Editorial – O grande embuste petista

Editorial – O grande embuste petista

Como a pressa e a morosidade se revezam na administração petista e marcam o aproximar dos 100 dias do “ governo popular e democrático ”?

A dinâmica difere sensivelmente quando os interesses do FMI/Banco Mundial requerem intervenção do Planalto e quando, por outro lado, se trata de responder aos reclamos do povo. Para o Fundo e o Banco, tudo é resolvido na primeira hora; para o povo, os governantes dizem que adotarão medidas com muita serenidade. Nesse caso, é melhor não ter pressa.

Mas retardar o atendimento para uns, pode significar o aceleramento para outros e vice-versa. Dependendo da elasticidade da interpretação dialética-petista, retardar e acelerar pode beneficiar e prejudicar o mesmo aspecto da contradição, simultaneamente.

As conclusões do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) já foram apontadas pela direção petista como um dos modelos nos quais os governos deveriam se inspirar. Exemplo: o critério de análise para decretar o salário mínimo. Ao encerrar-se esta edição, o Dieese calculava o valor do salário mínimo necessário em 1.399,10 reais. Por parte do Planalto, o aumento bruto representou 20%, ou um impulso de “ganho real” que atingiu a marca de 1.85%. Enfim, o mínimo saltou para 240 reais — bem entendido, para receber a partir do final de abril, porque trabalhadores não recebem adiantado.

No caso das garantias trabalhistas que atendem pensões e aposentadorias, o governo envia um plano de reforma fiscal e previdenciária amplo, às vezes, imbuído de bons propósitos, até melhores que os da administração anterior (ver em AND 7). Fazendo uso do dialeto tecno-burocrático, vão acumulando problemas para discussão, entupindo o noticiário de TV ou as páginas da grande imprensa com discursos e textos condensados ou prolixos — de qualquer forma herméticos para quem necessita atender às necessidades do estômago. Simultaneamente, outros projetos têm uma tramitação surpreendente. Acontece e ninguém vê, como as votações que vão esvaziando artigos da Constituição, até torná-los totalmente inúteis.

Na questão Alcântara, foi requerida a retirada da pauta. Não há resposta por parte do Planalto, mas o silêncio. Empurra-se com a barriga a matéria, que pode retornar a qualquer dia e hora para votação. Seguro que o Planalto não causará constrangimentos diplomáticos.

Manifesta-se a tendência de não revogar a Medida Provisória que criminaliza a retomada da terra por parte dos camponeses. Nisso não há pressa. Os latifundiários agradecem, e estimulados criam organizações paramilitares e “desburocratizantes” para eliminar camponeses. Coisas como o Primeiro Comando Rural (PCR) ou o Movimento de Defesa da Propriedade em Minas Gerais. Em Goiás ressuscitam a famigerada UDR (União Democrática Ruralista).

“A reforma agrária será pacífica e planejada.” Nisso não há pressa, nem quanto a explicar a maneira de resolvê-la.

O que se diz num dia pode também ser retificado em questão de horas. Se é para o bem do povo…

O monopólio mundial dos meios de comunicação autentica a teoria revisionista da Terceira Via, que se conduz triunfalmente entre o suposto neoliberalismo e a social-democracia, conferindo ao governo do PT a condição de curador dessa orientação diretiva. A imprensa imperialista, de quebra, assegura o uso do epíteto esquerda ao partido e ao próprio sistema de governo que assimilou o PT, com toda a direita que tão bem o caracteriza.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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