Editorial – Os abutres e os humanos de nosso país

Editorial – Os abutres e os humanos de nosso país

As negociações pela Presidência da Câmara, e outras articulações, chegam ao fim, juntamente com o assanhamento dos deputados. Alianças à base de inúmeros interesses confessáveis e de mil inconfessáveis, embora conhecidos, fizeram a alegria da temporada. Uma das vantagens — que a imprensa fascista não divulga — é que o recém-eleito presidente da Câmara será, a qualquer momento, transferido para a vice-Presidência da República, já que José Alencar está gravemente enfermo. Isso sugere novos e promissores acordos. 

Quando um, entre eles, perde as forças e cai, os demais o devoram. Paciência, porque com a pátria fazem pior. Latifundiários e outros parasitas — que asseguram a parte do leão ao imperialismo — não passam de uns submissos e se contentam com as sobras. E se há divergências entre frações, há unanimidade em reconhecer: fingem governar, mas a sua função é a do abutre.

Mensalões, agora, têm a importância de centavos na grande corrupção dos chamados "poderes harmônicos e independentes". Chináglia — que, por enquanto, ocupa o terceiro mais importante cargo na República — já se adiantou: "Ah, corrupção tem no mundo inteiro".

II

Antes do golpe de Estado de 1º de abril de 1964 — perpetrado pelo imperialismo ianque, juntamente com a oligarquia latifundiária e a parte mais servil da burguesia — ter levado a contra-revolução ao poder no Brasil, denúncias sobre um ato de traição nacional afugentavam os acusados do cenário político por uns seis meses, ao menos.

Hoje, em apenas um mês (porque basta um mês!) enxurradas de leis e decretos entreguistas são editadas (ver págs. 4 e 5 nesta edição). Seus autores, grandes representantes do crime em nosso país, transitam orgulhosos por todas as esferas da sociedade, como se a política de subjugação nacional fosse algo peculiar ao país.

Covardes, eles vão levando à falência irreversível a já inoperante democracia burguesa, a começar pelo sistema parlamentar. Em seu lugar, como tradicionalmente acontece, toma assento o fascismo. Isso é triste, mas traz dinheiro. E eles comem dinheiro.

III

No Brasil do trabalho vai tomando corpo o heroísmo dos camponeses. Seus sacrifícios não se restringem à melhoria dos lotes, mas de todas as áreas libertadas do jugo latifundiário e semifeudal. Sua solidariedade não se reduz ao apoio de um vizinho, de um familiar, mas à area que habita, às áreas vizinhas, às que são dirigidas pela Liga dos Camponeses Pobres e às menores — que nem se conhecem — de sul a norte do país.

E operam milagres com suas iniciativas!

A chamada ignorância do camponês na realidade não passa de um produto das relações de exploração, como a meia, a terça etc. É a expressão cultural do saldo que ele nunca tem, da fome que o persegue, da escola que o empurra para baixo; das crenças pérfidas que os pastores de alma lhe trazem caprichosamente para que se conforme com o mundo de exploração.

Pelo contrário, o camponês é um sábio.

Basta que ele expulse o bandido latifundiário para que imediatamente promova a demarcação dos lotes familiares.

Assim, desde o primeiro dia que retoma e liberta o meio de produção chamado terra, o camponês cria um tipo mais elevado de organização social do trabalho e estabelece novos vínculos nas relações de produção. Ele substitui o trabalho forçado da miséria (o trabalho não pago), pelo trabalho para a sua família e para todos que (iguais a ele) vivem por suas próprias mãos. Ele se transforma no mais civilizado e aguerrido defensor do progresso. Como tal, ele nutre grandes simpatias pela Ciência.

Essa condição não é concedida "pelo céu nem é trazida pelas boas intenções". Essa capacidade surge historicamente do desenvolvimento das forças produtivas, quer dizer: o homem, os instrumentos do trabalho, a técnica, os hábitos de trabalho.

Essa capacidade surge da consciência de classe do camponês, que cresce e entende que não vai longe com a pequena propriedade. Então, ele começa a se organizar em brigadas de ajuda mútua. Funda também a Assembléia Popular, o órgão onde ele exerce o seu poder de legislar e executar a um só tempo.

Os que não acreditam no papel dirigente capaz de ser exercido pelas classes trabalhadoras — como o proletariado e o campesinato -, jamais poderão entender a Ciência. Só as massas populares são a força decisiva que impulsiona o verdadeiro desenvolvimento da sociedade.

Por outro lado, é possível sequer comparar a imensa superioridade moral dos camponeses livres com a de um maldito latifundiário e todos os que lhe socorrem?

Com efeito, qual é a moral dos latifúndiários, dos seu lacaios e das demais classes parasitárias e criminosas? Qual é a moral do especialista em prender os explorados; do profissional que processa trabalhadores; do grileiro; do jagunço; do técnico que ilude famílias; do pastor de almas; do jornalista que profere insultos ao povo e promove intrigas contra a Liga e outras organizações independentes dos camponeses e dos operários? A moral deles não tem honra e é feita da lama mais podre!

A propósito: agora, a composição no Congresso (com "sabor de renovação"), na sua maioria se constitui de milionários exibindo um currículum de grandes estragos na economia e na política do país. Além disso, um em cada 7 deputados carrega processos, dizem. São execelentes defensores das corporações transnacionais e das maiores quadrilhas de traidores que nasceram aqui, mas que nunca serão brasileiros.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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