La Paz – O show eleitoreiro voltou à carga em toda a América Latina e, quase como denominador comum, se oferece como panorama uniforme para a ressurreição do velho caudilhismo militar latino-americano, ao ascenso das aristocracias sindicais e à estréia eleitoreira de ex-guerrilheiros arrependidos. Toda essa fauna responde a uma tática fascista, enquadrada no contexto de uma evidente “guerra de baixa intensidade”.
Novamente o circo eleitoral
Mais uma vez, milhões de cartazes pelas ruas, múltiplos comerciais televisivos com personagens que esboçam sorrisos hipócritas ao carregar crianças maltrapilhas em falso gesto protetor. Sucedem chamadas radiofônicas apregoando repetitivamente as mesmas promessas de mais trabalho e desenvolvimento. Enormes avisos publicitários portam rostos cínicos nas ruas; batalhões de adventícios entoam o nome de seus futuros verdugos, enquanto politicastros — uns mais demagogos ou mafiosos que outros — chegam, erguidos nos ombros de fornidos mercenários, em enormes palanques instalados nas praças das principais cidades da América Latina. Multidões famélicas assistem ao vivo e em cores os supostos redentores em quem depositam vãs esperanças ou de quem receberam, como prebendas baratinhas, algum dinheirinho ou miseráveis sacolas com mantimentos.
Fundamentalmente, essa é a rotina do mesquinho mundo eleitoreiro, a que serviu de entorno ao palavrório neoliberal 1 e a que agora também se presta como contexto do falaz discurso das chamadas “novas esquerdas latinoamericanas”.
E os neoliberais?
Desta vez o show eleitoral incorporou ao marketing político calorosos discursos anti-ianques, aparentes compromissos de defesa das economias nacionais, recuparação dos recursos naturais, promessas de revoluções socialistas ou drásticas mudanças sociais supostamente viáveis com o singelo ato de desenhar marcas de dez centímetros quadrados em uma cédula.
Muito longe estão agora as promessas de modernidade, integração à economia globalizada, redução da burocracia estatal, competitividade e eficácia, palavras que os candidatos de hoje preferem manter à distância, desempoeirando velhos discursos populistas que incluem políticas de subsídios e promessas de dádivas estatais, assim como não amesquinham duras “críticas” a tudo que seja neoliberal.
É que as políticas neoliberais aplicadas contra o vento e a maré nas últimas duas décadas chegaram ao seu topo. O plano neoliberal abarcou a entrega de recursos naturais, a precipitação de quebra de muitas empresas estratégicas estatais, sua posterior venda a preços irrisórios a capitais transnacionais, a descarada consolidação imperialista nos países latino-americanos, dominando os distintos setores econômicos: industrial, mineiro, energético, financeiro, serviços básicos, etc.
Durante este período, os diversas gerências latino-americanas tiveram uma clara consigna: vender a pátria; missão em que alguns “governantes” foram mais eficientes que outros e, como resultado, as paisagens urbanas e rurais se uniformizaram com os logotipos de empresas transnacionais como Telefónica, Ambev, Shell, Mc Donalds, Burger King, Banco Santander, Banco Bilbao Vizcaya e longa lista de transnacionais cuja voracidade, espoliação e depredação não conhecem limites.
Essas políticas , a seu tempo, cumpriram a tarefa de oxigenar o capitalismo burocrático e ainda que o neoliberalismo siga aplicado à atualidade, pelo menos discursivamente isso mudará. Hoje é tempo do discurso demagógico e da pose pseudo-revolucionária, ainda que seja necessário não perder de vista os matizes que se apresentam em cada um dos países latino-americanos.
Brasil: outra vez?
Apesar dos escândalos de corrupção 2, a paradoxal imagem de Luiz Inácio “esquerdista neoliberal” e a aparição de uma concorrente com um discurso “mais radical” que o do atual “presidente” conseguiu prorrogar seu período governamental por outros quatro anos.
