O clima de plebiscito alimentado principalmente pelo PT no segundo turno da última farsa eleitoral esquentou os ânimos. Além de ressuscitar a múmia PSDB (escolhido para “ir para a final” com Dilma), ainda fez voltar das profundezas a sanha de certos grupos de extrema direita que insistem em acusá-lo de “esquerda”, de “comunista”, dando chancela de tal a quem tem sido a direita mais funcional à sobrevivência da velha ordem de exploração e opressão.
Todos se recordam que a retórica “à esquerda” do oportunismo eleitoreiro se remetia sempre ao medo da “volta ao passado” do governo “da direita”, como se a gerência petista, em contubérnio com o que há de mais podre na política oficial, não representasse exatamente, além da direita, a falência do sistema político brasileiro.
Mesmo assim, parcela considerável de gente que se considera de “esquerda” foi cooptada pelo discurso e passou a defender o voto crítico em Dilma, ou seja, que mesmo com críticas, se votaria no “menos pior”. Outros, pretensamente independentes, acossados pela propaganda do boicote eleitoral, não titubeavam em bradar que pressionariam por um governo à esquerda, e blá, blá, blá.
Nem bem apagaram-se as luzes do circo eleitoral, porém, a recém-reeleita gerente semicolonial passou a fazer, com empenho redobrado, o que fez “melhor” desde que renegou o marxismo que mal havia assumido, servir ao imperialismo, ao latifúndio e à grande burguesia, pois é por procuração dessas classes que ela administra o velho Estado brasileiro. E é por coesionar as frações das classes dominantes e seus grupos políticos em torno de si que Dilma está montando seu ministério de “mudanças”.
Na chamada “reforma ministerial”, a saída melancólica de Mantega se completa com a chegada de um executivo do Bradesco conhecido como especialista em finanças públicas, ou seja, preparado para fazer tudo que o PT disse que o PSDB faria. Mas é mais que isso, representa uma tentativa desesperada da gerência oportunista por conseguir um pacto de todas as forças políticas reacionárias para enfrentar o estouro da crise, negada desde sempre pelos porta-vozes do governo, pelos partidos que o conformam e pelo monopólio de imprensa, que ora arreganha os dentes para anunciá-la.
É a busca por um salvo conduto ante as agências imperialistas, como FMI e Banco Mundial, de que seguirá seguindo à risca seus receituários de sangria da nação e seguirá honrando os compromissos com os monopólios transnacionais.
Kátia Abreu no Ministério da Agricultura trata-se do mesmo caso, além da coroação de uma política agrária que em tudo privilegiou o latifúndio travestido de agronegócio e coordenou a repressão infinita aos camponeses pobres, indígenas, ribeirinhos, remanescentes de quilombolas e outras populações em legítima luta pela terra. Não que os ocupantes anteriores dos ministérios fossem melhores.
E mal perdem por esperar os que ainda pensam poder pressionar a atual gerência para tomar alguma medida à esquerda. Preparem-se para um show de lamúrias contra o “congresso mais conservador desde 1964”, que doravante será a desculpa usada pelos oportunistas pela derrota de qualquer medida popularesca. Somente os tolos e obtusos se surpreendem com Dilma. Outros como os do PT e pecedobê apenas fingem desacordo e desgosto.
A ensalsada “reforma política”, utilizada pelo oportunismo para se defender do rechaço das massivas revoltas populares e como catalisador na sua campanha, não passará de enorme encenação dada a estupidez política, para não dizer enganação, que representa pretender alguma reforma que vá contra os interesses de seus patrocinadores e do virtuoso e impoluto Congresso Nacional. Enquanto encenação, pela complexidade e quantidade de recursos que deverão ser empenhados para os “aliados”, sairá um monstrengo ainda mais reacionário que o atual e podre sistema político, no qual chafurdam todas as siglas como membros do Partido Único.
Já no monopólio dos meios de comunicação e na internet, uns engabelados e outros de má fé ainda se esmeram em elevar sua fé mística no velho Estado, como se apenas dele se possa esperar por mudanças que nunca virão e, em última instância, colocando a culpa no eleitor pelas mazelas que se abatem sobre a população na forma de repressão, perda de direitos, pioramento da qualidade de vida, inflação, arrocho, corrupção etc.
Não, senhores, nenhuma reforma será capaz de satisfazer as reais necessidades das massas populares. E, se ainda estamos longe da destruição deste velho Estado e sua substituição por uma verdadeira democracia, estamos mais perto que em junho de 2013. O caminho da rebelião está mais que claro. E é para conjurá-la que Dilma labora por um pacto reacionário, afirmando ser ela a mais preparada para presidi-lo.