Em fevereiro de 2009, no município de São Joaquim do Monte – agreste pernambucano – quatro pistoleiros, após seguidas ameaças de morte aos camponeses ocupantes da fazenda, entraram no acampamento portando armamento pesado, como atestavam as fotografias feitas pelos próprios camponeses acampados. Foram cercados pela massa de camponeses e justiçados numa atitude de legítima defesa. No alvoroço imediato dos monopólios de imprensa, Luiz Inácio e outras figuras de proa do velho Estado, como Gilmar Mendes, juntaram-se à odiosa campanha desencadeada contra aqueles camponeses por punições severas aos trabalhadores que defenderam suas vidas e as de suas famílias. Como sempre, os pistoleiros foram tratados como "humildes funcionários" da fazenda ocupada.
No início de dezembro, entretanto, quando do assassinato com requintes de crueldade de dois camponeses em Buritis, Rondônia, nem o mais tênue sinal de pronunciamento condenando os assassinos foi dado pelo Planalto e adjacências, sequer mesmo apareceu nos noticiários dos grandes monopólios. O mesmo aconteceu quando dos assassinatos do dirigente da LCP do Pará/Tocantins Luis Lopes de Barros este ano e outros 12 camponeses pobres do sul Pará (ao longo de 2008), por grupos de pistoleiros dos latifundiários daquela região, na sequência da operação "Paz no Campo", desencadeada por Ana Júlia Carepa-PT e precedida de verdadeira histeria por parte da revista Veja, Isto É, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, ademais da imprensa local, que deliravam sobre a existência de uma guerrilha.
Pelo contrário, todos os esforços do velho Estado, com Luiz Inácio à testa, tem sido invariavelmente para criminalizar os camponeses em luta pela terra, que desde já estão condenados a pagar as penas de cadeia, agressões, tortura e morte sem o mínimo direito de defesa.
No caso dos assassinatos de Élcio Machado e Gilson Gonçalves em Rondônia, coordenadores da Liga dos Camponeses Pobres naquela região, toda uma sinistra trama envolvendo o Ouvidor Agrário Nacional, Gercino da Silva Filho, a ouvidora estadual, Márcia do Nascimento Pereira, o superintendente do Incra no estado, Luiz Duarte Freitas Junior, o comandante do 7º BPM de Buritis, major Antônio Matias de Alcântara, o latifundiário Dilson Caldato e seus pistoleiros foi tecida para reconhecer e assassinar as lideranças do acampamento Rio Alto, no município de Buritis. Segundo informações da Coordenação da LCP de Rondônia isto se comprova pelo fato de que até a reunião ocorrida na sede do Incra em Porto Velho, em 3 de dezembro, com a presença dessas pessoas e dos dois camponeses assassinados, as lideranças do acampamento não eram conhecidas. Já no dia 5 Élcio e Gilson desapareceram, sendo encontrados mortos às margens de um rio da região, com sinais de tortura como unhas e parte da pele arrancadas e braços partidos.
Além de prestar um serviço ao latifundiário, a reunião produziu uma ata que mostra de maneira inequívoca a que serve a política agrária de Luiz Inácio e seus burocratas, que falam em "Paz no Campo", e comprovou de forma cabal da natureza do Incra como agência do latifúndio. Nela se lê a denúncia falsa do latifundiário, uma série de compromissos feitos pela polícia e pelo Incra, a ameaça clara aos camponeses feita pelo senhor Gercino e a promessa do latifundiário de "orientar seus ‘funcionários’ a não cometer irregularidades" contra os camponeses. Apenas dois dias depois seus "funcionários" cometeram a "irregularidade" de sequestrar, torturar e assassinar dois camponeses, que estavam presentes na reunião, mas não têm nenhuma de suas palavras registradas em ata, uma vez que lá estavam apenas para serem enquadrados e reconhecidos.