Desde que este velho aristocrata sindical assumiu a Presidência não deixa a mão tremer para, de uma só tacada, solidificar os interesses transnacionais embutidos na Petrobrás, por exemplo. Tampouco, para fomentar a privatização do sistema de seguridade social brasileiro e, paralelamente, criar uma enorme clientela com o programa “Fome Zero”, que nem sequer é integralmente financiado pelo governo brasileiro, porque conta com a substancial ajuda do empresariado brasileiro, uma nova forma de assistencialismo privado chamado “Responsabilidade Social Corporativa”.
Desde que este velho aristocrata sindical assumiu a Presidência
não deixa a mão tremer para, de uma só tacada,
solidificar os interesses transnacionais embutidos na Petrobrás, por exemplo
Luiz Inácio, há décadas, havia fomentado a infiltração de agentes do PT no movimento operário brasileiro, mais especificamente na Central Única dos Trabalhadores (CUT) com a consigna fascista de desmobilizar as organizações populares por dentro. Algumas entidades, ao perceber estas artimanhas, se desfiliaram da CUT. Por outro lado, também não teme aplicar medidas repressivas quando o setor mais esclarecido dos trabalhadores protesta contra as medidas econômicas demagógicas.
A reeleição para Lula não foi outra coisa que o prêmio para seu trabalho em prol da grande burguesia e do imperialismo, como demonstrou durante os anos de gestão governamental, uma vez que as eleições são ganhas por aquele que demonstra ser mais conveniente ao USA, segundo a ocasião.
Castro, Chávez e Morales
Nestes tempos de ocaso neoliberal, ressurge a exemplo Fidel Castro, que em meio à arremetida neoliberal dos anos 80 e 90 manteve firme sua postura estatista burocrática. O protagonismo deste decrépito caudilho se deve à sua vasta experiência de fabricar ilusões socialistas e revolucionárias quando mantém vigente o capitalismo burocrático na ilha. Seu talante anti-ianque não é sinônimo de anti-imperilismo, já que transferiu sua condição de bastão de mando soviético para o da União Européia.
Seu principal aluno é de longe o militar golpista venezuelano Hugo Chávez, que além de imitar — claro que com torpeza militar — a verbosidade de Castro, se promove continuamente com frases dignas de anedotas contra George Bush e o imperialismo ianque. Com o imperialismo, Chávez segue fazendo bons negócios por baixo dos panos que, longe de beneficiar o povo venezuelano, apenas consegue manter a sobrevida do capitalismo burocrático, ou seja, os resquícios semifeudais atados a um capitalismo tardio, servil aos interesses imperialistas, com os quais este personagem não tem a mínima intenção de romper.
A fórmula de Chávez no interior da Venezuela consiste em promover o corporativismo. Numa palavra, busca impulsionar a velha fórmula de Mussolini de “unir o Estado, o capital e o trabalho“, cooptar um bom número de dirigentes sindicais e de organizações populares que desmobilizam permanentemente os trabalhadores em sua luta contra o capital. Além disso, esta mesma estrutura exerce um controle fascista das bases de trabalhadores, através de seus agentes infiltrados no sindicalismo e os mobiliza quando tem que enfrentar a facção burguesa opositora com a qual atiçam fortes contradições. É com esta modalidade própria do velho caudilhismo militar latino-americano que Hugo Chávez pretende se fazer reeleger como presidente da Venezuela no fim deste ano.
A conhecida egolatria de Chávez, assim como seus ridículos e medíocres afãs de demonstrar uma erudição livresca, não teriam maior relevância nem mereceriam o menor esforço reflexivo em termos políticos, se é que não foram precisamente esses métodos seu modus operandi com o qual ele pretende ofuscar o povo latino-americano e todas as nações oprimidas do mundo para apoiar a burocratas de seu padrão, como já fez com Evo Morales na Bolívia, Ollanta Humala no Peru e Lopez Obrador no México em suas campanhas eleitorais.
