Os últimos acontecimentos na esfera da economia tanto mundial como nacional e as declarações e articulações na área política têm reforçado a afirmação de que “a política é a expressão concentrada da economia”.
A crise mundial aponta para um desanimador horizonte para os países como o Brasil, exportadores de commodities, cujos preços têm caído em 50%, o que implica em grande desequilíbrio na balança comercial. Concretamente, vendemos mais e recebemos menos. Também a possibilidade de recuperação da economia do USA com a elevação de suas taxas de juros tem estimulado os investidores/especuladores a levarem de volta suas aplicações, provocando uma supervalorização do câmbio.
No cenário interno a repercussão é imediata: a retração da atividade econômica com a retração do PIB e 1,9% apontando para uma recessão com tendência a se prolongar até 2017; a crise chegando aos estados, tendo a frente o Rio Grande do Sul, sem dinheiro para cumprir suas obrigações com o funcionalismo; as greves em cada vez mais setores do serviço público como as universidades públicas e o INSS, e da esfera privada, como em algumas montadoras; o temor da instabilidade gerada por um impeachment e a manutenção dos lucros recordes alimentam o interesse dos bancos e das montadoras, aquinhoadas com um “pequeno” adjutório, em manter Dilma/PT no posto, pois que, apesar de tudo, só tem feito o que lhes apetece e manda o figurino imperialista.
Enquanto Temer faz que vai e não vai com o seu “disse e não disse”, alimentando os especuladores do câmbio e da Bolsa, FHC, “o mais imoral e vende-pátria de todos os tempos”, segundo a edição de nº 5 do AND (outubro de 2002), declara diante de uma plateia de empresários, no começo deste mês, segundo a revista Veja, que “O sistema político brasileiro fracassou. E fomos todos responsáveis”. Um “mea culpa” dividido com um “todos” que lembra um adágio popular segundo, o qual “quem é ruim, não quer ser só”. No dia seis de setembro ele voltou à carga com mais um artigo entregue aos principais veículos do monopólio de comunicação.
Como veremos abaixo, o artigo de Cardoso traz como proposta uma reestruturação do velho Estado no sentido claro de superar a crise do capitalismo burocrático, como é de costume das classes dominantes brasileiras, através de um pacto dentro do Partido Único, senão vejamos: “O fato é que este ziguezague político é prenúncio de que o fracasso atual não é só o de um governo — que inegavelmente tem a responsabilidade maior por ele — mas de um sistema político que mal manejado — por falta de traquejo, cegueira ideológica ou incompetência administrativa (que vem de mandatos anteriores do PT, diga-se) — acabou por se esgotar e carregar consigo as finanças públicas. Disso se trata agora: o país quebrou, a economia vem sendo arrastada para o fundo do poço e a desilusão da sociedade só faz aumentar”.
“Sendo assim, a solução da crise não decorrerá apenas da remoção do obstáculo mais visível a um reordenamento político, simbolizado por quem exerce o Executivo e pelo partido de apoio ao governo, mas da formação de um novo bloco de poder que tenha força suficiente para reconstruir o Estado brasileiro, livrando-o do endividamento crescente e já contratado pelas leis aprovadas. Bloco de poder não é um partido, nem mesmo um conjunto deles, é algo que engloba, além dos partidos, os produtores e os consumidores, os empresários e os assalariados, e que se apoia também nos importantes segmentos burocráticos do Estado, civis e militares.”
“Não é de um golpe que se precisa, dele não se cogita, porque inaceitável. Precisa-se do reconhecimento explícito da situação pré-falimentar em que nos encontramos. Precisa-se de dispositivos constitucionais que regulem a expansão do gasto público, de regras que limitem o endividamento do Estado, assegurando o equilíbrio de longo prazo das contas públicas, em favor do investimento, tanto público como privado. Precisa-se de uma reforma profunda das regras eleitorais e partidárias que, sem grandes complicações, reduza a proliferação de falsos partidos, moralize o financiamento eleitoral e diminua os gastos de campanha. Precisa-se de um pacto federativo que, reformando o sistema tributário, nem sufoque os contribuintes nem deixe os Estados à míngua. Para isso é preciso rever o que a sociedade espera do Estado e o que este, pode e deve fazer efetivamente para melhorar as condições de vida do povo.”
Como expressão de uma direita esclarecida, FHC compreende a gravidade da situação. Porém, não pode propor mais do que um “banho de loja” no apodrecido Estado brasileiro como tentativa de impulsionar o caduco capitalismo burocrático. É o que lhes resta para garantir os privilégios das mesmas classes dominantes deste sistema de exploração e opressão, cuja degeneração está expressa na falência do sistema político desta democracia burocrática e corrupta e na decomposição deste velho Estado genocida.
O povo assiste tudo e, de protesto a protesto, de engano a engano, como fogo de monturo, gesta a sua Revolução.