Claro, é apenas início de governo. Esforços serão intensificados no sentido de recuperar prestígio ou, em épocas de inteligência Big Brother, tornar despercebidas ao menos 90 por cento das situações embaraçosas, como a “Reforma da Previdência”. São incontáveis os argumentos que, divergindo apenas no método, mais francamente, anunciam arrochos.
Que Berzoni tenha culpado categorias de servidores públicos pelo imenso deficit, que haja mais beneficiários que contribuintes; que a pirâ-mide demográfica tenha resolvido ficar de cabeça para baixo; que a Previdência não seja capaz de gerar receitas; que ela é apenas um aspecto da seguridade social, que são permitidas ou não projeções de crescimento (da receita ou do defict) tomando por base taxas anteriores; que as receitas caíram porque se desorganizou o mercado de trabalho; que é necessário diminuir benefícios e o número de beneficiários — tudo isso significa, numa palavra, dar continuidade ao debate de ratos. São formulações repetidas e jamais concluídas publicamente.
Os intelectuais petistas (claro que a dignidade da massa de militantes e de eleitores é intocável) afirmam que os problemas da Previdência decorrem da economia contumaz em combinar desemprego, informalidade (o termo correto é desemprego!) e “baixo crescimento”. Para o bem da Previdência e a felicidade geral do povo, resta a pastoral da retomada do crescimento e de empregos formais, além de combater a sonegação e a corrupção. Ou seja, “o modelo precisa ser alterado” — ao que o governo coligado do PT diz, terminantemente: Não em meu nome! E a falsa oposição tenta animar: Há controvérsias…
Seria falta de respeito perguntar ao menos: 1) Qual é exatamente o método, sendo que para descrevê-lo é necessário explicar em que circunstâncias, qual o instrumento de sua aplicação, que modelo econômico ocupará o lugar do anterior, etc? 2) Como é possível organizar o mercado de trabalho se a anarquia e a concorrência, a corrupção e o gangsterismo são imprescindíveis nesse mesmo mercado? 3) E, com toda modéstia, doutores, o mercado outra coisa não é que esfera do modo de produção capitalista desenvolvendo relações de domínio e subordinação, de exploração, de compra e venda de força de trabalho (ou seja, de carne humana pré-abate) em condições desiguais. 4) O governo da coligação latifundiária, burguesia burocrática, imperialismo, oportunismo, revisionismo (“O importante é ganhar voto”), quando diminuir o número de beneficiários, que outra solução vai apontar senão a de exterminar fisicamente milhões de trabalhadores, mesmo ofertando uma “alternativa” previdenciária, criando a dos pobres e a os ricos? É aí que entra a questão do método? 5) A Previdência é o único pecúlio dos trabalhadores, cujo caixa foi entregue às corporações estrangeiras, o recolhimento (quando não sonegado pelos grandes patrões) foi, e continua sendo desviado. A coligação chamará, um a um, aqueles grande bandidos jamais citados nas CPIs para diminuir “o excesso de passivo” às custas de suas fortunas a de seus herdeiros?
As garantias previdenciárias, em linguagem de gente, inserindo-a ou não no organograma de seguridade social, é parte da luta econômica dos trabalhadores, parte das batalhas por melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida, de garantias trabalhistas, uma luta que os trabalhadores tornarão encarniçada, no momento oportuno. Exigindo que a luta política seja assunto exclusivo dos “representantes” dos trabalhadores, os oportunistas de todos os matizes esforçam-se para que o conteúdo político da luta econômica se atrofie, cabendo apenas aguardarem as vítimas pela felicidade pós-túmulo, obedecer aos sindicatos burocráticos sob orientação da CIOLS — confederação que segue a orientação política do Departamento de Estado do USA, e financiada pela CIA, a qual se filiaram a CUT, pelas mãos do grupo Articulação, agora, “governo do bom senso”, além da Força sindical e a CGT. Nada de estarrecedor, mas o que seria do fascismo, tanto mais quando sofisticado, sem os mega-pelegos, os oportunistas, os revisionistas, uma agremiação e uma “legislação dos pobres”?
O salário (tal como as garantias trabalhistas), desde os anos 30 e 40, foi acolhido pelas cadeias da racionalização da burguesia financeira ao se transformar em “mínimo”, — mediante alienação e repressão brutal. Hoje, as organizações de controle da CIOLS, formando uma infinidade de quadros reacionários, reduzindo as pretensões de emancipação das classes oprimidas às acanhadas liberdades democráticas e ao mito do sufrágio universal, buscam maior eficácia que o fascismo tradicional. Pensa a direção petista que manter um partido, dito de trabalhadores, “progressista” e de “esquerda” — como fizeram a Itália fascista, e os nazistas com o seu Partido dos Trabalhadores Alemães, alastrados por toda a Europa e América, invocando uma “terceira via” e a fetichização dos mais cruéis processos de reprodução e circulação do capital —, é artimanha esquecida pelo proletariado.
A direção do PT não enganou as massas, mas a si mesma. Elegeu-se e chegou ao poder, sozinha, porque esse é o poder dos grandes grupos monopolísticos que dominam o mundo. E agora, o que tem a dizer de racional ao povo? Não há “mídia” nem criatividade capaz de iludir a realidade das massas, tampouco a sua ira.