direitos, pela terra, contra a criminalização da pobreza e etc. Assim como nas cidades, o campo verá levantamentos de massas que levarão tudo de roldão na sua justa ira, limpando a terra das ervas daninhas e dos parasitas que há séculos se alimentam do sangue do campesinato brasileiro.

Quanto ao judiciário, assim como todo este velho Estado, um dia não existirá mais, sendo substituído por outro como parte do novo Estado das classes revolucionárias dirigidas pelo proletariado, que destruirão o latifúndio, expulsarão o imperialismo de nosso país, derrotarão a grande burguesia e instaurarão a necessária e desejada Nova Democracia.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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