Egito e Líbia: deterioração das condições gerais de vida

Egito e Líbia: deterioração das condições gerais de vida


Egípcios combatem nas ruas após massacre em estádio de futebol

A morte de mais de 75 pessoas em um estádio de futebol no Egito no início de fevereiro acabou descortinando para o mundo uma tragédia muito maior: a deterioração das condições gerais de vida do povo egípcio na sequência dos novos acordos entre as potências imperialistas e as classes dominantes locais para minar as possíveis consequências dos protestos por uma democracia verdadeiramente popular e garantir a perpetuação da rapina dos monopólios no país.

Mais de 40% da população egípcia sobrevive com menos do que o equivalente a U$ 2 por dia. A inflação alcançou os dois dígitos. A taxa oficial de desemprego é de 12%, mas, entre os jovens, o índice real é de pelo menos o dobro.

É algo unânime entre os relatos que chegam do Egito: a situação hoje no país é pior do que antes da queda de Hosni Mubarak, quando já era muito ruim, em todos os sentidos.

Antes de entregarem o gerenciamento do Egito a civis — o que ainda não se sabe ao certo quando vai acontecer e por certo também não é garantia de qualquer espécie de melhoria para o povo — os militares tratam de empenhar ainda mais o país junto ao FMI e o Banco Mundial. Um empréstimo de US$ 3,2 bilhões foi solicitado no dia 16 de janeiro ao FMI, que por essa bagatela para os padrões do capitalismo internacional garantirá, a título de “contrapartidas” para o empréstimo, facilidades para que as transnacionais acirrem a rapina e a exploração no país.

Mesmo a organização “Irmandade Muçulmana”, grupo político-islâmico que controla metade dos assentos do novo Parlamento egípcio — e que é por vezes apontada como algo parecido com a esquerda e que passou décadas vociferando contra o colonialismo ocidental — mesmo este grupo já escancarou sua natureza oportunista ao se reunir reservadamente com representantes do FMI, provavelmente para assinar compromissos em caso de vitória desta facção nas eleições presidenciais anunciadas para maio deste ano no país.

Não obstante os rearranjos das forças retrógradas que se desnovelam a portas fechadas, todos os dias milhares de pessoas desafiam a junta militar do Egito, seja fazendo vigílias nas portas dos tribunais para exigir a libertação de manifestantes presos, verdadeiros presos políticos, seja para realizarem manifestações contra a carestia e a repressão agravadas após a saída de Hosni Mubarak do poder.

Mubarak, antigo lacaio do imperialismo, está sendo julgado pela morte de 800 pessoas em meio à feroz repressão deflagrada no Egito no início de 2011 para tentar frear a insurreição popular que afinal culminou com a sua derrubada do poder. Mas, agora, no momento em que as potências promovem uma reestruturação do capitalismo burocrático egípcio — com a participação ostensiva da espinha daquele velho Estado, o exército —, quem responderá pelos assassinatos cometidos contra um povo que não se rende e radicaliza cada vez mais os seus protestos?

E já surgem sintomas de desacerto nos engendros do imperialismo com a junta militar, que por seu turno dá sinais de que não pretende deixar o poder. Depondo em uma investigação judicial, a ministra egípcia de Cooperação Internacional, Fayza Abul-Naga, única remanescente do gabinete de Hosni Mubarak, acusou o USA de financiar organizações não governamentais para criar um estado de caos prolongado no país:

“A revolução de 25 de janeiro surpreendeu os Estados Unidos e saiu de seu controle quando se transformou em uma revolução popular. Foi então que (Washington) decidiu usar todas as suas ferramentas e recursos para conter a situação”, disse ela, acrescentando que o USA “desviou (a revolta) em uma direção que servisse a seu benefício e promovesse os interesses norte-americanos e também israelenses”.

Líbia: violência e tortura

Na Líbia, onde a eclosão das recentes revoltas populares radicalizadas também completou um ano, relatórios de organizações não-governamentais mostram que milícias ligadas ao Conselho Nacional de Transição mantêm milhares de pessoas encarceradas em prisões secretas e insalubres onde a tortura é prática corrente, contradizendo os novos gerentes do país em seu principal argumento para justificar a guerra interna que moveram contra Muamar Khadafi, o da luta em defesa dos “direitos humanos” e contra a repressão promovida por Khadafi — o principal argumento da “oposição” oportunista líbia que, com o apoio das potências, cavalgou as revoltas populares e rendeu a velha raposa do deserto no gerenciamento dos interesses do imperialismo naquela nação.

Mesmo o títere Conselho Nacional de Transição tendo declarado o final da guerra na Líbia, o conflito está longe do fim. Uma vez quebrado o pacto entre as dezenas de tribos que tinham representação no governo de Khadafi, se desatou uma onda de violência tribal.

No início de fevereiro, numa batalha entre as tribos Zuwuaya e Tubus, na cidade de Kufra, Sudeste da Líbia, resultou em mais de 120 mortos e cerca de 300 feridos.

Há ainda notícias de combates nas ruas de Trípoli, como a relatada no dia 1º de fevereiro, entre milícias das cidades de Misrata e Zintam, que entraram em choque no centro da capital líbia. Note-se que as duas milícias lutaram sob o comando da Otan/CNT para derrubar Khadafi.

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