A sinistra campanha de criminalização do movimento camponês vem se aprofundando a olhos vistos e o maior responsável por isso é a gerência Luiz Inácio, que deu total liberdade para os latifundiários, conhecidos como ruralistas, empreenderem toda e qualquer atividade, seja ela legal ou ilegal sob a proteção do Estado reacionário, para deter o crescimento do movimento camponês. Tudo com o beneplácito do "independente" poder judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, que na pessoa de seu presidente Gilmar Mendes vem expedindo ordens de "reintegração de posse" para as polícias estaduais, ameaçando com intervenção federal caso os governadores não cumpram as ordens. E o empenho é tal que este impoluto senhor tem estado pessoalmente nas zonas mais conflituosas, como fez em Marabá, no Pará, em 4 de dezembro, ao abrir o mutirão do Conselho Nacional de Justiça para expulsar dezenas de milhares de famílias das áreas ocupadas, em sua imensa maioria terras griladas por notórios latifundiários no estado.
Tudo isso escorado em declarações histéricas dos representantes do latifúndio e matérias no monopólio dos meios de comunicação numa campanha sistemática de ataques ao movimento camponês, taxando-o como quadrilhas, guerrilheiros, vândalos, baderneiros e, o pior, de atentar contra a sagrada e inviolável propriedade privada da terra. Claro está, há muito tempo, que atacar a propriedade privada é pior que matar camponeses, como secularmente e cada dia mais provam os fatos.
Outra prova inequívoca de que se promove a mais intensa perseguição aos camponeses em luta pela terra é o número de mortes no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra – CPT, na gerência Cardoso (os dados começaram a ser coletados em 1997) foram assassinados 204 camponeses, sendo 77 na região amazônica. Já na gerência de Luiz Inácio 222 camponeses foram mortos até agosto de 2009, 121 na Amazônia, o que comprova que o velho Estado sob gerência desta "esquerda" canalha matou mais do que o anterior e 157% mais na região amazônica. Vale lembrar que esses números são subestimados, não incluindo os desaparecidos, sequestrados a mando dos latifundiários ou enterrados em local desconhecido. O latifúndio agradece pelo serviço, senhores!
Porém, aponta a realidade que Luiz Inácio, envolto na campanha eleitoral do ano que vem, quer esconder: na sua gerência houve mais mortes no campo que no de Cardoso. Logo Luiz Inácio, que em 1995, quando da batalha de Santa Elina, em Corumbiara, no sul de Rondônia, fez uso de toda sua demagogia para prometer que, se um dia fosse presidente do Brasil, repartiria a fazenda e a distribuiria aos camponeses, promessa cujo cumprimento sequer aventou-se passados seus 8 anos de estadia na presidência, apesar dos apelos das famílias, que mesmo com profundas sequelas físicas e psicológicas, chegaram até a acampar na praça dos Três Poderes, em Brasília.
A prática de matanças e mesmo genocídios no campo não é novidade alguma, nessa terra infeliz, há séculos. Tampouco é novidade que todos os gerenciamentos de turno o praticam como receita do velho Estado. O que se deve verificar de todo este crescente e abominável ataque ao movimento camponês é que resulta do temor da reação frente ao ascenso de sua organização e suas lutas. Os camponeses, cada vez mais manifestam em fatos a consciência de que o único caminho para se libertarem é o da destruição do latifúndio. Dadas as condições de seu nível de organização e da correlação de forças não permitir realizá-la de um só golpe, se lançam em novas, sucessivas e persistentes tomadas de terras, golpeando o latifúndio parte por parte. É o que o movimento camponês combativo e sem peias e vínculos com os gerentes do velho Estado está anunciando como a revolução agrária. É contra esta bandeira, erguida alta pelos trabalhadores da terra de grande parte do país, com a simpatia de cada vez mais amplos setores do povo brasileiro, que se dirige todo o ódio do velho Estado, que tem no latifúndio um dos pilares de sustentação e reprodução do capitalismo burocrático no Brasil.