Já Evo Morales, apelando subliminarmente para sua cor de pele, adota posturas culturalistas, influenciadas por correntes amparadas nos ranços acadêmicos ianques para encobrir a dominação classista do povo boliviano que se levanta em volta de sua cúmplice figura. Assim como Fidel e Hugo Chávez, Morales vem denegrindo o conceito de atividade revolucionária, degradando-o ao mero exercício do palavrório.
Suas pantomimas nacionalizadoras e seu duplo discurso ante o poder ianque crescem apreciados com maior nitidez pelo povo boliviano, como um estilo que não bastará para culminar seu período governamental — ainda que lhe tenha permitido alcançar 54 % de votos, uma das votações mais altas da história republicana da Bolívia — em dezembro de 2005.
Cada vez mais se evidencia a desbragada verborragia que pretende anunciar tomadas de campos petrolíferos e impor regras de jogo aparentemente patrióticas. Mas ela murcha em poucos dias, tão logo Morales e seu vice-presidente Álvaro Garcia Linera — o ex-guerrilheiro, agora arrependido —, se enroscam nas transnacionais e lhes explicam que seus interesses não serão afetados em absoluto.
Por um lado, Morales proclama seu suposto rechaço contra a assinatura do Tratado de Livre Comércio — TLC com o USA e, há poucos dias, impôs uma mera declaração de princípios sem regras comerciais claras, um panfleto sem pé nem cabeça, que cunhou de Tratado de Comércio dos Povos — TCP. Passados alguns dias, despende todas as suas energias e de seus colaboradores mais próximos para rogar ao governo ianque o prolongamento da vigência de um tratado de livre comércio em troca do programa de erradicação da coca Atpdea — Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act (na sigla em inglês).
Morales também infiltrou grandes contingentes de pelegos nas organizações populares para desmobilizar e controlar o movimento popular boliviano. De fato, colocou como ministro do trabalho Alex Galvéz, ex-dirigente fabril conhecido por suas manobras “sindicaleiras” que, fazendo ostentação de poder, vem infiltrando diversas organizações populares com seus informantes, entrega resoluções declaratória de licença sindical apenas a seus chegados e objeta a de seus oponentes.
O gerente Morales divide e infiltra sistematicamente a Central Obrera Boliviana, a Central Obrera Departamental de Santa Cruz, a Confederación General de Trabajadores Fabriles de Bolivia, a Federación de Fabriles de La Paz, a Federación de Gremiales de La Paz e ameaça cooptar com dinheiro ou promessas de emprego no governo mais organizações populares.
Quando não existe possibilidade de cooptação, Morales e companhia não titubeiam em reprimir os trabalhadores, estudantes, mineiros e camponeses, como recentemente demonstrou ao reprimir os camponeses cocaleros — setor social do qual emergiu — tão cruentamente que o saldo da repressão foi dois cocaleros assassinados.
Assim como Chávez na Venezuela, Morales mobiliza as organizações populares que infiltrou com seu partido, o Movimento ao Socialismo — MAS, para enfrentar a fração burguesa opositora, especialmente a burguesia opositora do departamento de Santa Cruz. Há pouco inaugurou uma forma sui generis de governar, fomentando um bloqueio pelos camponeses crucenhos de San Julián, na Feira Comercial de Exposición de Santa Cruz de la Sierra, chamada Expocruz, o converte em um presidente “sindicaleiro” que bloqueia a si mesmo.
“Neoliberalismo” descarado
É talvez na Colômbia e no Peru que os discursos “neoliberais” ainda gozam de certa saúde. Assim, o retorno da esquerda caviar, do velho caudilhismo militar e da pose pseudo-revolucionária não foi tão necessário como em outros países da região.
Ocorre que os recentes processos de luta armada que continuam na Colômbia e que se reduzem a uma mínima expressão no Peru minguam o entusiasmo pelo emprego de frases demagogicamente revo lucionárias ou por ressaltar projetos que supostamente mudarão as estruturas destes países.
