Editorial – O pesado jogo do “paz e amor”

Editorial – O pesado jogo do “paz e amor”

Ano gordo para os ardis eleitorais era o 2006.

Prometia.

Para desviar a atenção das massas, tinha as conclusões das incessantes CPIs; mentiras como a quitação da dívida com o FMI e o novo salário mínimo. Tinha astronauta; auto-suficiência da Petrobrás; "nacionalismo" com que trapaceiam o povo na copa do mundo (ainda tem) e, finalmente, as eleições controladas que se beneficiam de todos os demais eventos.

A infindável reprodução de CPIs inocentando tantos acusados já não atraem o eleitor. Impossível disfarçar a avassaladora corrupção. Jamais se viu igual.

O controle da opinião — pelos jornais impressos e pela "vida televisiva" -, é incompetente para esconder: o país se mantém presa fácil do FMI.

E que cesta básica, familiar e mensal, o salário mínimo compra?

Quanto ao piloto, esse não tinha mesmo jeito para astronauta nem para cabo eleitoral.

Auto-suficiência em petróleo, para quem? Países vizinhos têm petróleo importado a preços bem menores que os daqui. Restam o maniqueísta "nós contra eles" da unidade na torcida nacional durante a Copa — que os governos tentam capitalizar como uma vitória sua, se houver -, e a farsa eleitoral propriamente, a tal ponto que dispensa oposição e candidatos.

II

Por enquanto, o Poder mantém o chefe nominal da gerência FMI-PT. Afinal, é um mega-pelego, obediente, figurativo, provoca hilariedade… Tem lá suas utilidades. Justiça seja feita, também é honesto, como todos os que desde abril de 64 vestiram a camisa 10 do governo, porque nenhum deles, até hoje, foi capaz de roubar um centavo do dinheiro que sai daqui destinado ao imperialismo.

Bem, quem o fizesse morreria, já que a C.I.A. não suporta traições por parte dos prepostos.

O Poder precisa das eleições para legalizar o sistema de Estado e de governo vigentes, proteger o cretinismo parlamentar, assegurar a sua democracia — "representativa" para os explorados e toda a liberdade para os exploradores. Sobretudo, necessita manter o jogo do programa único, monopartidista, expressão dos elevados interesses do imperialismo, como os dos associados latifúndio e burguesia burocrática domésticas. De suas frações de classe, faz-se um arranjo para que as divergências entre elas jamais se tornem antagônicas.

A falência do sistema é irreversível, tal como a sua insanidade, porque o capital financeiro mundial se alimenta de lucro que, por sua vez, provoca outra crescente fome de lucros, sucessivamente, no que leva a exploração do trabalho e a opressão nacional às últimas consequências.

Resta aos "dirigentes" coloniais em nosso país acrescentar doses ainda maiores de intoxicação ideológica no povo; semear a intriga, o pânico, a grande ilusão que enaltece (e pratica) o incremento das celas de segurança máxima tipo Guantânamo, Turquia… e a matança. Por isso, declaram abertamente sua preferência pela democracia panóptica: a democracia das penitenciárias.

O povo entende que amanhã será pior.

III

Quanto ao bloco da farsa eleitoral, este tem, como último argumento, que servir ao continuísmo: executar e proteger o aumento da exploração do trabalho, de impostos, do entreguismo, da confusão política, da repressão, do banditismo.

Para o bloco, uma providencial coincidência: quando os pedidos de impeachement se acumularam e superaram os do antecessor Cardoso, foi importada a última novidade: as execuções em massa.

De fato, o desencadear de uma terrível (contra) propaganda de guerra revela que tudo o imperialismo e suas administrações semicoloniais querem resolver pela luta armada. Sempre que os cartéis oportunistas falam de "paz e amor", "colaboração de classes", "união de todo o mundo" (contra o povo trabalhador, certamente), estão descrevendo na realidade seus planos de truculência.

Daí, é preciso criar mais entretenimentos. Problemas fronteiriços, pânicos etc.

Mas as greves e protestos se multiplicam Brasil afora, enquanto os camponeses — na iminência de perecerem pela fome juntamente com seus filhos -, vêm bravamente expropriando o latifúndio.

Nisso a TV imperialista — toda a família The Globe, incluindo as "concorrentes", tão zelosa em explicar o país, claro, de forma absolutamente monologada e sofismada — foge do assunto.

Chega ao fim esse (des) governo marcado de desprezo pelo povo; que mandou aprovar leis anti-trabalhistas; que nada fez para interromper o massacre policial nas favelas e nas penitenciárias; que permitiu a repressão contra o movimento de massas no campo e nas cidades; que se recusou a localizar os corpos dos heróis do Araguaia e de tantos outros; que enviou tropas para o Haiti; arrendou a Amazônia; etc., etc.

É urgente tornar pública a lista de assassinados nas matanças de junho (ultrapassou em 70% os crimes em período "normal") e exigir a imediata punição para os executores e mandantes.

O melhor é levar essa farsa eleitoral a mais profunda repulsa das massas e apoiar, com todo o vigor, as lutas consequentes do nosso povo.

Por outro lado, a única forma de deter o fascismo é a decidida construção — passo a passo -, do poder político das massas.

De resto, tudo é ilusão.

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