Editorial – Os servis e a libertação nacional

Editorial – Os servis e a libertação nacional

Márcio Aciolly satiriza certas passagens da política mundana (pág. 3), no cotidiano das personalidades espalhadas pelo sistema de governo, cuja moral, hábitos, preocupações— o modo de vida desses gerentes coloniais, enfim — é de uma jequice à toda prova.

Sem dúvidas, do monopólio das comunicações fluem notícias destinadas ao consumo, liberadas para que o público possa se distrair com pitorescas críticas às celebridades que circulam no sistema de governo, ou se convencer de que existe mesmo "liberdade de imprensa" para todos. E não sendo mais possível ocultar a podridão do sistema, a política de subjugação nacional, a aliança entre o semifeudalismo com o capital burocrático, sob as rédeas do imperialismo, fica convencionado caracterizar como corrupção apenas os assaltos aos cofres públicos, de maior ou menor monta — denunciados quando de conveniência, é claro.

O nacionalismo filisteu tem medo de despertar de seu sono conformado exclamando "Cadê o Brasil que estava aqui?". Mas, que Brasil? Aquele que dormia em braço esplêndido, que iluminava o céu do novo mundo e morava no solo que tinha mais flores? Acabou. Fizeram-nos esse favor.

Quando entregaram ao imperialismo os nossos solo, subsolo, espaço aéreo; as condições de vida material e intelectual do povo, enfim, as classes entreguistas e seus capatazes, na ânsia de bem servir ao patrão estrangeiro e aumentar a sua renda feita de comissões e gorjetas, deixaram cair todas as máscaras, o último véu da hipocrisia colonial e semifeudal, com seus componentes clerical, oportunista, revisionista, que cobriam o Brasil verdadeiro, combatente, de ontem e de hoje. Ainda que queiram conservar as ilusões do "nacionalismo neutro", sentimentos mesquinhos, plenos de jactância e banalidades, também a prática da rapina exige que se lance pelo ares a pátria romântica e sem povo, o nacionalismo barroco das classes dominantes (nostálgicas diante da história e servis frente às tarefas de liquidação da opressão nacional), o antigo colaboracionismo sindical, a perspectiva de manter viva a cômoda e covarde democracia indireta, representativa…

Claro, a imprensa, essa escudeira do imperialismo, porta-voz do fascismo, na sua versão oficial ou "alternativa", continua buscando desesperadamente manter em pé o sistema caduco e podre que tudo destrói. No entanto, o que fazer mais para enganar as massas e retardar o momento em que o povo haverá de escorraçar o imperialismo e o último de seus auxiliares para fora de nossas fronteiras?

II

Dois anos de "novo governo" não são suficientes para revelar que os propósitos da contra-revolução instaurada em 1964 progridem imperturbáveis, seja através do gerenciamento militar, seja no período do esplendor oportunista?

Para dominar a opinião popular, os gerentes coloniais fazem desabar sobre a cabeça do povo uma violenta contra-propaganda. Chamam de aumento de emprego o que a terrível e cruel destruição das garantias trabalhistas e salariais desmente como sendo emprego — trabalho estável e salário condigno. Dizem baixar juros no mesmo dia em que eles explodem em altas taxas, como de resto conseguem desmentir índices adulterados e festejados 24 horas antes. Exaltam o crescimento da economia nacional enquanto confessam ser ela conduzida por corporações estrangeiras. Falam de reforma agrária, mas desnacionalizam a terra e deflagram a repressão ao movimento camponês. Usando o linguajar mimado dos sacerdotes, os zelosos gerentes da administração FMI-PT enaltecem uma estranha campanha contra a fome. No entanto, ocultam as próprias razões da fome e incrementam a política que leva o país à ruína. Pregam uma pretensa unidade latino-americana sob a absurda bandeira da "terceira via", visando descaradamente a anexação econômica, política, militar de toda a América proletária ao Estado ianque, angariando votos para garantir futuros mandatos de assessores coloniais na Alca — ou em outras organizações mundiais voltadas para a "gestão de políticas globais" —, com polpuldas e vitalícias pensões.

A corrupção é, portanto, algo fora dos padrões comuns e estranho nesse sistema de estado e de governo semifeudal e semicolonial?

O Brasil verdadeiro está aqui, lutando pela terra, pela emancipação das classes oprimidas, por uma democracia de novo tipo, por uma verdadeira independência nacional. O patriotismo não é produto de um misterioso "espírito nacional", "convicção de raça" e outros conceitos antipopulares e anticientíficos, porém, um dos sentimentos mais profundos dos povos, essencial na consciência das massas, adversário mortal do latifúndio e do colonialismo.

Em nossa época, os autênticos patriotas são as classes que compõem o povo trabalhador e os setores progressistas que lutam contra o imperialismo e o jugo das classes reacionárias internas. Não há patriotismo ou nacionalismo consequente sem um programa de emancipação das classes oprimidas. Não há amor à pátria quando a consentem em poder dos opressores do povo.

O amor ao solo natal não existe verdadeiramente sem a consciência de estabelecer um novo regime social, onde o povo seja o dono inquestionável de seu território, da base material, da vida intelectual de seu país; de tudo o que produz, longe da exploração do homem pelo homem.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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