Inclusive o motivo pelo qual Álvaro Uribe alcançou uma ampla aceitação pelas elites colombianas é porque no econômico não se afastou nem um milímetro das políticas neo-liberais e no político faz prevalecer sua imagem de dureza com a aplicação de medidas que privilegiam o tema da “segurança cidadã” e nacional, que em resumo permite apreciar que sua bandeira de batalha é a promessa de mais exação econômica ao povo e, de quebra, mais repressão.
Da mesma forma, Alan Garcia, no Peru, conhecido genocida e demagogo, que moderou suas poses de líder da esquerda da segunda metade dos anos 80, baseou sua fortaleza, desta vez, na aliança com as oligarquias mais conservadoras do Peru. Promete continuidade no manejo da economia peruana, de perfil evidentemente neoliberal, o que permitiu que se alçasse com a vitória eleitoral.
A fim de simbolizar maior repressão, como segundo homem em sua equipe presi dencial colocou um ex-militar da Marinha de Guerra do Peru, de apelido Gianpietro, conhecido pelos abomináveis genocídios nos marcos da repressão contra do Partido Comunista do Peru e do Exército Popular Revolucionário, durante os anos 80 e 90.
Alan García, proveniente do Partido Aliança Popular Revolucionária Americana – APRA, conta como mecanismo de manipulação de organizações populares como a Central de Trabalhadores do Peru (CTP), que durante muitas décadas foi cooptada pelo mesmo APRA e que hoje a utiliza em seu trabalho de desmobilização das classes trabalhadoras.
Durante o processo eleitoral, seu mais próximo adversário foi o ex-militar do exército branco peruano, Ollanta Humala, acusado de cometer genocídio na base militar de Madre Mia, na selva peruana, contra cidadãos indefesos. Sem o menor embaraço se apresentou como representante das classes despossuídas nas últimas eleições gerais do Peru, no mês de abril.
O triunfo eleitoral de Alan Garcia não teve contundência e os resultados eleitorais deixaram entrever algumas questões como o peso demográfico de Lima — com mais de 8 milhões de habitantes — decisivo, porque esta cidade apoiou majoritariamente Garcia, enquanto Humala recebeu apoio das províncias, em particular de Sierra Sur del Peru — a região mais pobre do país. Resulta que apesar do passar dos anos a contradição entre as classes dominantes limenhas e costenhas peruanas com as serranas e da selva se mantém com perspectivas a agravar-se, dado o histórico caráter asfixiante e monopolístico do centralismo limenho.
No campo popular, recordemos que neste país muitas organizações populares e políticas de classe foram desarticuladas e permanentemente ameaçadas com uma sistemática campanha macartista 3 que acusa qualquer ativista de comunista, ou de existir “rebrote subversivo” ante qualquer mobilização popular.
México e a “outra campanha”
A confrontação eleitoral no México pôs como principais contendentes Felipe Calderón, do partido oficialista Partido de Ação Nacional – PAN e Manuel Lopez Obrador, do Partido da Revolução Democrática – PRD, ambos partidos e personagens saídos da matriz do Partido Revolucionário Institucional – PRI.
Calderón e López Obrador herdaram as velhas manhas do PRI, ou seja, a tendência de corporativizar a sociedade, dominar os sindicatos e toda esfera de significação política e social dentro do México, um com perfil desembaraçadamente pró-ianque — Felipe Calderón — e o outro aderindo ao discurso do momento da “esquerda latino-americana” — López Obrador.
Por isso este último causou simpatia em alguns quadros da esquerda caviar na América Latina, o que despertou interesse por Hugo Chávez, que mantém uma ambição pelo protagonismo, ao ponto de se enfrentar verbalmente com Vicente Fox, que é do PAN, chegando a a maiores problemas, quando ambos os países se dispuseram a retirar suas ligações diplomáticas do México e Venezuela, respectivamente.
A votação entre ambos candidatos teve uma estreita margem. De imediato López Obrador denunciou a fraude eleitoral, solicitando a recontagem dos votos. A autoridade eleitoral referendou o triunfo de Calderón e, até esta data, Obrador e seus seguidores não aceitam a derrota eleitoral.
