Mais uma vez o monopólio mundial dos meios de comunicação alardeia que no USA começou "o maior espetáculo da Terra": as eleições presidenciais para a Casa Branca.
O vencedor da corrida presidencial herdará o país — e o imperialismo em geral — afundado numa crise econômica de proporções gigantescas, muito mais profunda do que deixa transparecer a "crise das hipotecas", que é apenas a ponta do iceberg da crise de superprodução relativa que nem a política ianque de guerra permanente tem sido capaz de conjurar. Mas mesmo nessa situação, para sobreviver a um declínio inevitável de sua condição hegemônica, os ianques fazem de tudo para sustentar a ofensiva contra-revolucionária relançada com os tormentosos eventos de 11 de setembro de 2001.
Tal crise já se manifestava há vários anos levando ao declínio acelerado a posição alcançada no início dos anos de 1990. O imperialismo ianque se viu frente a exigência de uma nova reação, desta vez, mais agressiva e mais abrangente para o que "vieram a calhar" os atentados de 11 de setembro. Tampouco os seis anos de guerra de rapina contra Afeganistão, Iraque, etc. e constantes ingerências em outros países, puderam conjurar a crise que teima em vir à tona e explodir.
No momento em que as bolsas de valores do mundo todo caem e são necessários discursos e mais discursos inúteis dos principais gerentes do mundo para tentar "acalmar o mercado", revelam-se os podres fundamentos da economia imperialista, que vive da exploração desenfreada dos trabalhadores de seus próprios países, da mais terrível espoliação dos povos das semicolônias e da especulação com dinheiro fictício.
O dólar continua derretendo no mundo, abalando um dos pilares do império. O desemprego no USA volta a bater recordes, atingindo 5% da população economicamente ativa em dezembro. As compras do Natal passado foram as piores dos últimos anos. A tão decantada "locomotiva" do capitalismo entrou em pane, com efeitos maléficos para toda a economia mundial — inclusive a brasileira. Um dos efeitos para os brasileiros será a redução das exportações, principalmente das dependentes commodities.
Os pré-candidatos democratas e republicanos — os principais grupos políticos do establishment norte-americano — se desdobram em oferecer receitas infalíveis para tirar o país da crise e desatolar seu exército no Iraque.
Como a última administração Bush se mostrou um desastre, todos abusam da palavra "mudança" para conquistar os votos dos eleitores, envolvidos nas eleições desde o início do ano, nas chamadas prévias presidenciais, uma particularidade do sistema eleitoral daquele país, propagandeado como a "maior democracia do mundo".
Porém, uma espiada nos perfis dos pré-candidatos e em seus programas de governo revela que a mudança não será tão grande assim. A retórica dos presidenciáveis acaba prevalecendo, num exercício por camuflar seus reais desígnios: obedecer cegamente às corporações do capital financeiro que dominam o governo ianque e boa parte do mundo.
Ainda que seja urgente alguma medida para conter o avanço da crise, os proletários e demais trabalhadores do USA e de todo o mundo não verão nenhuma melhora em suas vidas. É certo e historicamente comprovado que nesses momentos as medidas são sempre de ampliar a exploração dos grandes contingentes de trabalhadores das semicolônias e também, para garantir a segurança do capital financeiro, com grande reforço dos aparatos repressivos visando conter a revolta dos povos que aqui e ali se erguem contra a dominação imperialista.
O que dizer do Iraque
Não se deve esperar nenhuma mudança siginificativa na política externa do USA. A essa altura, seria tolice continuar afirmando que invadiu o Iraque por razões humanitárias, porque este argumento não convence nem o mais alienado dos eleitores do USA.
Porém, o atoleiro em que se vê afundado o ostentado poderio militar ianque preocupa bastante a amplos setores da população do país, que a todo momento vão às ruas exigir que seus filhos voltem para casa. A questão do Iraque, portanto, é o grande nó que precisa ser desfeito pelos pré-candidatos a gerente do maior Estado terrorista do mundo.
Claro está que, apesar dos planos de retirada das tropas presentes em todos os programas de governo, ninguém se atreve a marcar uma data. Isso porque a retirada imediata é impossível para o imperialismo, que precisa desesperadamente controlar as fontes e rotas mundiais do petróleo e outras matérias-primas importantes e não desacelerar a produção do complexo industrial-militar. Além disso, uma saída rápida do Iraque demonstraria ao mundo a dimensão da derrota que o imperialismo já sofreu para a heróica resistência iraquiana, o que seria uma desmoralização comparada à do Vietnã, ou talvez pior.
No início de 2007 a Casa Branca conseguiu aprovação no Congresso, de maioria democrata, para o envio de um reforço de 30 mil soldados para o Iraque. Agora, quando Bush fala da diminuição dos efetivos naquele país, se refere a menos que esses 30 mil.
Como resultado desse reforço, se alardeou que a violência no Iraque tinha diminuído e que o país estava a caminho da "estabilização". Porém, é impossível acreditar em tal afirmativa, uma vez que diariamente são noticiadas ações da resistência, que comporta um amplo e democrático leque de forças políticas. Diante da notória incapacidade de vencer, os ianques já divulgam planos de construção de imensas bases militares no país, onde se manteriam permanentemente, saindo apenas para "intervenções cirúrgicas" nas situações em que a própria força repressiva do governo fantoche não fosse suficiente.
Até o fim de janeiro o exército ianque perdeu 3.942 soldados mortos e mais de 29 mil feridos. Apenas em 2007, 121 soldados da ativa cometeram suicídio (foram mais de 2 mil tentativas) e estima-se que o número de suicídios entre os soldados que já deram baixa seja o de mortos em combate multiplicado por três, além das doenças psicológicas adquiridas na guerra e contaminação pelas munições radioativas utilizadas pelos genocidas ianques.
Entre os iraquianos, chega a 1,2 milhão o número de mortos, além de feridos, refugiados e encarcerados na insana corrida por eliminar a resistência e dominar o país e suas reservas de petróleo. O governo republicano do USA, amparado pelo Congresso de maioria democrata gasta 8 bilhões de dólares mensais para manter a agressão ao Iraque e este gasto, além dos filhos mortos, também alimenta a oposição à guerra.
Por mais que se prometa, o USA tentará permanecer no Iraque enquanto não consigam "estabilizar" o país — o que significa derrotar a resistência — e conseguir um mínimo de legitimidade para os títeres por ele empossados. Do contrário, e essa é a tendência, só sairão como derrotados.
Enfim, não importa quem vença a disputa eleitoral, o novo mega-gerente imperial herdará uma situação extremamente difícil. O início da queda do imperialismo ianque no mundo pode estar sendo desencadeado e o novo presidente, republicano ou democrata, seguramente experimentará situações bem mais amargas que a derrota no Vietnã. Os demais países imperialistas, vendo na queda ianque uma boa oportunidade para substiuí-lo como a superpotência hegemônica, não serão mais tão subservientes e o próprio povo estadunidense não será mais tão tolerante.