Eleições na Argentina: e pouca coisa muda no país vizinho

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Eleições na Argentina: e pouca coisa muda no país vizinho

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Pouca coisa muda no cenário argentino com a já esperada reeleição de Cristina Kirchner. Para a oposição mais direitista, Cristina concentra um poder nunca visto depois do regime militar. Para os setores populares, serão mais quatro anos de demagogia e estancamento das lutas populares. O fato é que na Argentina o repúdio à farsa eleitoral aumentou significativamente, sinal de que a popularidade de Cristina, muito inflada após a morte de seu marido Néstor, não é tão grande quanto se pinta.

Muitos argentinos se recusaram a participar da farsa eleitoral, 21,11% dos eleitores não compareceram, 3% votaram em branco e cerca de 1% anularam seu voto nas eleições de 23 de outubro na Argentina em 23, onde o comparecimento às urnas também é obrigatório.

Cristina Fernandez de Kirchner foi reeleita 54% dos votos, a maior porcentagem para um candidato desde o fim do regime militar, em 1983.

A vitória da atual gerência já estava prevista desde agosto, quando foram realizadas as primeiras eleições primárias no país.

Os analistas políticos argentinos afirmam que poucas vezes na história um presidente obteve tanto poder. O Partido Justicialista, ao qual pertence Cristina, elegeu oito dos nove governos estaduais que estavam em disputa neste ano, dentre eles: Buenos Aires, Mendoza, Jujuy, La Pampa, Formosa e Santa Cruz.

A coalizão Frente Para a Vitória, a qual pertence Cristina, também obteve a maioria e o controle da Câmara dos Deputados. Com 129 deputados, o governo garante o quórum necessário para aprovar qualquer medida legislativa. Em 2009, o governo havia perdido a maioria no Congresso. O controle do Senado foi recuperado no ano passado, quando vários senadores passaram a apoiar o governo.

O Peronismo (veja box) domina não somente a Presidência, mas a maioria dos governos estaduais, a câmara dos deputados, senado e a maioria das prefeituras. A direita mais fascista, representada por Mauricio Macri, prefeito da capital Buenos Aires, tem pouca representatividade  nacional. Uma grande parte dos setores populares foi corporativizado pelo Peronismo através de programas focalizados ao estilo “bolsa esmola”. Alguns movimentos populares romperam com o governo e outros nunca o aceitaram, mas o panorama é de aprofundamento populista.

Em seu discurso, logo após a confirmação de que seguia na Presidência com a apuração da maioria das mesas, Cristina Kirchner agradeceu aos argentinos por acreditarem em seu projeto, por “ampliar a democracia” e “aprofundar as mudanças”. Qualquer semelhança com o oportunismo petista no Brasil não terá sido mera coincidência.

Dilma, por telefone, felicitou Cristina pela vitória e afirmou que a reeleição da “companheira” era importante para toda América Latina. O jornal Página12, um dia depois das eleições, salienta que Brasil e Argentina seguem rumo ao terceiro mandato de governos de reformas com inclusão social. Reformas estas que não são vistas na melhoria do nível de vida do povo e na ampliação de seus direitos, mas sim no aumento dos lucros dos banqueiros e industriais. O presidente da União das Indústrias da Argentina, após o resultado, afirmou que os industriais estão contentes com a reeleição de Cristina e que a indústria cresceu 98% nos últimos anos, assim havia que “profundizar el modelo”, uma clara alusão aos privilégios dados pela gerência de Cristina à fração burocrática da grande burguesia argentina.

Entenda a divisão do Peronismo

O Peronismo se baseia na figura, pensamento e propostas do ex-presidente Juan Alberto Dominguez Perón, que governou o país nos anos 40 e 50. O Peronismo propugna um “movimento nacional e popular” contra o “movimento proletário”. Pouco a pouco, o “movimento nacional e popular” se matizou entre vários setores de direita, centro e esquerda, sendo uma amálgama que inclui desde fascistas até militantes da luta armada, como fenômeno político complexo que traspassa a história política do país, dos anos 40 até os dias atuais.

Todavia uma característica sempre foi dominante: a conciliação de classes e o populismo. O Peronismo sempre atuou junto aos setores populares buscando a conciliação e não mudanças radicais. Atualmente, o Peronismo está dividido em três tendências, sendo a oficial representada pelo Partido Justicialista, da presidente Cristina Kirchner. As outras duas tendências dissidentes do governo disputaram as eleições pelas coalizões União Popular e Compromisso Federal.

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