Enquanto isso, sem participar das eleições, o Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN preferiu se manter à margem e não expressar seu apoio a ninguém, realizando uma série de ações no marco de sua chamada ” a outra campanha”, em que preferiu falar de outros temas, como as consequências da penetração capitalista no México e os efeitos do North America Free Trade Agreement— Nafta 4; mesmo assim, seu deslinde com López Obrador em geral sempre se manifestando de maneira débil.
O rosto da esquerda caviar
A pseudo socialista Michelle Bachelet, ex-Ministra da Defesa Nacional do governo de Ricardo Lagos, a mesma que tira proveito de suas “inclinações socialistas” do passado para, no presente, frear as organizações populares chilenas sem contemplações, à maneira do que já ocorreu com estudantes de educação secundária e com os mapuches em Peñalolén.
Na realidade as políticas econômicas que aplicam no Chile mantém uma continuidade desde o governo do genocida Augusto Pinochet, passando por Alwyn, Frei, Lagos e agora Bachelet. São muito poucas as mudanças de um governo para outro, se é que existem, seja neste, de Democracia Cristã, ou do Partido Para a Democracia.
A essas alturas de sua vida, Bachelet não passa de ser daquele grupo de esquerdas aburguesadas a quem se denomina “esquerda caviar”, que reduz o conteúdo revolucionário à pose e ao cantarolar de canções da nova trova dos anos 70.
O novo e o velho
O retorno do caudilhismo militar e da esquerda caviar, assim como o ascenso inédito de aristocratas sindicais e ex-guerrilheiros arrependidos às maiores magistraturas da América latina marca a pauta da característica dos últimos tempos.
Do caudilhismo militar, com poses de esquerda ou nacionalista na América Latina, há múltiplos casos, mas além das poses todos têm sido sátrapas com diversos matizes do fascismo. Senão, recordemos nomes como Getúlio Vargas, no Brasil; Busch, Barrientos e Torres na Bolívia; Odría e Velasco, no Peru; Juan Domingo Perón, na Argentina; e assim uma longa lista de caudilhos militares que não empregaram o genocídio e o massacre como outros colegas militares, a exemplo de Pinochet, no Chile; Bánzer, na Bolivia; Trujillo, na República Dominicana; Videla e Galtieri, na Argentina, porém coincidem em penetrar na medula das organizações sociais para torná-las base de prebendas e clientelismos.
Nisso, os ex-militantes das esquerdas reformistas latino-americanas saíram de seus refúgios nas organizações não governamentais – ONGs, onde estiveram comodamente instalados em todo período neo-liberal, cobiçosos pelo financiamento europeu para reingressar na arena política nas mãos de algum caudilho sindical ou militar ou, como no caso de Michelle Bachelet, inclusive se fazer presidente da República.
Resulta inédito o ascenso de aristocratas sindicais às altas esferas governamentais, como são os casos de Luiz Inácio, Evo Morales, Álvaro García Linera e pessoas à sua volta, assim como e ex-guerrilheiros arrependidos, entre tupamaros uruguaios que acompanham Tabaré Vasquez no Uruguai. Seus “ancestrais”, como os do M-19 da Colômbia, jamais estiveram tão perto ou tão dentro dos governos quanto agora.
“Nova esquerda latina”
Às margens dos óbvios matizes existentes nos distintos países latino-americanos, marcados pelas peculiaridades dos contextos históricos, sociais e políticos de cada povo, podemos apreciar nas linhas que antecedem, que ante o plano imperialista de reimpulso do capitalismo burocrático em nossos países, através das medidas neoliberais — em alguns penetraram com mais força e rapidez que em outros.
Por isso, o plano imperialista se presta a manter as medidas neoliberais, mas admitindo tênues intervenções estatistas, as mesmas propostas por partidos ou personagens vinculados a partidos reformistas, culturalistas ou nacionalistas, de quem se toleram discursos antiimperialistas e palavrório anti-ianque, enquanto os interesses das facções burguesas e primordialmente do imperialismo se mantêm intactos.
