Não é em razão da tomada da terra pelos camponeses pobres que a reação mostra sua face hedionda, pura e terrível. Nunca foi.
Nem por tão pouco o ódio dos poderosos transborda na imprensa dos monopólios, de norte a sul, qualificando os camponeses de vagabundos, de vândalos, de bandidos, de quadrilheiros.
Seria injusto acusar as clas-ses reacionárias, sustentáculos internos do imperialismo, de criminalizarem o movimento camponês apenas por isso.
A injúria produzida pelos "donos" deste país e dos seus empregados de luxo, escravos das trapalhadas que chamam inutilmente de leis, reside na luta bem sucedida dos camponeses pela libertação da sua terra. Isso é o que os inimigos do povo mais temem e odeiam.
A gente trabalhadora das terras brasileiras declarou a necessidade de erradicar o latifúndio. Não admite mais ser inquilina de seu próprio território. Acha também que cada latifundiário deve ser forçado a tornar-se um homem e trabalhar.
Nas mãos dos camponeses que atuam sob uma bandeira consequente, a imensa terra vem sendo dividida imediatamente em lotes. Ali, os camponeses se instalam e, como só podem viver do trabalho, há que florescer o milho, o feijão, o arroz, o mamão, a melancia…
Dali vem o alimento para o povo brasileiro, ao invés do pasto infindável, da especulação, da monocultura de exportação, de minérios arrancados do solo sem autorização do povo e entregues ao imperialismo, a troco de gorjetas.
II
Os camponeses pobres libertam a terra ociosa, antes pertencente a um único proprietário, nem sempre brasileiro. A floresta abatida sem justificativa, sufocada pela seca, pelo desemprego, pela fome, a libertam também.
Então, toda aquela paisagem da desolação, produzida pelas relações semi-feudais nas formas da meia, da terça, do trabalho escravo ou semi-escravo dá lugar à pluralidade de cultivares. Surgem as casas, a escola, a assembléia popular – que é o prédio onde funciona, a um só tempo, o legislativo e o executivo camponês.
No chão libertado não se teme o trabalho, nem a ajuda mútua – uma forma de produção coletiva, sim senhores. Não se teme a escola de novo tipo, todas as crianças são defendidas por todos os adultos e as mulheres respeitadas.
O camponês livre repele as drogas, as superstições e o misticismo, os temores e as promessas infundadas, a desesperança e o individualismo zoológico.
Em cada uma dessas áreas tremula a bandeira da sua causa. Sua organização vira partido que toma partido de fato, que repele os cartéis do oportunismo, tanto quanto o jagunço, quanto o dedo-duro, o pelego, o traficante, o protetor de almas, o burocrata treinado em anunciar promessas e tolices em forma de leis.
E essa terra, senhores grandes proprietários da miséria e do atraso, continuará sendo dividida contra a sua vontade. Porque é preciso viver senhores endinheirados com o trabalho dos outros.
III
No território brasileiro se admite inversões exclusivamente em favor do capital monopolista, a ponto de tornar os fazendeiros produtivos, principalmente os pequenos e médios, em aparentes proprietários sob a vigilância dos órgãos do governo gestores do latifúndio, dos bancos, das empresas estrangeiras que fornecem insumos e determinam os rumos da agricultura no mundo.
O monopólio da terra está de tal forma ligado ao imperialismo que ele conseguiu sofisticar até a semifeudalidade, como de resto a imobilidade econômica nacional.
Na Amazônia, a cessão temporária para investidores – muitos, estrangeiros – em forma de arrendamento de terras públicas sob terminologias tecnocráticas diversas, desvenda o longo discurso de ocultação de interesses para as chamadas reservas florestais, ecológicas, áreas indígenas, sítios minerais etc.
É verdade, a tal reforma agrária só pode ser feita por um governo do povo. Nunca por uma ditadura de latifundiários e imperialistas. Porque só ele poderá restaurar o orçamento agrícola, elaborar planos gerais de produção, construir estradas, obras hidráulicas de grande porte, reflorestar vastas áreas, mecanizar a lavoura, erguer tribunais do povo, consolidar a defesa nacional e proteger os interesses comprovadamente democráticos.
Agora, os camponeses pobres se unem a todo o povo trabalhador (ao proletariado rural e urbano, aos camponeses médios da camada inferior, aos fazendeiros operosos e demais setores oprimidos), inclusive aos empresários e intelectuais verdadeiramente nacionais que não se oponham às forças populares.
Por isso, desde já, os camponeses, levados pela necessidade de sobrevivência, em todos os recantos do país, resolveram se apropriar da terra e transformá-la no chão camponês.
Lavram, plantam e colhem. Transformam as relações de produção, desenvolvem as forças produtivas e estabelecem novas leis do trabalho nessa nossa terra brasileira.