Ou seja, tolerado é o discurso, o show eleitoreiro anti-ianque, a pose pseudo-revolucionária. Há alguns que excedem nas palhaçadas e por isso se tornam mais notórios: Evo Morales e Hugo Chávez. Mesmo assim, esses apóstolos do reformismo e da demagogia se mantêm agarrados à mesma raiz dos desígnios imperia-listas. Merecem, por isso, revisar suas contas nacionais, saber com quem fazem negócios e de quem recebem apoio financeiro para se dar conta de que as coisas se passam dessa maneira.
O palavrório, a demagogia e a postura se localizam em uma velha política imperialista denominada guerra de baixa intensidade, que implica em um deslocamento do trabalho imperialista no plano ideológico e nem tanto no militar. O fato é que, a longo prazo, é muito mais proveitoso para o imperialismo promover uma “primavera esquerdista” na América Latina. Esses governos, para além do pedantismo da falsa esquerda, se alinham com seus interesses. A confusão dai advinda permite que o imperialismo ganhe fôlego antes de as arremetidas populares, ao final neutralizadas pelo assombro que gera a aparição de pseudo esquerdistas, supostos redentores das causas populares.
Em alguns casos os manipuladores saíram do próprio povo,
manejam a linguagem e as visões do povo
A superioridade dos aristocratas sindicais — membros da esquerda caviar, caudilhos populares e ex-guerrilheiros arrependidos para cumprir os desígnios do imperialismo — reside em sua infiltração nas organizações populares, socavando-as por dentro com um permanente trabalho fascista de desmobilização. Junte-se a esse trabalho a manipulação política e ideológica utilizada para conduzir as bases contra a facção burguesa opositora destes governos títeres que cumprem o miserável papel de estafar o povo.
O trabalho de esclarecimento vem se desenvolvendo desde as próprias bases. É uma tarefa complicada, mas necessária, porque em alguns casos os manipuladores saíram do próprio povo, manejam a linguagem e as visões do povo, é gente desclassificada que não mede esforços para realizar seu labor mercenário. Por isso, os trabalhadores classistas e esclarecidos devem apontar suas ações para este novo alvo, talvez mais podre e nauseabundo que o anterior. Esta tarefa é primordial no momento atual.
1 – Neoliberal. Da doutrina do chamado neoliberalismo, uma máscara imperialista que afirma adaptar os princípios da concorrência capitalista da fase mercantil ao período mais degradado do capital monopolista. Impõem a disciplina do monopólio, exercida pelo Estado e garantida pelos exércitos imperialistas, particularmente o do USA. Exerce a privataria (desnacionalizações), a ingerência do capital estrangeiro, a abolição das garantias trabalhistas e previdenciárias, a degeneração da instrução pública e o fascismo como política mundial.2 – Os mais escandalosos casos de corrupção da gerência FMI-PT foram protagonizados por homens do círculo mais próximo a Luiz Inácio: José Dirceu e Antônio Palocci.3 – Utiliza-se a expressão Maccarthismo para referir-se à estigmatização de organizações políticas e populares, acusando-as de conspiração comunista ou de espionagem. O termo deriva do nome do senador ianque Joseph Raymond McCarthy (1908-1957), que, na década de 50, presidiu a comissão senatorial das “atividades anti-americanas” empreendendo terrível perseguição política contra ativistas e organizações democráticas no USA. Uma das pessoas afetadas pelo Comitê de Atividades Anti-americanas, promovido por este personagem foi o famoso ator e diretor de cinema de nacionalidade inglesa Charles Chaplin, expulso do USA depois de uma série de ataques de McCarthy. O casal Rosemberg, por exemplo, foi executado na cadeira elétrica sob a falsa acusação de espionagem.
4 – Acordo de Livre Comércio da América do Norte. Tratado Norte-americano de Livre Comércio, similar ao Alca – Área de Livre Comércio das Américas, em que o Mercosul – Mercado Comum do Cone Sul é a sua porta de entrada.